história e democracia

Saturday, April 29, 2006



A ARTE
EM ALGUMAS CIVILIZAÇÕES
AO LONGO DOS TEMPOS


Ilhéus, 12 de maio de 2004


APRESENTAÇÃO:




Este trabalho de história da arte foi elaborado por intermédio de pesquisa e estudos realizados em alguns livros didáticos e internet.
Foi utilizada como apoio a biblioteca daUniversidade Estadual de Santa Cruz-UES, onde foram consultados alguns livros constados na bibliografia desta pesquisa. Sendo realizada no período de 05 à 12 de maio de 2004, com o objetivo de esclarecer e fornecer algumas informações sobre a situação da arte de algumas civilizações ao longo da história humana.


Uilson Paulo Rezende Pereira.




Conceito de Pré – História

A pré-história compreende um vasto período que se inicia com o surgimento do homem sobre a face da terra, acerca de 1 milhão de anos, e termina com o aparecimento da escrita.Através dos estudos de fosses, desenhos e objetos encontrados pelos arqueólogos, podemos reconstruir essa época.
Do aparecimento do gênero humano sobre a terra à invenção da escrita, decorreu enorme período de tempo, denominado Pré-História, cujo princípio e fim variam segundo as diversas regiões do globo.
A cronologia mais utilizada para o início da Pré-História considera que os vestígios mais antigos do homem primitivo datam de cerca de 2 000 000 de anos na África, de 1 500 000 anos na Europa e de 15 000 anos na América. Descobertas arqueológicas recentes têm ampliado essas datas para 5 000 000 de anos na África e 40 000 na América.
O fim da Pré-História ocorreu primeiramente em regiões do Oriente Próximo - no Egito e na Mesopotâmia - por volta de 4 000 a.C., com a invenção da escrita ligada ao desenvolvimento das primeiras civilizações. Na América, na África Central e na austrália, o fim da Pré-História se deu com a conquista dessas regiões pelos europeus a partir do século XV, portanto, bem mais tarde.

Surgimento do Homem

De uma condição primitiva, passiva diante da natureza, o homem evoluiu: descobriu o fogo, criou a agricultura, inventou a escrita e passou a viver em grandes grupos organizados por meios de regras e leis.
Durante o período Paleolítico, iniciado provavelmente a cerca de 2 000 000 de anos, os grupos humanos surgiram, evoluíram e se espalharam na superfície terrestre, ligados ao movimento das quatro grandes glaciações da era quaternária.
As glaciações são fases marcadas por tempestades de neve, ventos violentos, frio rigoroso e empobrecimento da cobertura vegetal da terra. Cada glaciação é sucedida por uma fase interglaciária, mais úmida e mais temperada, que se instala progressivamente e na qual a calota de gelo recua em direção ao polo, a floresta reconstitui-se, os rios retomam seu curso e o nível do mar sobe.
A extensão variável dos glaciares condicionou os territórios onde os antepassados do homem podiam circular (planícies, grutas, abrigos, praias, etc) e onde foram encontrados fósseis e indústrias humanas. Nas regiões situadas fora da influência glaciar (zona mediterrânea e África), a cronologia climática baseia-se na alternância de fases úmidas e áridas.
É difícil elaborar-se um quadro satisfatório da evolução humana, visto que não existem registros arqueológicos completos. Atualmente se aceita o seguinte esquema básico de evolução: há uns 7 milhões de anos, de um grupo de driopitecos(também chamados "procônsules) separou-se o grupo dos ramapitecos, que constitui a "ponte para o homem" e sobre os quais existem pouquíssimos achados arqueológicos. A eles sucederam-se quatro estágios de hominídeos: o australopitecídeo, o pitecantropóide, o neandertalense e o moderno.
O estágio australopitecídeo, iniciado talvez há uns dois milhões de anos, inclui achados fósseis que podem ser reunidos em dois grupos: os pequenos australopitecos e os grandes australopitecos ou parantropos.
Os pequenos australopitecos eram bípedes, mediam cerca de 1,20m e pesavam entre 25 e 50quilos, com capacidade craniana média de 500 cm3. Seus primeiros fósseis foram encontrados na garganta de Olduvai, Tanzânia, n África, junto a seixos grosseiramente trabalhados à mão. A postura vertical trazia a vantagem de libertar as mãos para a manipulação; a associação dos movimentos das mãos com os olhos estimulava o cérebro. Assim, o bipedismo constituiu uma base para as habilidades culturais.
Aos australopitecos pequenos sucederam-se os australopitecos grandes ou parantropos, do tamanho de homens moderno, porém com o cérebro de 600 cm3. Foram encontrados em Olduvai e no Saara, na África e em Java, na Indonésia. A passagem do estágio australopitecídeo ao estágio pitecantropóide é um problema que cobre um vazio de achados fósseis de 1,25 milhões de anos. Deste período existem achados de pedra, mas não de ossos.
Depois dos australopitecos, os fósseis encontrados foram classificados como pertencentes ao estágio pitecantropóide. Os primeiros pitecantropos ou "homo erectus" datam de cerca de 500 000 anos e foi descoberta em Java (Indonésia), Pequim (China), Heidelberg (Alemanha), Tenerife (Marrocos, Olduvai (Tanzânia) e na Hungria). Viveram na Segunda fase interglaciária e seu cérebro possuía capacidade craniana média de 1 000 cm3.


Escola Franco – Cantábrica


A importância do livro "Imagens da Pré-História", que temos a honra de prefaciar, muito além, das belas imagens e a primorosa apresentação, reside, principalmente, na originalidade da abordagem proposta pela autora ao estudo da arte rupestre no Brasil.
Desde a descoberta das pinturas rupestres pré-históricas na região franco-cantábrica européia, no fim do século XIX e início do XX, numerosos autores debruçaram-se no estudo, registro e interpretação da arte rupestre. Estudada quase sempre dentro dos parâmetros da historia da arte, foi atrelada à idéias estéticas ocidentais. A falta de contexto no espaço crono-cultural em que se encontravam as manifestações do pensamento humano, fechava, contudo as possibilidades de uma maior e melhor utilização dos registros rupestres para o conhecimento da vida humana na pré-história.


No passado, a atitude em relação à pintura e a estátua eram em geral semelhantes. Não as considerou mera obra de arte, mas objeto que não tinha uma função definida. Essa escola tem como características principais os desenhos de animais em parede e rochas no período pré – história primitiva. Como exemplos podem citar as descobertas em parede de cavernas em rochas na Espanha e no sul da França no século XIX, os arqueólogos recusaram-se inicialmente a acreditar que representações tão animadas, tão naturais e vigorosas de animais pudessem ter sido feitas por homem na era glacial. Aos poucos, porém, os rudimentares apetrechos de ossos e ferro encontrados nessa região tornaram cada vez mais certo que essa imagem de bisões, mamutes ou renas tinham sido gravada ou pintada por homem que caçavam estes animais e, portanto, os conheciam muito bem.
É uma estranha experiência descer nas cavernas, muitas vezes seguidos de corredores baixos e estreitos, mergulharem negrume do ventre da montanha e, subto, ver a lanterna elétrica do guia iluminar a imagem de um touro. Uma Coisa é evidente: ninguém se teria arrastado por tal distância, até as soturnas estranhas da terra, simplesmente para decorar o local tão inacessível. Alem disso, poucas dessas pinturas estão claramente distribuídas pelo teto das cavernas, exeto um punhado delas na caverna de Lascaux.







CIVILIZAÇÃO MEGALÍTICA

INCAS


As fortalezas incas
Os edifícios incas se caracterizam pela monumentalidade e sobriedade. Suas cidades eram verdadeiras fortalezas, construídas com grandes muralhas de pedra. Os incas eram mestres em cortar e unir grandes blocos de pedra; a cidade-fortaleza de Machu Picchu é o exemplo mais espetacular dessa arte. Machu-Picchu foi descoberta em 1911, no topo de uma montanha de 2.400 m de altura, numa região inacessível da cordilheira dos Andes. Outras construções incas importantes ficam em Cuzco e Pisac. Cuzco, a capital do Império, tem uma rígida planificação urbana em forma quadriculada.

Formas de vida
A organização social inca era muito hierarquizada. No topo estava o Inca (filho do Sol), que era o imperador; depois a alta aristocracia, à qual pertenciam os sacerdotes, burocratas e os curacas (cobradores de impostos, chefes locais, juízes e comandantes militares); camadas médias, artesãos e demais militares; e finalmente camponeses e escravos. Os camponeses eram recrutados para lutar no exército, realizar as tarefas da colheita ou trabalhar na construção das cidades, segundo a vontade do Inca. A família patriarcal era a base da sociedade, mas até os casamentos dependiam da autoridade máxima. O sistema penal era rígido e o sistema político extremamente despótico.
O trabalho agrícola
A terra era propriedade do Inca (imperador) e repartida entre seus súditos. As terras reservadas ao Inca e aos sacerdotes eram cultivadas pelos camponeses, que recebiam também terras suficientes para subsistir. A agricultura era a base da economia inca; a ela se dedicavam os habitantes plebeus das aldeias. Baseava-se no cultivo de um cereal, o milho, e um tubérculo, a batata. As técnicas agrícolas eram rudimentares, já que desconheciam o arado. Para semear utilizava um bastão pontiagudo. Os campos eram irrigados por meio de um sistema formado por diques, canais e aquedutos. Utilizava-se como adubo o guano, esterco produzido pelas aves marinhas. Possuíam rebanhos imensos de lhamas e vicunhas, que lhes forneciam lã.
Cultura e religião
O idioma quéchua serviu de instrumento unificador do império inca. Como não tinham escrita, a cultura era transmitida oralmente. Com um conjunto de nós e barbantes coloridos, chamados quipos, os incas desenvolveram um engenhoso sistema de contabilidade. Na matemática, utilizavam o sistema numérico decimal. Os artesãos eram peritos no trabalho com o ouro. Mesmo sem conhecer o torno, alcançaram um bom domínio da cerâmica. Seus vasos tinham complicadas formas geométricas e de animais, ou uma combinação de ambas. A religião inca era uma mistura de culto à natureza (sol, terra, lua, mar e montanhas) e crenças mágicas. Os maiores templos eram dedicados ao Sol (Inti). Realizavam sacrifícios tanto de animais como de humanos.








CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS

As civilizações pré-colombianas extraordinariamente desenvolvidas em termos de sociedade humana e cultura, comparáveis às primeiras civilizações do Egito, da Mesopotâmia, e da China. Como as civilizações antigas do Velho Mundo, essas do Novo Mundo foram caracterizadas por reinos e impérios, grandes monumentos e cidades, além de refinamentos nas artes, metalurgia e escrita; as civilizações antigas das Américas também exibem nas suas histórias padrões cíclicos semelhantes de crescimento e declínio, unidade e desunião.
No Novo Mundo as raízes da civilização repousam no modo de vida agrícola nativo. Os princípios da agricultura podem ser datados vários milênios atrás, logo após o término do Pleistoceno (c. 7000 aC) com as primeiras experimentações, pelos americanos, do cultivo de plantas. A “domesticação” de plantas que pudessem servir de alimento demonstrou ser um processo longo, lento, e não senão muito tardiamente que a existência de aldeias com cultivo permanente como base da subsistência foi alcançada nas latitudes tropicais dos dois continentes.
Aldeias sedentárias de cultivo apareceram na mesoamérica em, aproximadamente, 1500 aC. Milho, feijões, abóboras, pimenta e algodão eram os cultivos mais importantes. Estes aldeãos, desde cedo, teceram panos, fizeram cerâmica e praticaram outras habilidades típicas do Neolítico. Aparentemente, tais aldeias eram economicamente auto-suficientes e politicamente autônomas, com uma ordem social igualitária. Mas bastante depressa depois disto, entre, aproximadamente, 1200 e 900 AC, a construção de grandes pirâmides de barro e plataformas, bem como, a escultura em pedra de proporções monumentais, sinalizou mudanças significativas na ordem social e política simples anterior. Primeiramente estas mudanças apareceram na região da costa meridional do Golfo do que é agora o México; as esculturas, em um estilo chamado Olmeca, presumidamente retratam chefes ou governantes. Destas e de outras indicações arqueológicas foi deduzido que se desenvolveu uma sociedade estruturada em classes e politicamente centralizada. Surgiram, subseqüentemente, outras capitais e grandes cidades nas regiões de vizinhas, que também exibiram um estilo artístico semelhante ao Olmeca. Este horizonte Olmeca (i.e., uma difusão cultural contemporânea, em sítios amplamente se espalhados) representou o primeiro clímax, ou “era de unificação" na história das civilizações mesoamericanas.



OLMECAS

Enquanto outros povos do México ainda permaneciam em uma fase primitiva, os olmecas construíram templos e pirâmides, esculpiram estátuas e altos-relevos em pedra e deram forma a uma religião e uma organização social que marcariam as grandes culturas clássicas da Meso-América. Com o termo olmeca designa-se a cultura de vários povos que ocuparam sucessivamente a úmida zona costeira entre o rio Papaloapan e a lagoa de Términos, onde se situariam posteriormente os estados mexicanos de Veracruz e Tabasco. Nessa região, plana e de chuvas abundantes, teve origem a primeira grande cultura conhecida da área, que permaneceu quase ignorada pelos arqueólogos até as primeiras décadas do século XX, quando começaram a ser estudados sítios arqueológicos como La Venta, Tres Zapotes, San Lorenzo e Cerro de las Mesas, entre outros. A cultura olmeca teve seu maior desenvolvimento no período chamado pré-clássico ou formativo médio, quando os habitantes da região, já sedentário, dominavam as técnicas de cultivo, tinha no milho a base de sua dieta e haviam desenvolvido a tecelagem e a cerâmica. Doze séculos antes da era cristã, surgiram os primeiros grandes centros cerimoniais conhecidos da Meso-América, que revelam a existência de um sistema religioso complexo, uma numerosa população e uma sociedade hierarquizada. San Lorenzo talvez seja o mais antigo centro urbano olmeca conhecido. Em pleno esplendor no século XII a.C., foi provavelmente destruído por volta de 900 a.C. O centro cerimonial de La Venta, que parece ter tido grande importância desde o início do século VIII até sua violenta destruição, perto do ano 400, compõe-se de várias pirâmides, a maior das quais mede cerca de trinta metros de altura. Essas pirâmides rodeiam uma praça quadrada na qual se encontram altares, estrelas monolíticas e colunas com altos-relevos. Os centros de Tres Zapotes e Cerro de las Mesas possuem estrutura semelhante. Em volta de Tres Zapotes acham-se vestígios do que pode ter sido um importante centro urbano.A arte dos olmecas alcançou seu esplendor na escultura. São muito conhecidas as enormes cabeças, de mais de dois metros de altura, esculpidas em blocos de basalto trazidas de pedreiras distantes. A maior dessas cabeças pesa mais de trinta toneladas. São arredondadas, com nariz achatado e boca característica, de amplo lábio superior curvado para baixo. Um motivo constantemente repetido nas esculturas e altos-relevos é o de um deus de traços ao mesmo tempo humanos e felinos. A figura da onça, onipresente na arte olmeca, seria transmitida à mitologia das civilizações meso-americanas posteriores como deus da chuva. Típicas da escultura olmeca são também as pequenas figuras humanas cinzeladas em jade ou modeladas em argila. Em geral assexuadas algumas têm o rosto semelhante ao das grandes cabeças já mencionadas. Em outras, a cabeça está deformada com um característico alargamento do crânio. Foram encontradas em lugares muito distantes e supõe-se por isso que tais obras de arte eram objeto de ativo comércio com outros povos. A cultura olmeca experimentou grande expansão, graças ao comércio e à emigração de colonos olmecas, que se estabeleceram em pontos bastante afastados de seu país de origem. São vestígios da cultura olmeca os petróglifos de Chacaltzingo, no estado mexicano de Morelos, os célebres "dançantes" de Monte Albán (Oaxaca), as pinturas rupestres de Juxtlahuaca (Guerrero) e uma variedade de achados efetuados na costa do Pacífico, até Costa Rica.Embora a civilização olmeca não tenha desaparecido repentinamente, parece que a capacidade inovadora de sua arte se perdeu de forma gradual. Outras culturas meso-americanas, como a maia e a de Monte Albán, adquiriram relevância, pois desenvolveram características próprias e alcançaram um poder de irradiação superior. Apesar disso, a tradição olmeca ainda se manteve em seu país de origem durante vários séculos.Em uma estela tipicamente olmeca encontrada em Tres Zapotes, conseguiu-se decifrar uma data, escrita em caracteres semelhantes aos dos maias, equivalente ao ano 31 a.C. -- anterior, por conseguinte, em três séculos aos primeiros registros de datas conhecidos da cultura maia. É provável, portanto, que o famoso calendário maia seja originário da cultura olmeca. Por outro lado, as estrelas mais tardias do sítio arqueológico de Cerro de las Mesas, dos primeiros séculos da era cristã, já refletem a influência das florescentes culturas de Teotihuacan, maia e zapoteca, então em plena expansão.
Fonte: Encyclopaedia Britannica






Os Maias

Provavelmente a primeira civilização a florescer no hemisfério ocidental, os maias ocuparam a América Central por mais de vinte séculos e atingiram um grau de evolução, no que se refere ao conhecimento de matemática e astronomia, capaz de sobrepujar as culturas européias da mesma época. A cultura maia floresceu entre o início da era cristã e a chegada dos conquistadores espanhóis, no século XVI, num vasto território que abrange Belize, parte da Guatemala e de Honduras e a península de Yucatán, no sul do México. Os maias não formavam um povo único, e sim uma reunião de diferentes grupos étnicos e lingüísticos como os huastecas. Há poucos relatos contemporâneos à conquista espanhola. Os espanhóis, no afã de erradicar o politeísmo e introduzir a fé cristã, destruíram a maioria dos códices maias, manuscritos com representações de cenas e hieróglifos de ambos os lados. As primeiras escavações arqueológicas em ruínas maias foram realizadas no fim do século XVIII, mas as explorações sistemáticas só começaram na década de 1830. Com base nas descobertas iniciais a respeito do sistema de escrita dos maias, revelado no princípio e em meados do século XX, os antropólogos imaginaram que a sociedade maia era pacífica e totalmente devotada a suas atividades religiosas e culturais, em contraste com os impérios indígenas mais guerreiros e sanguinários do México central. Contudo, a decifração completa da escrita hieroglífica maia forneceu um retrato mais verdadeiro da cultura e da sociedade daquele povo. Descobriu-se que muitos dos hieróglifos representavam histórias de soberanos que moviam guerra a cidades rivais e sacrificavam prisioneiros em honra aos deuses.
Arte
No auge da civilização, a arte dos maias era fundamentalmente diferente de todas as outras da região, por ser muito narrativa, barroca e, com freqüência, extremamente exagerada, em comparação com a austeridade de outros estilos. A arquitetura, voltada, sobretudo para o culto religioso, lançava mão de grandes blocos de pedra e caracterizava-se por abóbadas falsas e hieróglifos esculpidos ou pintados como motivos de decoração. As construções que mais simbolizam a arquitetura da civilização são os templos decorados com murais e símbolos esculpidos, e construídos sobre pirâmides, com topos terraceados. Uma escadaria central num dos lados da pirâmide conduzia o sacerdote ao interior do santuário, enquanto o povo permanecia no sopé do monumento. Diante da escadaria, ergue-se, quase sempre, um monólito com a figura de um personagem aparatosamente vestido, rodeado de motivos simbólicos e hieróglifos. Um dos mais importantes monumentos desse tipo está situado nas ruínas de Chichén Itzá. Os palácios, com várias salas e pátios internos, tinham plantas simples e retangulares. Outras construções notáveis foram os observatórios astronômicos e as quadras para a disputa de um jogo de bola cujas regras são pouco conhecidas.A escultura maia era subordinada à arquitetura como elemento decorativo e é também rica fonte de informações sobre a cultura. Em pedra, estuque e madeira, as esculturas decoravam lápides, dintéis, frisos e escadarias. Era ainda freqüente a instalação ao ar livre de estelas com relevos comemorativos, tais como as de Copán e Uaxactún.Na pintura, são importantes os murais multicoloridos, com técnica de afresco, sobre temas religiosos ou históricos. A pintura era também empregada para decorar a cerâmica e ilustrar os códices. Notáveis exemplos de pintura mural foram encontrados em Bonampak (onde destaca-se a magnífica indumentária representada) e em Chichén Itzá. Os afrescos do templo de Cit Chac Cah (estado de Chiapas), possivelmente do século VII, foram executados em estilo realista e cores vivas, nas paredes das três salas de cinco metros de altura, com cenas religiosas e profanas.A cerâmica maia pode ser dividida em dois grupos: os utensílios de cozinha do dia-a-dia, normalmente não-decorados, mas às vezes com formatos geométricos; e oferendas fúnebres. Os vasos destinados a acompanhar o corpo reverenciado eram geralmente pintados ou entalhados com cenas naturalistas ou freqüentemente macabras. Em Uaxactún, encontraram-se estatuetas muito primitivas, todas representando mulheres. Do período Chicanel, são outras estatuetas e vasos de formas simples, vermelhos e negros. Na fase seguinte, dita Tsakol, a cerâmica, mais apurada, apresenta grande diversidade de formas e acentuada estilização (Tikal e Uaxactún). A pedra mais preciosa para os maias era o jade, bastante trabalhado pelos artesãos e modelado principalmente em forma de placas, relevos ou contas de colar. Dos trabalhos em jade, restam alguns exemplos como a placa de Leyden (Tikal) e a do Museu Britânico, de extraordinária perfeição.










O Império Asteca

Os astecas pagavam tributos à tribo tepaneca de Atzcapotzalco. Em 1440, a agressividade dessa tribo causou o surgimento de uma tríplice aliança entre as cidades de Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán, que derrotou os tepanecas e iniciou sua expansão territorial pela zona ocidental do vale do México. Sob o reinado de Montezuma I, o Velho, os astecas tornaram-se um povo temido e vitorioso, ampliando seus domínios em mais de 200 quilômetros. Axayácatl, o sucessor de Montezuma, em 1469, conquistou a cidade de Tlatetolco e o vale de Toluca. O Império ampliou seus limites ao máximo sob o reinado de Ahuízotl, que impôs sua soberania sobre Tehuantepec, Oaxaca e parte da Guatemala. Em 1519, sob o reinado de Montezuma II, houve o primeiro encontro com os conquistadores espanhóis.



CIVILIZAÇÕES ANDINAS


Os Mochicas

Governamentais e construção de império, os peruanos antigos eram muito mais eficientes que os seus contemporâneos mesoamericanos.
A sociedade e a religião dos mochicas, uma das primeiras civilizações andinas, são conhecidas sobretudo pelos relevos e pinturas das numerosas peças de cerâmica ali encontradas. Cultura mochica é a que se desenvolveu nos vales litorâneos do noroeste do Peru, entre o século II a.C. e o século VIII da nossa era. O nome de seu povo provém de Moche, vale próximo à atual cidade de Trujillo, onde foram erguidas grandes construções, como as que ficaram conhecidas como huacas (templos, santuários) do Sol e da Lua. A primeira delas é uma enorme pirâmide escalonada, de base retangular, com mais de quarenta metros de altura, edificada certamente para fins religiosos. O templo da Lua é uma vasta plataforma sobre a qual provavelmente se erguia um palácio ou edifício civil, de que se conservaram fragmentos de parede cobertos de afrescos policromáticos. Conservam-se também vestígios de outras pirâmides e de povoados, caminhos pavimentados, fortificações e grandes obras de irrigação, como aquedutos e canais, em cuja realização os mochicas deram mostra de grande habilidade técnica. Em geral, o material empregado nas construções era o adobe (tijolo cru), adaptado perfeitamente ao clima seco do litoral peruano. A economia mochica baseava-se na agricultura em terrenos irrigados, para o que se utilizava o guano (adubo de excrementos) como fertilizante, e na pesca marítima, que adquiriu importância e certa complexidade técnica, tanto em sua execução como na conservação e transporte do pescado para o interior. Acredita-se que a sociedade mochica fosse de tipo teocrático, rigidamente estratificada, em que uma classe alta, muito reduzida, exercia as funções militar e religiosa. Os deuses sempre aparecem representados com aspecto intimidador. A população, graças ao aperfeiçoamento da agricultura e da pesca, era provavelmente muito numerosa, como demonstram as grandes obras arquitetônicas realizadas sem a ajuda de animais de carga e sem o conhecimento da roda.Hábeis trabalhadores do cobre e de metais preciosos, além de ótimos tecelões, os artesãos mochicas se aperfeiçoaram principalmente na arte da cerâmica, que alcançou entre eles notável adiantamento técnico. Nas incontáveis sepulturas subterrâneas descobertas (e com freqüência saqueadas), foram encontradas centenas de milhares de peças arqueológicas, hoje dispersas por todo o mundo. A cerâmica era muito diversificada: inclui desde vasos habilmente arredondados sem a utilização da roda de oleiro, decorados com desenhos planos em que as figuras são geralmente representadas de perfil, até vasilhas modeladas a mão e trabalhadas como esculturas. Nesses vasos estão representados aspectos da vida cotidiana e episódios de guerra, bem como retratos de pessoas, animais reais ou fantásticos, demônios, motivos vegetais e religiosos. Dada a inexistência da escrita, a civilização mochica só pôde ser estudada em profundidade graças às cenas representadas em sua cerâmica com surpreendente realismo.
Fonte: Encyclopaedia Britannica


CHIMÚS

Entre as civilizações andinas, o império chimú destacou-se pelo notável aperfeiçoamento que alcançou nas técnicas agrícolas e na organização estatal. O império chimú, ou chimor, desenvolveu-se na costa setentrional peruana entre a primeira metade do século XIV e a década de 1460, no denominado período intermediário tardio das civilizações andinas, tendo como centro a cidade de Chanchán, no vale de Moche. Segundo se acredita, os chimús chegaram à região andina pelo mar e se estabeleceram sobre os restos da anterior cultura mochica.Conhecem-se os nomes de nove curacas ou reis chimús. Nancen Pinco, que começou a governar por volta de 1370, iniciou a expansão territorial do império com a conquista da faixa costeira compreendida entre o rio Saña, ao sul de Lambayeque, e Santa. Mais tarde, o rei Minchançaman estendeu o domínio chimú até Piura, ao norte, e Lima, ao sul. Minchançaman foi derrotado pelo inca Pachacútec Inca Yupanqui e por seu filho Túpac Yupanqui. Mesmo assim, as dinastias chimús não se extinguiram sob o domínio inca e sobreviveram até durante algum tempo depois da conquista espanhola.A civilização chimú se baseou essencialmente na economia agrária. Importantes obras hidráulicas permitiram a canalização de águas destinadas à irrigação. A organização da atividade agrícola exigiu um tipo de estrutura social de caráter centralizado e urbano. As cidades, dependentes do curaca de Chanchán, se protegiam com fortificações e se comunicavam por caminhos calçados de pedras que uniam os vales andinos. A capital, um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo, contava com numerosos edifícios e bairros rodeados por muralhas.Característico da cultura chimú foi um tipo de cerâmica moldada e de cor negra. As peças, inspiradas no estilo mochica, não se destacam pela perfeição técnica, parecendo antes responder à necessidade de produção em massa. Entretanto os chimús trabalharam com grande habilidade os tecidos, os mosaicos de conchas e penas e a manufatura de objetos de ouro, prata e cobre. Combinavam esses metais com pedras preciosas para a confecção de jóias e objetos suntuários decorados com figuras de animais.A excessiva dependência do império chimú em relação às obras de canalização precipitou sua queda ante o avanço inca. Os novos dominadores da região andina herdaram dos chimús alguns aspectos de sua organização política, assim como seus progressos nas técnicas agrícolas e de construção.
Fonte: Encyclopaedia Britannica


Cultura Páleo - Brasileira:

CERÂMICA MARAJOARAIlha de Marajó-Pará-PA


A Cerâmica Marajoara é fruto do trabalho dos índios da Ilha de Marajó, de longa tradição, cuja fase mais estudada e conhecida foi o período de 400 a 1400 DC. Marajó é a maior ilha fluvial do mundo, cercada pelos rios Amazonas e Tocantins e pelo Oceano Atlântico e localizada no estado do Pará-PA, região norte do Brasil. O maior acervo de peças de Cerâmica Marajoara encontra-se no Museu Emilio Goeldi em Belém-PA. Há também peças no Museu Nacional no Rio de Janeiro, (Quinta da Boa Vista), no Museu Arqueológico da USP em São Paulo-SP, e no Museu Universitário Prof Oswaldo Rodrigues Cabral ,na cidade de Florianópolis-SC e em museus do exterior - American Museum of Natural History-New York e Museu Barbier-Mueller em Genebra. Um dos maiores responsáveis, atualmente, pela memória e resgate da civilização indígena da ilha de Marajó é Giovanni Gallo, que criou em 1972 e administra o Museu do Marajó , localizado em Cachoeira do Arari. O museu reúne objetos representativos da cultura da região - usos e costumes. Para se chegar à ilha leva-se 3 horas de barco, ou 30 minutos, de avião, partindo-se de Belém, capital paraense. Visando manter a tradição regional, o museólogo criou um ateliê de cerâmica onde são reproduzidas e comercializadas peças copiadas do acervo. O barro é modelado manualmente com a técnica das cobrinhas (roletes), sem o uso do torno de oleiro. Os índios de Marajó faziam peças utilitárias e decorativas. Confeccionavam vasilhas, potes, urnas funerárias, apitos, chocalhos machados, bonecas de criança, cachimbos, estatuetas, porta-veneno para as flechas, tangas (tapa-sexo usado para cobrir as genitália das moças) – talvez as únicas, não só na América mas em todo o mundo, feitas de cerâmica. Os objetos eram zoomorfizados (representação de animais) ou antropomorfizados (forma semelhante ao homem ou parte dele) mas também poderiam misturar as duas formas-zooantropomorfos. Visando aumentar a resistência do barro eram agregadas outras substâncias-minerais ou vegetais: cinzas de cascas de árvores e de ossos, pó de pedra e concha e o cauixi-uma esponja silicosa que recobre a raiz de árvores, permanentemente submersas. As peças eram acromáticas (sem uso de cor na decoração, só a tonalidade do barro queimado) e cromáticas. A coloração era obtida com o uso de engobes (barro em estado líquido) e com pigmentos de origem vegetal. Para o tom vermelho usavam o urucum, para o branco o caulim, para o preto o jenipapo, além do carvão e da fuligem. Depois de queimada, em forno de buraco ou em fogueira a céu aberto, a peça recebia uma espécie de verniz obtido do breu do jutaí, material que propiciava um acabamento lustroso.
Nas urnas funerárias, os índios colocavam os restos de seus mortos-ossos acompanhados de objetos. Externamente, tais urnas eram decoradas com desenhos gráficos relativos às crenças e aos deuses adorados. A decoração da Cerâmica Marajoara era feita com traços gráficos simétricos e harmoniosos, em baixo e alto relevo, entalhes, aplicações e outras técnicas.


Bibliografia:

# Gombrich; A história da Arte, 16ª edição. Editora LTC.
# Vicentino, Cláudio; História Geral, 5ª edição. Editora Scipione
# Milton e Maria Luiza; História Antiga e Medieval, edição revista e atualizada. Editora Scipione
# Adas, Melhem; Noções Básica de Geografia, 3ª edição. Editora Moderna
# http://www.civilizaçoes.ahistoria.com
# http://www.ceramicanorio.com/artepopular/ceramicatapajonica/ceramicatapajonica.htm

Monday, April 24, 2006

RESENHA


Singer, Paul. O CAPITALISMO. Sua evolução, Sua lógica e Sua dinâmica. 13º edição. Capitulo II. A lógica do Capitalismo Editora Moderna, São Paulo 1995.

O autor faz alusão no inicio do texto faz uma definição e uma caracterização sobre o produtor simples de mercadoria e sua relação com o capitalismo, dizendo; isso dá a entender que existe uma espécie de ciclo de produção. Onde produtor não desenvolve capital, ou seja, tudo é basicamente voltado para o próprio consumo.
É importante falar neste contexto, da mais rigorosa crítica ao capitalismo foi feita por Karl Marx, ideólogo alemão que propôs a alternativa socialista para substituir o Capitalismo. Segundo o marxismo, o capitalismo encerra uma contradição fundamental entre o caráter social da produção e o caráter privado da apropriação, que conduz a um antagonismo irredutível entre as duas classes principais da sociedade capitalista: a burguesia e o proletariado (o empresariado e os assalariados).
É citado também citado pelo autor nesse capitulo a definição de capital sendo: uma soma de riqueza, que para se valorizar, tem que sofrer várias mudanças. Isso leva a crer que esse capital assumirá várias funções entre elas: capital/dinheiro passando para capital/mercadoria, formado por meio de produção e de força de trabalho, gerando fontes de lucro mediante a inter-relação de vários elementos formador do capital: mercadoria, força produtiva e meios de produção.
De acordo com leitura realizada acerca do assunto, foi possível compreender que O caráter social da produção se expressa pela divisão técnica do trabalho, organização metódica existente no interior de cada empresa, que impõe aos trabalhadores uma atuação solidária e coordenada. Apesar dessas características da produção, os meios de produção constituem propriedade privada do capitalista.
O produto do trabalho social, portanto, se incorpora a essa propriedade privada. Segundo o marxismo, o que cria valor é a parte do capital investida em força de trabalho, isto é, o capital variável. A diferença entre o capital investido na produção e o valor de venda dos produtos, a mais-valia (lucro), apropriada pelo capitalista, não é outra coisa além de valor criado pelo trabalho.
Diante do exposto foi possível entender de acordo com visão o monopólio é o sistema é responsável dentro do sistema capitalista, acumulação de capital e dos meios de produção. Quanto à origem do lucro, foi possível compreender que o lucro é gerado através da relação do lucro anual de todos os capitais individuais e todos os valores somados desse capital. Essa taxa do lucro é basicamente o pano de fundo do capitalismo. Esse capitalismo é quem domina a produção de cada empresa e seu lucro.

O ESPIRÍTO DA ÉPOCA: RESENHA CRÍTICA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DISCIPLINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
PROFESSOR: CARLOS ALBERTO
ALUNO: UILSON REZENDE




RESENHA





PERROT, Michelle, O Espírito da Época. Ensaios de Ego História, Lisboa, 1989.


Essa obra tem como pano de fundo uma breve reflexão da autora sobre sua vida no período de adolescência até a fase adulta, onde foram narradas várias situações que demonstra as desilusões e as conquistas de uma mulher que lutou arduamente defendendo seus ideais e quebrando barreiras de discriminação e preconceitos, da qual a mulher fora submetida ao longo do tempo.
No período da infância e adolescência, autora a foi educada no meio religioso, fundamentada na religião católica. Michelli Perrot, mostra sua revolta em ao longo do texto reclamando sobre a falta de liberdade e das dificuldades enfrentadas por ela, principalmente no período da guerra. Ela relata também, como a sociedade tradicionalista de Paris discriminava e restringia a função social da mulher. Sendo: dona de casa, servindo apenas para o casamento, para religião e educar os filhos. Em outro momento ela cita com insatisfação a submissão de algumas mulheres que não lutavam para mudar aquela realidade.
Em certo momento do texto a autora continua comentando a respeito do papel da mulher e as imposições atribuídas a ela pela sociedade patriarcal a qual pertencia. Porém, em sua vida familiar, o seu pai outra visão em relação à mulher, de maneira que atribuiu a ela uma total liberdade, para que ela lutasse em busca de seu sucesso.
Segundo, Michelli Perrot, a religião foi à pedra fundamental para que ele descobrisse o caminho da política e da história. Sua tendência marxista era notável e tem um maior destaque quando a autora passa a pertencer o movimento operário em Paris. O seu tema de pesquisa acadêmica, na universidade de Sorbonne, tem como titulo o movimento feminista e a história das mulheres.
Findando o texto, ela faz alguns agradecimentos citando um senhor de nome Ernest Labrousse, seu antigo patrão: “Devo muito aos seus encorajamentos. Sem eles nunca teria, sem dúvida, ousado fazer investigação e sonhado com uma carreira universitária”. Em outro momento ela justifica o principal significado da sua obra dizendo: “Todavia, se desejo contribuir para esta reavaliação do olhar histórico, não quero por agora ser uma especialista e menos ainda erigir a história na especialidade”.

Sunday, April 23, 2006

Ascensão e Queda do Coronelismo

Ascensão e Queda do Coronelismo


Coronéis da República Velha:
O coronelismo foi um sistema de poder político que vicejou na época da República Velha (1889-1930), caracterizado pelo enorme poder concentrado em mãos de um poderoso local, geralmente um grande proprietário, um dono de latifúndio, um fazendeiro ou um senhor de engenho próspero. Ele não só marcou a vida política e eleitoral do Brasil de então como fez por contribuir para a formação de um clima muito próprio, cultural, musical e literário que fez da sua figura um participante ativo do imaginário simbólico nacional. Não só os homens de letras procuraram reproduzir em seus livros o que era viver sob o domínio de um coronel, como os feitos e as façanhas deles foram transmitidas, a
Barões do café, antepassados dos coronéis
Luz de velas, de lamparinas e de lâmpadas, pela história oral do avô para o seu neto, fazendo com que quase todo mundo soubesse de uma "história" ou "causo do coronel". Identificado com o Brasil do passado, agrário, rústico e arcaico, ele ainda sobrevive em certas comarcas e em certos estados do Nordeste brasileiro como o poderoso "mandão local", uma espécie de velho barão feudal que, desconsiderando as razões do tempo e da época, insiste em manter-se vivo e atuante.

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As Origens Remotas do Coronelismo


A Guarda Nacional, o cidadão em armas.
O coronelismo institucional surgiu com a formação da Guarda Nacional, criada em 1831, como resultado da deposição de dom Pedro I, ocorrida em abril daquele ano. Inspirada na instituição francesa, forjada pelos acontecimentos de 1789, a "guarda burguesa" era uma milícia civil que representava o poder armado dos proprietários que passaram a patrulhar as ruas e estradas em substituição às forças tradicionais, derrubadas pelos revolucionários. Para ser integrante dela era preciso, pois ser alguém de posses, que tivesse recursos para assumir os custos com o uniforme e as armas necessárias (200 mil réis de renda anual nas cidades e 100 mil réis no campo).



Coronel, Sinônimo de Poder


Um mocambo, símbolo da pobreza.
O governo da Regência (1831-1842) colocou então os postos militares à venda, podendo então os proprietários e seus próximos adquirir os títulos de tenente, capitão, major, tenente-coronel e coronel da Guarda Nacional (não havia o posto de general, prerrogativa exclusiva do Exército). Assim é que com o tempo, o coronel passou automaticamente a ser visto pelo povo comum como um homem poderoso de quem todos os demais eram dependentes. Configurou-se no Brasil daqueles tempos uma clara distinção social onde os representantes dos dominantes eram identificados pela patente militar (coronel, major, etc.) enquanto que os dominados pelo coronel o eram pela visível identificação genérica de "gente", ou a zoológica "cria" (sou "cria" do coronel fulano).



O feudo de um coronel

Materialmente o mundo dos coronéis era povoado pela escassez de tudo e pela pobreza quase que absoluta quando não miséria dos moradores, o que explica a enorme dependência que todos tinham dele. Ele era um pode - tudo a quem era preciso recorrer nas mais diversas situações, sendo, portanto compreensível que o coronel exigisse daqueles que se qualificavam como votantes, o compromisso da fidelidade. Na ausência quase que absoluta do Estado, era o coronel quem exercia as mais variadas funções, sendo simultaneamente o detentor do poder político, jurídico e legislativo do município que lhe cabia, fazendo com que sua autoridade cobrisse todos os espaços daquela geografia da solidão que era o seu feudo.

A Estrutura do Coronelismo


Um potentado em férias em Poços de Caldas/MG
Os estudiosos dividiram o coronelismo em três tipos; o tribal, o personalista e o colegiado. O tribal parece um patriarca de um clã, cujo poder se espalha por vários municípios e deriva dele pertencer a uma família tradicionalmente poderosa. O personalista deve tudo ao seu carisma pessoal, a ter certos atributos que são só dele e são impossíveis de transmitir por herança, geralmente desaparecendo com sua morte. Por último, aqueles que são mais estáveis, e que dirigem os negócios políticos em comum acordo com outros coronéis sem que haja grandes desavenças entre eles. As bases do seu poder são:
a) A terra. Num país de dimensões agrárias tão vastas, a riqueza dos indivíduos era medida pela extensão da propriedade. Logo era fundamental para a afirmação e continuidade do poder do coronel ele possuir significativas extensões de terra.
b) A família, ou a parentela, como prefere Maria Isaura Pereira de Queiroz, permitia ao coronel por meio de casamentos arranjados ampliar o seu domínio, colocando gente do seu sangue e da sua confiança em todo os escalões do poder municipal e estadual.
c) Os agregados. A imensa quantidade de parentes distantes, compadres, afilhados e demais protegidos do coronel, que ajudavam a estender o poder dele para fora da família núcleo (a gente do seu próprio sangue), permitindo que sua autoridade se espalhasse para regiões bem mais distantes do que a do seu feudo.






A Política do Coronelismo


O padre, o militar e o coronel, os três poderes do Brasil arcaico.
Os republicanos de 1889 ficaram surpreendidos pelo vigor do sistema coronelístico. Apesar de ampliarem os direitos de voto, assegurando aos alfabetizados poderem tornar-se eleitores, rapidamente verificaram que a universalização do sufrágio não redundou no enfraquecimento dos coronéis. Ao contrário, como os cidadãos votantes eram poucos (talvez os que soubessem ler e escrever, um século atrás, mal atingisse os 20% da população inteira), facilmente eles foram conduzidos pelos apaniguados dos mandões, especialmente no interior do País, a comportarem-se com docilidade. O voto de cabresto foi decorrência disso. O eleitor trocava o seu voto por um favor. Este poderia ser um bem material (sapatos, roupas, chapéus, etc.) ou algum tipo de obséquio (atendimento médico, remédios, verba para enterro, consulta médica, matrícula em escola, bolsa de estudos, etc.). Esta placidez obediente dos que tinha direito a votar fazia com que eles fosse integrantes do curral eleitoral. Ao comportarem-se nas eleições tais como bois mansos eram inevitável que os considerassem como gente de segunda classe, incapaz de reagir ao despotismo do manda-chuva.
Fraudes e Folclore
Os coronéis, enfim, fizeram o processo eleitoral republicano funcionar a favor deles, colaborando para isso o fato do desaparecimento do poder unitário (representado pelo imperador), em detrimento dos poderes regionais e, em seguida, dos municipais. Para ampliar ainda mais o seu mando tornaram-se comuns práticas ilícitas de manipulação eleitoral, tais como o eleitor-peregrino (o sujeito que votava diversas vezes) ou o eleitor-fantasma (não davam baixa dos mortos das listas eleitorais, permitindo que alguém votasse em nome deles, fazendo deles "defuntos cívicos" que levantavam da tumba para irem até as juntas eleitorais), e mais toda uma série de trapaças outras que pertencem ao riquíssimo folclore político brasileiro.




Mecanismos de Poder

Para chegar ao povo votante, o coronel ativava o cabo eleitoral, alguém prestativo do seu meio que, em troca de favores, assumia o papel de porta-voz das inclinações eleitorais do coronel. Em outros acasos, convocava algum líder local próximo para que também arrebanhasse os votos para o seu candidato. O resultado das eleições quase sempre passava pelo crivo de um seu representante no conselho eleitoral, alguém que, em seu nome, vigiava para que o resultado final satisfizesse os partidários do coronel. Observe-se que a não existência do voto secreto (adotado após a Revolução de 1930), facilitava o controle sobre o eleitor, aumentando-lhe o constrangimento. A fraude, portanto, imperava na época da República Velha, ela era, por assim dizer, a expressão acabada do mandonismo dos coronéis, demonstrativo da impotência e das limitações da democracia brasileira. Se nas cidades ainda funcionavam os empolgantes comícios, o universo político do coronel movia-se pelo cochicho, pelo conchavo e pelo cambalacho.
Instrumentos de Coerção: o Pistoleiro e o Jagunço



O rebenque, instrumento de "paz social"

O coronelismo nunca foi um sistema pacífico. A própria natureza do tipo de dominação que ele exercitava implicava na adoção de métodos coercitivos, ameaçadores, quando não criminosos. As linhas da violência dirigiam-se em dois sentidos, no horizontal quando o coronel travava uma disputa qualquer com um outro rival do seu mesmo porte, e no vertical, quando ele desejava impingir alguma coisa aos de baixo ou que se negavam a aceitar a sua guarda. Para o exercício efetivo disso, ele contava com dois elementos básicos: o pistoleiro contratado para atuar a seu serviço, geralmente um capanga da sua confiança, ou um grupo de jagunços, um bando de caboclos dedicados ao ofício das armas que lhe serviam como uma milícia privada, vivendo à sombra da sua autoridade. Inúmera vez, como mostrou Guimarães Rosa (Grande Sertões: veredas, 1956) o mataréu brasileiro foi ensangüentado pela batalhas travadas por esses exércitos de jagunços, atraídos pela aventura, pelos favores e pela macheza do coronel que os comandava. Porque, como assegurou o seu personagem Riobaldo, o sertão era tão bravo que "Deus mesmo, quando vier, que venha armado!”.

O Apogeu do Coronelismo

Senador Pinheiro Machado, morto em 1915.
Ao legar ao seu sucessor um mecanismo político mais estável do que aquele que herdara o presidente Campos Salles fundou um sistema de troca de favores que, partindo do executivo federal, espalhou-se pelo país inteiro. De certa forma aquilo que se convencionou chamar de política dos governadores, implementada em 1902, lembra, na sua simplicidade, o toma lá, dá cá, praticado nos antigos reinos medievais. Naqueles tempos, os monarcas se sustentavam com o apoio dos condes, estes dos barões, e assim sucessivamente até chegar-se ao vilão ou ao pároco da aldeia, envolvendo todos eles num sistema mútuo de fidelidades e compromissos. O presidente da república exigia que os governadores lhes enviassem bancadas concordes com a sua política. Em troca, ele sustentava as propostas regionais dos governadores (inclusive com apoio militar se fosse preciso). Este por sua volta articulava-se com os coronéis do seu estado, fazendo com que também eles mandassem para a assembléia legislativa na capital do estado, deputados acertados com os interesses políticos do governador.
A Comissão de Verificação

Campos Salles (1898-1902)
A fim de garantir-se do cumprimento dessa política, o presidente fez com que o Congresso por ele controlado instituísse a Comissão de Verificação de Poderes (dizia-se que por sugestão do senador gaúcho Pinheiro Machado), formada por cinco parlamentares com a função de apurar se os deputados eleitos nos estados realmente estavam comprometidos em vir dar o seu apoio ao presidente. Para a comissão, não havia maior significado o parlamentar ter recebido ou não os sufrágios necessários, mas unicamente se ele estava disposto a cumprir com o acertado entre o governador do seu estado e o presidente da república. Isso é que explica porque o governador da Bahia, José Bezerra, ter dito, ao redor de 1920, "ser eleito é uma coisa, ser reconhecido é outra". Frase que é uma variação daquela outra atribuída a Pinheiro Machado, que assegurou a um oposicionista "eleito o senhor foi, o que não vai ser é diplomado."




Um toma lá, dá cá


O centralismo de Vargas opôs-se ao coronelismo
Um enorme mecanismo de favores e contra favores, principiando nas fraldas de qualquer município brasileiro estendia-se assim, passando antes pelo palácio do governador, até chegar ao centro do poder no Palácio da Guanabara do Rio de Janeiro. Durante quase um trintênio esse sistema funcionou a contento. Pecava-se contra a educação democrática do povo, ao viciar completamente os resultados eleitorais, trouxe pelo menos certa estabilidade invejável à turbulenta e instável crônica política brasileira. Mesmo quando ele foi sacudido pelas várias revoltas promovidas pelo Movimento Tenentista (em 1922, 1924 e 1926), ele mostrou-se hábil em sobreviver.

A Crise do Coronelismo


Osvaldo Aranha, lutou contra os coronéis gaúchos em 1923.
A Guerra da Princesa, travada por João Pessoa, governador da Paraíba, contra um poderoso coronel do sertão chamado José Pereira, o Zé Pereira, desde que tomara posse em outubro de 1928, resumiu e antecipou o que iria ocorrer no Brasil a partir do sucesso da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas. Centralizador e autoritário, durante os quinze anos seguintes Vargas praticou medidas para o irreversível esvaziamento do poder dos coronéis. O voto secreto e o voto feminino (inicialmente somente de funcionárias públicas) foram dois dos instrumentos utilizados para isso. Valorizando o sufrágio urbano, aumentando-lhe a presença eleitoral, ele contrapôs o poder das novas forças emergentes (operários, funcionárias) ao dos potentados rurais. Com a adoção dos interventores e dos intendentes, agente do governo central enviados para administrar os estados e os municípios, foi inevitável o encolhimento da autoridade local. Portanto, foi fundamental para que o coronelismo se eclipsasse a emergência de um executivo federal forte e cada vez mais poderoso. Situação que se reforçou ainda mais com a proclamação da ditadura do Estado Novo em novembro de 1937. A industrialização, o crescimento demográfico, a imigração para as cidades, características do Brasil pós-1945, só fizeram por acelerar ainda mais o declínio do coronelismo.

A Revivência do Coronelismo:

O general Costa e Silva articulou-se com o coronelismo após o Golpe Militar de 1964, que derrubou a república populista de João Goulart, ocorreu um estranho e contraditório fenômeno. Os militares que ascenderam ao comando do país naquela ocasião, com o objetivo de implantar o seu Projeto do Brasil Grande (a ambição de tornar o país uma potência de médio porte), e, ao mesmo tempo, neutralizarem a força das massas urbanas que lhes eram hostis, trataram de aliar-se, especialmente no Nordeste, com os remanescentes do coronelismo. Desta forma, no Ceará, no Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia, ao recorrerem aos casuísmos eleitorais, ajudaram e fortaleceram as velhas oligarquias. Os generais de 1964, ao contrário dos tenentes de 1930, promoveram uma atualização do poder dos coronéis: o neocoronelismo. Unindo uma proposta de modernização da economia com as esdrúxulas práticas que remontavam ao Brasil arcaico, o país conheceu entre 1969-1979 um impressionante desenvolvimento econômico, simultâneo ao quase total fechamento político (o mais sufocante que o país conheceu desde os tempos do Estado Novo, entre 1937-1945).

O Carlismo:

Antônio Carlos Magalhães
Com a fim do regime militar, marcado pela eleição indireta de Tancredo Neves à presidência da república em 1984, um por um os coronéis foram sendo afastados da política, derrotados pelas urnas da democracia recém-reconquistada. Na Bahia, porém, isso não sucedeu. O cacique político local, o ex-prefeito e governador Antônio Carlos Magalhães (que fizera sua carreira política aplicando todos os truques perversos do coronelismo ao tempo em que servia como sustentáculo civil local ao regime militar), mudou de lado. Em 1984, num lance ousado e surpreendente, ACM rompeu com os militares e aderiu à campanha das "diretas já", que culminou no afastamento dos generais do poder. Talvez por ele for um caso raro de coronelismo urbano (grande parte da sua fortuna e dos que a ele estão ligados está associada aos meios de comunicação e aos negócios industriais e imobiliários), ele mostrou-se mais ágil em perceber o significado das mudanças que se operaram naquela época. Representando a versão mais atualizada do coronelismo, ele de imediato rearticulou-se com a nova elite civil que substituiu os militares em Brasília.

O Condestável da Nova República:

Pelourinho, recuperado graças ao prestígio de ACM
Esta posição, esta virada do carlismo em favor da redemocratização, se bem que oportunista, granjeou a ele enorme estima e respeito por parte considerável da população, permitindo-lhe, em seguida à formação da Nova República, que fosse promovido às antecâmaras do poder como o condestável, o homem-forte dos sucessivos presidentes que desde então se sucederam (nos 15 anos seguintes, ACM foi ministro das comunicações no governo de José Sarney, eminência parda no governo do presidente Fernando Collor de Mello e o principal avalista do pacto do PFL-PSDB, que garantiu por duas vezes a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso). Ele sempre teve consciência de que o seu prestígio local devia-se ao apoio escancarado que ele dava a quem estivesse no comando executivo da União. Desta forma, se num primeiro momento trocou a sua fidelidade por favores prestados ao Estado da Bahia (pólo petroquímico de Camaçari, verba para a recuperação do Pelourinho, a montadora da Ford), os analistas prevêem que o rompimento dele com as fontes das verbas federais terminará por secar, no futuro, a influência dele junto aos seus conterrâneos.

Coronelismo e Literatura:



Como não poderia deixar de ser a literatura brasileira foi pródiga neste século em abrigar as façanhas e malvadezas dos coronéis. O mundo rural, violento e rústico, onde eles se moviam, mereceu copiosas descrições, e os "causos" em que eles foram participantes ativos viraram contos ou histórias dos romancistas e dos roteiristas das telenovelas brasileiras, quando não os próprios coronéis tornaram-se personagens centrais da obra (como no caso de São Bernardo de Graciliano Ramos, ou o do Coronel e o lobisomem de José Cândido de Carvalho). Notáveis descrições do cenário em que eles viveram e lutaram encontram-se no Os Sertões de Euclides da Cunha, e no já citado Grande Sertões: Veredas de Guimarães Rosa. Numa situação onde o autor assume a identidade do coronel para registrar-lhe as impressões, encontra-se nas Memórias do coronel Falcão, de Aureliano Figueiredo Pinto. Jorge Amado, o escritor brasileiro de maior expressão internacional, abordou o coronelismo em todas as suas facetas nos seus romances do chamado ciclo do cacau (São Jorge de Ilhéus, Cacau, e na popularíssima Gabriela cravo e canela).
Responsável em transcrever à Pesquisa : Uillson Rezende

Bibliografia:

· Beiguelman, Paula - Formação política do Brasil (Pioneira,SP., 1967, 2 vols.)
· Bruno, Ernani Silva - História e paisagens do Brasil (Cultrix, SP.1959, 10 vols.)
· Carone, Edgar - A República Velha: evolução política (Difel, SP., 1971)
· Casalecchi, José Ênio - O partido republicano paulista : 1889-1926 (Brasiliense, SP., 1987)
· Eul-Soo Pang - Coronelismo e oligarquias (Civilização Brasileira, RJ., 1979)
· Freyre, Gilberto- Sobrados e Mocambos (José Olympio, RJ, 1985, 7ª ed.)
· Queiróz, Maria Isaura - O mandonismo local na vida política brasileira (Alfa-Omega, 1976)
· Leal, Victor Nunes - Coronelismo, enxada e voto (Alfa-Omega, SP., 1975)
· Martins, José de Souza - O cativeiro da terra (LECH, SP., 1981)
· Nosso Século: Brasil (Abril, SP., 1985, vols. de 1900-1930)
· Silva, Hélio - 1930, a revolução traída (Civilização brasileira, RJ., 1966)
· Silva, Lígia Osório - Terras devolutas e latifúndio: efeitos da Lei de 1850 (Unicamp, Campinas, 1996)
· Telarolli, Rodolpho - Poder local na República Velha (Nacional, SP., 1977)

Saturday, April 22, 2006

Conflitos Mundiais Recentes


Conflitos Mundiais Recentes
O processo de paz no Oriente Médio foi paralisado em outubro de 2000, e a violência entre palestinos e o Exército israelense intensifica-se. Já na península coreana, as duas Coréias aproximam-se da unificação. A pacificação também avança em Timor Leste, com a formação de um governo provisório e a perspectiva de eleições em 2001. A multiplicação dos conflitos internos é uma característica marcante da última década do século XX. A desintegração de Estados socialistas - principalmente a União Soviética (URSS) e a Iugoslávia - faz renascer rivalidades étnicas e religiosas que haviam sido congeladas por regimes totalitários. Confrontos herdados da Guerra Fria, como a guerra civil em Angola, também resistem à passagem do milênio. A Federação Russa, que disputava a hegemonia mundial com os norte-americanos, atravessa os anos 90 mergulhados em uma grave crise interna. Já os Estados Unidos têm sua capacidade de intervenção militar nas zonas de conflitos aumentada, por causa da ausência de rivais geopolíticos de porte.

TIPOS DE CONFLITO
Os conflitos são classificados em quatro categorias, de acordo com as forças em luta. A primeira envolve dois ou mais Estados. As demais são disputas internas: guerra civil ou guerrilha para mudança de regime; separatista resultante de ocupação estrangeira; e separatista no interior de um Estado. Os conflitos podem também ter forte conotação étnica ou religiosa. A guerra civil no Afeganistão, por exemplo, opõe fundamentalistas muçulmanos da milícia Taliban (patane) a grupos islâmicos de outras etnias (tadjique, uzbeque e hazará). A origem religiosa distinta é fonte de tensão no Sri Lanka, onde tâmeis (hinduístas) e cingaleses (budistas) estão em luta desde os anos 80.
Ao todo, 36 confrontos armados estavam acontecem no mundo em 2000, segundo o anuário The Military Balance publicado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, em inglês), com sede em Londres, no Reino Unido. Deste total, 27 são conflitos internos e nove guerras internacionais. O número de mortos ultrapassa 100 mil, sendo que 60% das fatalidades ocorrem em solo africano. O fato de maior destaque no cenário internacional é a ruptura do processo de paz entre palestinos e israelenses no Oriente Médio, com a eclosão dos mais violentos choques na região desde a Intifada. O ano registra, por outro lado, um importante passo em direção à paz, dado pelos dirigentes da Coréia do Norte e do Sul na histórica reunião de cúpula ocorrida em junho.
Guerra entre Estados - Embate entre exércitos nacionais regulares. Até o final de 2000, o mais sério deles é a disputa entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares, pela posse da região da Caxemira. Vários países do centro e do sul da África também intervêm na guerra civil em curso na República Democrática do Congo (RDC).
Guerra civil ou guerrilha - Conflito em que grupos armados ambicionam derrubar o governo de um determinado país. Um dos mais expressivos são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que controlam uma área desmilitarizada de 42 mil km2 na nação. Em Angola e Serra Leoa, os guerrilheiros da União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) e da Frente Revolucionária Unida (FRU) intensificam, respectivamente, a luta contra o governo desses países.
Com o término da Guerra Fria e a conseqüente perda de suporte dos EUA e da URSS, as guerrilhas buscam novas formas de financiar a luta armada. As Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN) mantêm aceso o conflito na Colômbia graças aos recursos obtidos com o tráfico de cocaína e os seqüestros de civis; no Afeganistão, o governo da milícia fundamentalista Taliban é acusado de sustentar-se com um imposto de guerra cobrado dos plantadores e comerciantes de ópio e heroína; enquanto na África a principal fonte de receita para os grupos guerrilheiros é a venda de diamantes extraídos de minas sob seu controle. Com o objetivo de impedir o comércio de diamantes ilegais vindos das zonas de guerra - eles respondem por 10% a 15% da produção mundial -, as maiores empresas do setor anunciam, em meados de 2000, em Antuérpia (Bélgica), a adoção de medidas de controle sobre a origem das pedras.
Separatismo por ocupação estrangeira - Confronto provocado por uma invasão militar externa. Nessa categoria, merece destaque a reivindicação dos palestinos pelo reconhecimento de um Estado independente nos territórios ocupados por Israel em 1967 - Faixa de Gaza e Cisjordânia. O conflito separatista em Timor Leste chega ao fim em 1999, com o reconhecimento da independência desta ex-colônia portuguesa pela Indonésia.
Separatismo no interior de um Estado - Choque entre forças oficiais e movimentos internos - em geral ligado a minorias étnicas ou religiosas - que tem como objetivo a formação de Estados independentes. É o caso da guerrilha separatista ETA (Pátria Basca e Liberdade), partidária da soberania do País Basco, região encravada entre a Espanha e a França.
AÇÕES HUMANITÁRIAS
A década de 90 também registra a crescente participação da comunidade internacional em operações de caráter humanitário. Organizações como a Cruz Vermelha e os Médicos sem Fronteiras estão presentes em vários conflitos com o objetivo de dar alívio imediato a populações civis ameaçadas. É cada vez mais importante o papel de entidades como a Anistia Internacional ou a Human Rights Watch, que denunciam a perseguição política e a violação dos direitos humanos por regimes que cometem crimes contra seu próprio povo.
Desde 1948, quando os primeiros "capacetes azuis" são enviados à Palestina, a ONU contabiliza 54 missões de paz - tropas militares que patrulham regiões em guerra ou em processo de pacificação. A grande maioria (41) é autorizada pelo Conselho de Segurança entre 1988 e 2000. Atualmente, 15 missões de paz (num total 37,8 mil militares e policiais) estão em atividade no mundo, cinco delas formadas em 1999 e 2000. Na Iugoslávia, a ONU assume interinamente a administração da província de Kosovo e em Timor Leste é responsável pela preparação da região para a independência.

TRIBUNAIS DE GUERRA
A falha ou a omissão dos sistemas judiciários de cada país em punir acusado de crimes de guerra, genocídios e crimes contra a humanidade leva à formação, na década de 90, de tribunais em Haia, na Holanda (Países Baixos), para julgar os culpados pela limpeza étnica na ex-Iugoslávia (1991-1995); e em Arusha, na Tanzânia, encarregado de punir os responsáveis pelo genocídio de mais de 1 milhão de pessoas em Ruanda (1994). São os primeiros desde Nüremberg, no qual foram julgados os líderes nazistas após a II Guerra Mundial. Em 1998, representantes de 120 países aprovam o projeto de criação de um Tribunal Penal Internacional Permanente, com sede em Haia. A corte começará a funcionar dentro de um prazo máximo de nove anos, após a ratificação de seu estatuto por pelo menos 60 nações. Sete votam contra - EUA, China, Israel, Índia, Turquia, Filipinas e Sri Lanka - e outras 21 se abstêm.

SITUAÇÃO DOS REFUGIADOS
Em conseqüência do aumento dos conflitos no mundo, principalmente nos países subdesenvolvidos, o número de refugiados atingiu o recorde de 27 milhões em 1995, em 1999 eram aproximadamente 22,2 milhões de refugiados. Deste total, 11,7 milhões são formalmente reconhecidos como refugiados - indivíduos que estão fora de seu país por temer perseguição racial, étnica, religiosa ou política.
A Ásia é o continente com o maior número de refugiados - 4,8 milhões. Somente a guerra civil no Afeganistão provoca o êxodo de 2,5 milhões de pessoas para o Irã, o Paquistão e a Índia, o maior contingente do mundo. Os ataques dos EUA aumentaram mais ainda o número de refugiados naquela região. Em seguida vêm os iraquianos foragidos em vários países do Oriente Médio desde o fim da Guerra do Golfo (1991), juntamente com os curdos.
Na África, onde há 3,5 milhões de refugiados, a guerra que começa com um acerto de contas entre hutus e tutsis, na região dos Grandes Lagos, causa um dos maiores movimentos de população da história. A maior parte dos ruandeses (mais de 2 milhões) já retornou, porém 519,6 mil burundineses permanecem em nações vizinhas. Conflitos em Serra Leoa, Sudão, Somália e Eritréia também geram grande número de refugiados.
Na Europa, com 2,6 milhões de refugiados, a guerra civil na antiga Iugoslávia (1991-1995) foi a causa do maior êxodo no continente desde a II Guerra Mundial: 3,5 milhões de pessoas. Deste total, a grande maioria já foi repatriada, com exceção de 337,6 mil sérvios da Croácia ainda refugiados na Bósnia-Herzegóvina e na Iugoslávia. Na mesma região da Iugoslávia , especificamente em Kosovo, a perseguição de Slobodan Milosevic aos albaneses daquela região causou a fuga de milhares de refugiados para Albânia e Macedônia. Existem 636 mil refugiados na América do Norte - vindos em sua maioria de países latino-americanos recém-saídos de conflitos internos - 61 mil na América Latina e 64,5 mil na Oceania.

ARMAMENTOS NO MUNDO
Atualmente a questão do armamento é muito delicada , os EUA que pregam o desarmamento são o país que tem o maior arsenal de guerra do mundo e são o maior exportador de armas. A Rússia também possui um grande arsenal, mas grande parte dele está virando sucata.
Um dos principais problemas atuais é combater o uso de armas biológicas e atômicas, Paquistão e Índia (inimigos entre si pela disputa da Caxemira) possuem armas atômicas. O Iraque desenvolveu armas biológicas, mas pouco sabe-se sobre elas.
Outro problema é a questão do tráfico de armas, estas caem em mãos de organizações criminosas ou ainda organizações terroristas.
Fundamentais para a defesa dos Estados em situação de ameaça externa e interna e estratégicas como instrumentos de dissuasão no cenário internacional, as armas bélicas movimentam um comércio estimado em 53,4 bilhões de dólares em 1999, de acordo com o IISS. Os EUA lideram a exportação mundial de armas, respondendo por 49,1% deste mercado, seguido do Reino Unido (18,7%) e da França (17,6%). O maior importador mundial de armas é a Arábia Saudita (gastos de 6,1 bilhões de dólares), seguida de Taiwan (Formosa) (2,6 bilhões de dólares), que aumenta sua demanda por causa do crescimento das tensões com a China comunista - também uma grande compradora de armas no ano, ao lado da Índia e de alguns países africanos. Os gastos mundiais com defesa em 1999 chegam a 809 bilhões de dólares.
ARMAS NUCLEARES - Os EUA e a Federação Russa são as grandes potências nucleares do planeta, seguidos por França, China e Reino Unido. Os arsenais, porém, vêm diminuindo na última década com a assinatura dos Tratados de Redução de Armas Estratégicas (Start). Índia e Paquistão já realizaram testes com esse tipo de arma. Israel, embora não assuma oficialmente, também é considerado uma potência nuclear. Nos anos 90, Irã e Coréia do Norte chegam bem perto de obter a bomba atômica. Com a desagregação da URSS, cresce o temor de descontrole sobre os arsenais nucleares soviéticos.
MINAS TERRESTRES - Em contraste com os altos preços das armas mais sofisticadas, as minas terrestres são muito baratas - cada unidade custa de 3 a 30 dólares. Sua disseminação pelas zonas de guerra do mundo se tornou um problema grave para as populações civis. A Cruz Vermelha calcula que mais de 110 milhões de minas estejam espalhadas pelo planeta, principalmente em solo africano (Angola, Egito, Moçambique, Somália, Sudão e Eritréia), europeu (Bósnia-Herzegóvina, Croácia e Ucrânia) e asiático (Irã, Iraque, Afeganistão, China, Camboja e Vietnã). De acordo com a organização, esses artefatos já mataram ou mutilaram mais de 1 milhão de pessoas. Em Moçambique, Camboja, Bósnia e Croácia, eles continuam fazendo vítimas, apesar do fim dos conflitos, por causa do alto custo do processo de desarmamento.



CONFLITOS

ESTADOS UNIDOS
Não se pode dizer em conflitos mundiais sem mencionar os EUA, que desde a 1.ª Guerra Mundial marca presença em todos.Maior potência econômica e militar do mundo, os Estados Unidos da América (EUA) têm um imenso e diversificado território, com clima predominantemente temperado. Situado na América do Norte, é o quarto país mais extenso do mundo, banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico. A costa leste, região das treze colônias que deram origem à nação. Na planície central encontra-se sua maior área agrícola. Os recursos naturais dos Estados Unidos, as riquezas de paisagens e de possibilidades econômicas atraíram milhões de imigrantes ao país nos séculos XIX e XX. A identidade nacional dos EUA é construída com a contribuição dos novos habitantes e, ainda hoje, o país se destaca como o principal pólo de imigração internacional. Sua cultura e estilo de vida exercem grande influência global por meio do cinema, da literatura, da música e da TV.
A luta pela independência norte-americana, no século XVIII, é um marco de afirmação da república e da democracia (no modelo capitalista liberal) no mundo contemporâneo. Ao lado disso, os EUA têm uma história de extermínio dos povos indígenas e de discriminação racial, que atinge em particular os negros descendentes de escravos e os hispânicos de origem latino-americana.
O PIB do país é o maior do mundo. Sozinha, a nação é responsável por mais de um quarto da produção econômica mundial, o que lhe garante posição central no comércio e no sistema financeiro internacionais. Também oferece um elevado padrão de vida à população, com o terceiro mais alto índice de desenvolvimento humano (IDH) - atrás apenas do Canadá e da Noruega - e uma das maiores rendas per capita do mundo. Com base em seu poderio, os EUA atuam em conflitos por todo o planeta.

NA ÚLTIMA DÉCADA:
Governo George Bush: comandou a Guerra do Golfo, em 1991, contra o Iraque.
Governo Clinton - Política externa - Em política internacional, Clinton foi criticado por sua indecisão, especialmente no caso do governo militar haitiano e da guerra civil da Bósnia. No primeiro caso, no entanto, conseguiu que as tropas norte-americanas restaurassem o poder civil do deposto presidente Jean-Bertrand Aristide. Na Bósnia, facilitou um acordo de paz entre as partes, assinado em novembro de 1995, em Dayton. A mediação dos EUA no histórico acordo de Paz de Oslo entre israelenses e palestinos, em 1993, e no tratado que põe fim à Guerra da Bósnia, em 1995, favorece a política externa de Clinton, que presidiu a assinatura de um histórico acordo de paz entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), representados pelo primeiro ministro israelense, Yitzhak Rabin, e o líder da OLP, Yasser Arafat.
O segundo governo Clinton amplia seus objetivos externos. Em 1998, o presidente visita nove nações africanas e faz a primeira viagem oficial à China desde o massacre da Praça da Paz Celestial (1989). Na Cúpula das Américas, em Santiago (Chile), tenta avançar na implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Em agosto, o país reage prontamente aos atentados terroristas contra embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia, lançando ataques simultâneos contra alvos supostamente terroristas no Sudão e no Afeganistão. EUA e Reino Unido lançam em dezembro de 1998 a maior ofensiva militar contra o Iraque desde a Guerra do Golfo, após a recusa de Saddam Hussein em abrir instalações à inspeção da comissão da ONU encarregada de eliminar o arsenal iraquiano de armas de destruição em massa.
Em março de 1999, os EUA promovem o ingresso de Polônia, Hungria e República Tcheca - antigos aliados soviéticos - na aliança militar ocidental, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A campanha de Clinton para obter novas adesões ao Tratado para a Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT), assinado então por 152 países e visto como o pilar da política norte-americana de não-proliferação nuclear, perde força depois que o Senado rejeita sua ratificação pelos EUA, em outubro de 1999.
Bombardeio à Iugoslávia - Os EUA lideram a campanha de bombardeios da OTAN contra a Iugoslávia, entre março e junho de 1999, com o objetivo de defender a população albanesa da província sérvia de Kosovo. O ataque - o primeiro na história da OTAN contra uma nação soberana, com fronteiras reconhecidas - ocorre sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). A operação militar termina com a capitulação do presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, obrigado a aceitar o plano de paz que determina a retirada das tropas sérvias de Kosovo, a instauração de um governo interino da ONU na província e o envio de uma força internacional de paz à região, dominada pelos EUA e seus aliados.
Impasse no Oriente Médio - Por insistência de Washington, o líder palestino Yasser Arafat e o primeiro-ministro de Israel Ehud Barak retomam o cronograma de retiradas militares israelenses na Cisjordânia em setembro de 1999. As negociações enfrentam novo impasse em 2000, durante reunião em Camp David, mediada por Clinton. Yasser Arafat aumenta a pressão pela criação de um Estado independente na Palestina e os dois lados não chegam a um acordo sobre o status final da cidade de Jerusalém.
Boom econômico - Em janeiro de 2000, em seu discurso anual sobre o Estado da União, Clinton anuncia o mais longo período de crescimento econômico ininterrupto de toda a história dos EUA. Uma expansão de 5,3% do PIB no segundo trimestre - considerado surpreendente para uma economia industrializada - marca o nono ano de crescimento contínuo. Dados preliminares mostram que o desemprego baixa em 2000 para o nível recorde de 4,1%. Mas um estudo da Comissão de Orçamento do Congresso, divulgado em setembro de 1999, mostra que, apesar da prosperidade, a diferença de renda entre os cidadãos mais ricos e mais pobres é a maior desde a década de 40.
Abalos na "nova economia" - Em abril de 2000, o juiz federal Thomas Penfield Jackson condena a gigante dos computadores Microsoft por ter violado a lei antitruste ao distribuir, como parte de seu sistema operacional Windows, o programa para navegação Internet Explorer. O juiz ordena a divisão da empresa, que hoje detém 70% do mercado de software do país. A Microsoft recorre da sentença. O índice Nasdaq, que estabelece a cotação de ações da chamada "nova economia" da bolsa de Nova York, despenca. Sua queda também é impulsionada pela inconsistência no valor das ações do setor de tecnologia e internet, cujas empresas encontram-se supervalorizadas no mercado.
Cerco ao tabaco e aos transgênicos - Em setembro de 1999, o governo norte-americano dá início a um processo contra cinco fábricas de cigarros, requerendo indenização pelos gastos de saúde pública com doenças provocadas pelo tabagismo. Um tribunal do Distrito de Colúmbia acata, em maio de 2000, ação contra a Monsanto, produtora de alimentos geneticamente modificados, os chamados transgênicos. A empresa foi acusada de violar a lei antitruste para baixar artificialmente seus preços e comercializar produtos potencialmente perigosos para a saúde humana e o meio ambiente.
Em maio de 2000, o estado de New Hampshire torna-se o primeiro a abolir a pena de morte desde que a punição foi reintroduzida no país por decisão da Suprema Corte, em 1976. Falha em julho, pela terceira vez consecutiva, o teste do escudo antimíssil orçado em mais de US$ 10 bilhões. O projeto, que deve estar finalizado em 2005, tem sido alvo de protestos de vários países, entre os quais China e Federação Russa. Na interpretação de Moscou, o desenvolvimento do escudo viola os acordos de desarmamento.
Em setembro de 2000, um tribunal do Novo México ordena a libertação do cientista de origem taiwanesa, Wen Ho Lee, funcionário do Laboratório Nuclear de Los Alamos. Ele estava preso desde meados de 1999, quando foi acusado de passar segredos militares para a China.
Governo George W. Bush - Eleições presidenciais – Em 14 de dezembro de 2000, após 36 dias das eleições e várias batalhas judiciais, a Suprema Corte proíbe, por 5 a 4, nova contagem dos votos da Flórida. Com a decisão, Bush assegura a maioria de 271 entre os 538 votos do Colégio Eleitoral. Al Gore admite a derrota mas critica a decisão da Justiça norte-americana; enquanto Bush discursa pregando "reconciliação e união". O Colégio Eleitoral se reúne em 18 de dezembro de 2000 e ratifica o republicano George W. Bush como o novo presidente dos Estados Unidos.
Novo congresso – O Partido Republicano perde espaço, mas mantém a maioria no Congresso eleito. Na Casa dos Representantes, inteira renovada, conquistam 220 dos 435 assentos, contra 211 dos democratas (duas vagas estavam indefinidas). No Senado, com 34 cadeiras em disputa de um total de 100, a nova bancada republicana somava 50 representantes, contra 49 dos democratas (uma vaga estava indefinida). A ex-primeira-dama Hillary Clinton obtém uma vaga no Senado, por Nova York.
O governo iniciou-se frio e se enterrando cada vez mais em uma pesada recessão econômica até 11/09/2001.

Pesquisa realizada por: Uilson Rezende em 2005.

Friday, April 21, 2006

O FENÔMENO CANGAÇO: Saiba Mais.....

2. O FENÔMENO CANGAÇO CANGAÇO A SAGA DO CANGAÇO NO NORDESTE A origem do cangaço ou banditismo social, como era denominado, se fez presente no Brasil nos meados do século XVIII, com o aparecimento de pequenos grupos de salteadores armados que andavam pelas regiões sertanejas (e algumas vezes no agreste) praticando assaltos, extorsões e crimes de assassinato. CANGAÇO seria uma palavra derivada de CANGA que é uma peça de madeira que prende um conjunto de bois ao carro ou arado, exprimindo, portanto, o fato de a pessoa estar submetida a um senhor. A um jugo. O termo CANGAÇO define todo aparato que ornamenta a vestimenta do cangaceiro (bornais, armamentos, munição, comidas, roupas, dinheiro, etc.) que o mesmo levava consigo e jamais se desfazia deles nem nos momentos mais tranqüilos, salvo na hora do banho, quando tinha essa oportunidade. Era comum ao cangaceiro, dormir e até mesmo “namorar” totalmente paramentado com aqueles apetrechos, pois, sabia, a qualquer hora poderia estar sendo atacado pela policia volante e não teria tempo de se equipar para fugir ou reagir. A ORIGEM DO CANGAÇO Existem várias vertentes para definir a origem do cangaço, porém os principais motivos, causas e efeitos da existência desta criminalidade tão persistente, teriam sido entre outras coisas o culto a valentia e a violência no sertão como efeito dessa reação enérgica aos problemas que o levava a abraçar esta vida. Contudo, a causa do surgimento do cangaço está na crescente e visível falta de justiça social no sertão perpetuado pelos grandes latifundiários cognominados coronéis que tudo podiam e em tudo mandavam. O tabaréu ou matuto, vivia sob o jugo do coronel. Este, com seus jagunços armados tinha à sua disposição verdadeiras milícias para protege-lo de quem quer que viesse incomodar ou ameaçar seus domínios. A fome, a seca, a falta de assistência social, juntamente com a brutalidade do coronel e a violência da policia, que existia apenas para defender os interesses da classe dominante, forjou uma ala de excluídos sociais. Desse grupo surgiu o fanático religioso na figura do beato que vivia se penitenciando e esmolando nas portas das igrejas ou andando em grupos, numa procissão de famintos. E o bandido salteador que, valente e embrutecido reagiu com violência às investidas das classes mais favorecidas que só visavam explorar o povo em geral, em detrimento de sua riqueza e poder, cada vez mais crescentes. Não aceitando viver sob o jugo do coronel, na qualidade de jagunço ou alugado, passou a formar grupo próprio, vivendo sem lei nem rei, como diziam, a tomar “pelas armas” e extorquir poderosos na promessa indireta de proteger sua propriedade ou simplesmente de deixa-lo em paz, o que já era muita coisa. OS TRÊS TIPOS DE CANGAÇO É bem verdade que existiam situações e casos diferenciados de o sujeito abraçar a vida criminosa do cangaço. Para isso, os pesquisadores do tema ousaram distinguir o cangaço em três subtipos que, ao meu ver, sempre terminam se unindo em uma só modalidade. O CANGAÇO DE VINGANÇA era o tipo mais comum. O sujeito se achando desfeiteado por alguém seja por causa de uma surra dada em si ou num parente seu, seja numa disputa por terras ou uma briga entre famílias, o que era muito comum, seja no assassinato praticado por alguém a um ente querido seu ou por muitos outros fatores o indivíduo abraçava a vida de crimes com a intenção direta de vingar-se do inimigo. Normalmente, após cumprir o seu objetivo de vingança o sujeito abandonaria a vida da espingarda e voltava aos afazeres de outrora, porem, isso era de certo modo difícil em razão do mesmo, após virar um criminoso passar a ser também um foragido da justiça. É daí que surge O CANGAÇO DE REFÚGIO onde o indivíduo após cometer um crime, seja de vingança ou outra motivação qualquer o forçou a pedir refúgio nas hostes do cangaço (o grupo de Lampião era cheio deles) quando não entrava num desses grupos de bandoleiros o indivíduo se apadrinhava com um coronel e se refugiava em seus domínios, mas mesmo assim iria virar jagunço ou pistoleiro pela simples gratidão ao acolhimento do seu, agora, novo patrão. O CANGAÇO MEIO DE VIDA é o derradeiro subtipo. Este seria a forma de o indivíduo que praticou certo crime, não mais podendo retomar a sua vida de outrora, devido às perseguições que sofreria e não querendo se sujeitar à proteção de um coronel continuava na vida do cangaço e fazia dela o seu meio de manutenção, esta uma sina que levaria consigo até o dia de sua morte, matando sempre que podia, os seus perseguidores e vingando quase sempre os inimigos dos seus companheiros de trabalho. Na maioria das vezes o cangaço era um caminho sem volta. Raros foram os casos de cangaceiros que entraram nessa vida e, após acharem-se vingados, conseguiram sair ilesos, retornando à vida de outrora. Um dos poucos exemplos desse caso é o cangaceiro Sinhô Pereira que conseguiu se refugiar no Piauí, com a proteção do Padre Cícero, após se vingar de grande parte dos seus inimigos. Sinhô Pereira, ao deixar o cangaço, entregou a coroa de rei ao não menos famoso Lampião, que herdou deste seu primeiro chefe o comando de numeroso grupo e a responsabilidade de matar posteriormente mais um desafeto de Sinhô Pereira, Luiz Gonzaga Ferraz, prefeito de Belmonte, que dias atrás mandara aplicar uma surra num parente de Pereira. Sinhô Pereira era neto do barão do Pajeú, e vivia numa guerra secular contra a família Carvalho. Dizem inclusive que estes desentendimentos datam de época anterior à colonização do nosso nordeste sertanejo.





3. VIRGULINO FERREIRA (LAMPIÃO) VIRGULINO FERREIRA DA SILVA A ORIGEM No ano de 1897, a 7 de julho, nasce o menino Virgulino Ferreira da Silva, no sitio Passagem das Pedras, na antiga Vila Bela, hoje Serra Talhada. A controvérsia da data existe, mas se torna irrelevante frente às dificuldades encontradas na época – como ainda hoje em dia – de se registrar uma criança no sertão nordestino, pois os cartórios ficam normalmente nos grandes centros comerciais, distante da maioria da população que, pobre e sem instrução tardam em recorrer a estes órgãos para registrar suas proles. Alguns historiadores teimam em dizer que Virgulino nasceu em 1898 por causa de um batistério expedido no município de Tauapiranga pela diocese local. Acontece que, tanto quanto o registro de nascimento, o batismo também era feito em um considerável espaço de tempo, a partir do nascimento do bebê. Daí a confusão com os números. A FAMÍLIA Virgulino foi o segundo filho de José Ferreira da Silva e Maria Lopes dos Santos. O casal teve, ao todo, nove filhos, sendo cinco homens e quatro mulheres, a saber: Antonio, Virgulino, Livino, Virtuosa, João, Angélica, Maria, Ezequiel e Anália. O velho José Ferreira trabalha de Almocreve, que na linguagem de hoje seria um tipo de vendedor ambulante que andava com uma tropa de burros levando toda sorte de apetrechos que fazem parte do dia a dia das comunidades sertanejas, desde cereal, carne seca, mantas, tecidos, artigos de couro, etc. A maioria dos filhos homens ajudava o pai neste afazer enquanto que as mulheres se ocupavam da casa e da confecção de rendas. Tinham também alguns animais, caprinos e bovinos, que criavam no regime de solta, ou seja, os animais viviam soltos dentro da caatinga e, na necessidade de capturar alguns destes os filhos penetravam na mata em busca dos mesmos. Nesta atividade Virgulino se aperfeiçoou com destreza, ganhando o elogio e a admiração de todos. Outra atividade que fazia com tamanha perfeição era a de amansador de animais de montaria. Tanto êxito teve nessa profissão que era requisitado pelos fazendeiros vizinhos para tratar dos animais das fazendas. A vida daquela gente humilde transcorria normalmente e o trabalho era a essência de todo progresso da família. O estudo, que devido ao acúmulo de trabalho e à falta de escolas, estaria relegado a segundo plano. Porem, quando alcançou a idade entre 7 e 10 anos o menino Virgulino aprendeu algumas letras na escolinha do professor Domingos Soriano e Justino Nenéu, educadores residentes em Nazaré, povoado próximo da fazenda Passagem das Pedras. Este aprendizado não teria durado sequer 3 meses, o bastante para que Virgulino aprendesse a ler e escrever. Diz-se que ele havia dito ao tio Mané Lopes, responsável pela sua entrada na escola que o que aprendera “pra vaqueiro já bastava”, pois era o que queria ser. O PRINCIPIO DE TUDO Próxima à fazenda Passagem das Pedras existia uma propriedade de nome Pedreira, de Saturnino Alves de Barros. Este fazendeiro tinha dois filhos, um deles, José Alves de Barros ou Saturnino das Pedreiras seria o móvel de toda intriga que eclodiria com a entrada de membros dos Ferreiras no cangaço, a saber: Virgulino, Antonio e Livino. Inveja, discordância política, ignorância e um suposto roubo de animal foram o estopim para que as duas famílias, que antes até filhos apadrinhados tinham, enveredassem numa guerra de vinganças que transformou o sertão do inicio da década de 20 num pandemônio. OCORRÊNCIAS FATAIS Por volta de 1915, quando uma das maiores secas assolou o sertão, ocorreu o sumiço de alguns caprinos de propriedade dos Ferreira. Na investigação, feita pelo tio de Virgulino, Mané Lopes, que era inspetor de quarteirão na época, foram descobertos peles dos caprinos no sitio de um morador de José Saturnino. Este morador, de nome João Caboclo, foi preso e levado à presença do delegado. Saturnino, se sentindo ofendido com o que fora feito com um empregado seu reagiu com má política. Usando do prestigio do pai e do agora sogro, José Nogueira, fazendeiro remediado daquelas ribeiras, conseguiu a soltura do suposto ladrão e posteriormente a destituição da função de inspetor de Mané Lopes, assumindo em seu lugar. A partir daí, sob o signo da autoridade (?) que agora nutria, passou a cometer desmandos e tropelias sempre visando ofender e provocar os membros da família Ferreira. Certa feita parte Saturnino para o sitio do velho José Ferreira onde encontra todos reunidos e reclama o sumiço de alguns chocalhos de suas vacas que, disse, foram tirados por Virgulino e os irmãos. Desaforos e trocas de impropérios se verifica num ambiente onde, por muito menos, a morte já estaria à espreita. ACORDOS DE PAZ Diante de tantos problemas verificados com aquelas famílias algumas autoridades na época acharam por bem intervir e firmar um acordo de paz entre as partes. Pessoas de destaque como coronéis, juizes, fazendeiros, padres, tomaram parte do acordo. Sendo assim ficou decidido que as famílias iriam evitar cruzar a ribeira da outra. Saturnino das Pedreiras estaria impedido de freqüentar o povoado de Nazaré, que era mais próximo à terra dos Ferreira e estes por sua vez não poderiam passar pelas terras dos Saturninos/Nogueiras. O acordo de paz teve pouca duração. Saturnino junto com alguns empregados seus entra na feira de Nazaré, todos armados, para fazerem uma cobrança a um homem que lhe devia algum dinheiro. O homem é agredido na frente de todos, inclusive dos irmãos Ferreiras que estavam na cidade. Revoltados, estes se dirigem à casa do professor Domingos S. e pegam suas armas (parte do acordo era deixar as armas na primeira casa da vila e não entrar armado na cidade) partindo para fora da cidade onde preparam uma emboscada contra Saturnino. Este consegue, após rápido tiroteio, se evadir. Tempos depois outro acordo é firmado e, desta vez, o próprio Virgulino o quebra, pois tinha uma tia enferma para o lado de Triunfo e precisou cruzar as terras do inimigo. Novo tiroteio se verifica, pois, mais uma vez com o acordo fora desfeito. Estava decidido. A questão não tinha volta. AS PRIMEIRAS MUDANÇAS Diante de todos estes problemas. Emboscadas, perseguições, tiroteios, o velho José Ferreira achou melhor se mudar da sua terrinha para o sitio da sogra D. Jacosa, o Poço do Negro, que ficava a poucas léguas do seu. O velho vendeu o sitio por um preço irrisório, apenas para se ver livre das confusões de Saturnino. Ainda assim as perseguições continuaram, então o velho resolveu se mudar novamente. Agora iria deixar o estado de Pernambuco e tentaria nova vida em Alagoas. Mudou-se para Matinha de Água Branca onde ficou trabalhando alugado em terras que não eram suas. Virgulino arranjou um emprego que consistia em transportar peles de animais da fazenda do coronel Delmiro Gouveia para as cidades vizinhas. Porem, os Ferreira, à revelia do pai tramavam uma desforra contra o inimigo. Saturnino, que não perdia tempo em difama-los, agora, mandava cartas para um coronel de Alagoas informando que lá chegara uma gente que não era de confiança. A MORTE DOS PAIS : Dona Maria Lopes, perturbada com tantos problemas passou a sofrer vertigens devido a problemas cardíacos, vindo a falecer a 14 de Abril de 1920, ainda em Matinha. A família enlutada sepultou a mãe. Seu José, desenganado, almejou mais uma vez se mudar. Iria desta vez para Água Branca. Quando chegou numa localidade chamado Engenho se deixou ficar por algum tempo numa casa cedida pelo Senhor Antônio Fragoso. Lá, devido às perseguições que os Ferreira vinham enfrentando, a casa foi cercada por uma volante policial que procurava pelos irmãos Ferreira, através de uma denúncia de que eles haviam se juntado a um grupo de salteadores chamados Porcinos. Cercada a casa, o velho que se encontrava debulhando milho dentro de um cesto, no terraço da casa, com um “quicë” nas mãos, foi interpelado por um sargento de nome José Lucena, que futuramente veio a ser o segundo maior inimigo de Lampião. Na discussão o sargento, que estava acompanhado por um delegado de nome Amarílio, sem mais nem menos, desfere um tiro à queima roupa no ancião sem que este esboçasse qualquer reação, matando-o. Em 22 de Abril de 1920. A revolta foi geral. Virgulino fora avisado da tragédia e, junto com os outros dois irmãos partiram para sepultar mais um ente querido. Após o sepultamento do pai, Virgulino reúne todos os irmãos e, retirando a roupa preta que representava o luto da mãe, designou o irmão João para que cuidasse da tutela dos menores e, junto com Antonio e Livino jurou vingar todos aqueles que, de uma forma ou de outra, levaram a sua família um fim tão trágico. E bradou: - Eu só descanso quando pegar e sujeitar todos aqueles que fizeram isso com nós. E o estado de Alagoas a Deus querer eu queima! DE VIRGULINO A LAMPIÃO Agora, envolvido de vez no grupo dos Porcinos, Virgulino e os irmãos preparam um ataque contra a volante de Lucena. Procurou manter seu nome em segredo para não criar maiores expectativas aos comandantes que o perseguiam. O PRIMEIRO COMBATE Partindo como uma fera raivosa Virgulino, no dia 20 de junho de 1921 consegue cercar a volante de Lucena, matando na refrega, um cabo e um soldado. Deste dia em diante Lucena passa a temer o inimigo, que julgou muito astuto no combate, chegando até a exaltar sua coragem em conversa com alguns subordinados. Em contrapartida Virgulino passa a respeitar o poderio bélico do inimigo, evitando maiores combates com este. Neste começo de carreira, Lampião alcançou notoriedade por causa da violência com que atuava, pois passou a mover um ódio indescritível contra a polícia. LAMPIÃO: CHEFE DE BANDO A partir daí, com a dispersão do grupo dos Porcinos e do tio Antônio Matilde, que resolvera abandonar o grupo, Lampião passa a fazer parte do bando de Sinhô Pereira. Em 1922, a pedido do Padre Cícero, Sinhô Pereira abandona o campo de luta a foge com o primo Luiz Padre para o estado de Goiás. Lampião recebe então o comando do grupo de Pereira, ganhando neste mesmo tempo o apelido de Lampião, por causa da rapidez com que manuseava o rifle, fazendo um clarão “parecendo um Lampião” segundo diziam. A PATENTE DE CAPITÃO No ano de 1926, Lampião foi convidado pelo Padre Cícero do Juazeiro a dar combate à Coluna Prestes, que se internava no sertão numa fileira de mais de 1000 homens. O pedido foi endossado pelo presidente Artur Bernardes que, contando com o apoio do então Deputado Floro Bartolomeu pôs o plano em ação: ou Lampião liquidava com a coluna Prestes ou vice versa. Formalizado o pedido, Lampião ganhou de imediato galões de Capitão das forças legais. Para selar o acordo, recebeu também grande quantidade em armamento, fardas e mantimentos militares. Lampião, como se era de esperar, não foi bem recebido pelos oficiais de outros estados, que não reconheciam sua patente. Revoltado com a falta de acolhimento Virgulino se esquiva de combater a Coluna, pois inclusive, nada tinha contra ela. Com sarcasmo e inteligência deu meia volta da empreitada e afirmou: - já que ninguém reconhece minha patente por aqui, a viola vai cantar na cantiga velha!






4. OS PRINCIPAIS CANGACEIROS Muitos foram os valentões que enveredaram na vida criminosa do cangaço. Aqui veremos os que mais se destacaram entre tantos outros que alcançaram fama e prestígio. O CABELEIRA Embora tido como um dos primeiros cangaceiros, José Gomes, o Cabeleira, era apenas um bandido cruel e sanguinário que entrou na vida do crime instigado pelo seu pai, o não menos perverso Joaquim Gomes, um homem mal e cruel que cedo ensinou o filho a arte violenta de matar e sangrar as pessoas indefesas apenas por puro sadismo. Juntamente com seu pai e um negro de nome Teodósio, Cabeleira aterrorizou toda a zona da mata pernambucana desde Vitória de Sto Antão até o centro do Recife em meados de 1775. Cabeleira foi um herói do mal. À revelia de sua mãe, a doce Joana, conheceu a trilha do crime através do pai que cedo o ensinou a usar o clavinote, deixando um rastro de morte e destruição por onde passava. Cabeleira não escolhia suas vítimas. Era um herói sem causa social, e não tinha para si um código de ética e de conduta. Matava por matar e roubava por roubar. José Gomes foi aprisionado num canavial em Paudalho, zona da mata de Recife e levado à forca no Forte das Cinco Pontas em 1776. Das estórias de Cabeleira, só contadas pelo romancista Franklin Távora fica os versos que imortalizou a figura desse bandoleiro na alma do nordestino: “Fecha a porta, gente Cabeleira aí vem Matando mulheres Meninos também....” “Minha mãe me deu Contas pra rezar Meu pai me deu faca Para eu matar” “Meu pai me pediu Por sua benção Que eu não fosse mole Fosse valentão.” LUCAS DA FEIRA Foi como ficou conhecido o mulato Lucas Evangelista, por ter nascido em Feira de Santana, Bahia. Filho de negros cativos, Inácio e Maria, Lucas nasceu em 18 de outubro de 1807. Era vesgo e canhoto e cresceu vendo o terrível drama a que eram submetidos os escravos (surras, castigos, condições sub humanas de vida, estupros, maus tratos, etc.) Estas cenas viriam marcar para sempre a sua vida de criança e posterior adolescência. Lucas era um negro forte e taludo e, ainda com 15 anos de idade, resolveu vingar-se, a seu modo, das crueldades praticadas pelos feitores para com seu povo. Lucas da Feira juntou uns grupos compostos por mais de trinta homens, entre negros e mulatos fugitivos, e passou a aterrorizar grandes trechos da Bahia, assaltando propriedades, surrando e matando fazendeiros brancos, deixando as estradas vazias sendo evitadas sempre que possível. Uma peculiaridade sua era a de achar que tinha, sobre as moças brancas, o mesmo direito que os senhores brancos tinham para com as mulheres negras, que eram estupradas e seviciadas pelos seus “donos”. Lucas não se fazia de rogado. Ao invadir uma propriedade, estuprava igualmente as moças brancas daquela casa, juntamente com seu grupo. Com o passar do tempo seu grupo foi diminuindo. Lucas foi então traído por um compadre e ferido, foi levado à forca. Diante do mito em que se tornou, o Imperador D. Pedro II manifestou desejo de conhece-lo. Lucas foi levado da Bahia ao Rio de Janeiro e ao retornar foi então enforcado no dia 26 de setembro de 1849, no Campo do Gado, aos 42 anos de idade. JESUINO BRILHANTE Este, um cangaceiro no melhor sentido da palavra, nasceu por volta de 1844, em Patú, RN. Seu nome completo era Jesuíno Alves de Melo Calado. Jesuino era um lavrador e vaqueiro que levava vida pacata e sossegada. Era casado e tinha quatro filhas e um filho caçula. Perto de Jesuino moravam os Limões, pretos famosos pela valentia e atrevimento. Certa feita um caprino é roubado da propriedade de Jesuíno, no que ele desconfia de um dos Limões, o Honorato. Não bastasse o sumiço, dias depois um irmão de Jesuíno é agredido por Honorato Limão na vila de Patú, chegando o negro a vangloriar-se dos dois atos: o roubo do caprino e a surra no irmão de Jesuíno. Armando-se de punhal, Jesuino mata, após uma luta corporal, o Honorato Limão, o que inicia uma guerra entre as duas famílias. Jesuino parte para a vida do crime por ter virado um foragido da justiça, porém, leva consigo a família para o mesmo caminho de fora-da-lei. Jesuino era um cangaceiro bom. Vivia de ajudar os pobres, resolver contendas entre famílias e, na grande seca de 1877, passou a saquear comboios que transportavam alimentos para distribuir com os pobres. Jesuino não gostava de injustiças. Era respeitador com as mulheres e moças donzelas e não matava ninguém que não fosse da raça dos Limões ou da força policial, que o tivesse perseguindo. Jesuino é tido pelos estudiosos do tema como um cangaceiro romântico. Um verdadeiro Robin Hood. Vivia na Serra do Cajueiro, RN, junto com sua mulher e filhos, estes que, aliás, nunca o abandonaram. Jesuino Brilhante morreu no campo de batalha em dezembro de 1879, em Brejo da Cruz, PB, aos 35 anos. ADOLFO MEIA NOITE Este outro cangaceiro tido como manso ou romântico. Nascido em data indeterminada, em Afogados da Ingazeira, sertão do Pajeú, PE. O grande pecado do negro Adolfo Meia noite foi ter se apaixonado pela prima, filha de um rico e poderoso fazendeiro daquelas ribeiras que, não achando ser o negro merecedor da donzela mandou prendê-lo e açoitá-lo ao tronco colonial. Quando foi liberado do castigo, seu pai, sabendo do ocorrido, recusou-lhe a bênção porque ele não havia lavado sua honra com o sangue do tio. Na mesma noite, Adolfo esgueirou-se para dentro da casa do tio e o matou, fugindo em seguida para o vale do Rio Pinheiro. Como havia matado pessoa influente na região, virou foragido da justiça tendo que passar o resto de sua vida a fugir da policia, levando consigo os irmãos Manuel e Sinobileiro. Apesar de ter se tornado cangaceiro, Meia Noite era tido como homem justo e pacífico. Isto ficou evidenciado num episódio em que ele e seu bando prenderam o negro Periquito que levara consigo alguns bens do seu amo. O bando pressionava Periquito, querendo o dinheiro que este levava, quando Adolfo colocou-se contra aquela situação, dizendo aos companheiros: - Vocês não vêem que se ele leva dinheiro, este não lhe pertence? E dirigindo-se ao escravo pergunta: - Levas dinheiro contigo? - Sim, senhor - respondeu periquito - Levo 500 mil réis do Sr. Paulo Barbosa. Ao ouvir esta resposta o bando se excita, mas o cangaceiro os repele: - Vá embora. Se precisar de alguma quantia irei tomá-la do seu senhor, e não de você, que não é dono. Pois se eu o fizer, certamente seu amo não irá acreditar na sua estória, e irá castigá-lo. Adolfo Meia Noite morreu baleado durante um tiroteio. ANTONIO SILVINO Nascido na Serra da Colônia, PE, no dia 2 de novembro de 1875, foi batizado como Manoel Batista de Moraes e era o caçula de uma família de cinco irmãos. No convívio familiar era carinhosamente tratado como Nezinho. Sua sina de cangaceiro surgiu, como em tantos outros casos, em circunstâncias alheias a sua vontade, quando seu pai, Pedro Batista de Moraes, o Batistão, um valentão afamado, foi morto por um grupo de capangas do Cel. Luiz Antonio Chaves Campos, chefiado pelo delegado, que era irmão do coronel. Morto seu pai e sedento de vingança, Nezinho passou a integrar o grupo de cangaceiros comandado por seu primo Silvino Aires, em 1896. Ali passou pouco tempo até formar grupo próprio, adotando o nome de Antonio Silvino em homenagem ao primo. Silvino era dado a resolver questões de quem o solicitasse. Não era um mero malfeitor e procurava fazer sua justiça no lugar onde a justiça comum era algo desconhecido. Silvino não permitia que ninguém do seu bando mexesse com mulheres e nem pessoas inocentes. Seus crimes eram de vingança ou contra a policia, que o perseguia. Preso em 1914, após ter sido baleado pelo alferes Teofanes Torres Ferraz, ficou encarcerado na Casa de Detenção do Recife, onde hoje é a Casa da Cultura até 1937, não voltando mais à vida cangaceira. Morreu em Campina Grande, PB, em 1944, aos 69 anos. Ainda na detenção aceitou o evangelho, vivendo em paz até o dia de sua morte. SINHÔ PEREIRA Sebastião Pereira da Silva nasceu em 20 de janeiro de 1896, em Serra Talhada, PE. De família abastada era neto do Barão do Pajeú, o coronel Andrelino Pereira da Silva. Algumas desavenças políticas que segundo alguns historiadores datam ainda do tempo da colonização, duas famílias nordestinas, Pereiras e Carvalhos, viviam em pé de guerra. Com o esfriamento dessas questões através do passar dos anos em 1907 uma discussão esporádica culminou com o assassinato de Manoel Pereira Jacobina, líder da família Pereira. Este, conhecido como Padre Pereira, por ter estudado num seminário em Olinda. Após esse assassinato, outros mais se verificaram entre ambas as partes. Sebastião, sendo o mais novo da família, foi encarregado de tomar a frente nas vinganças, pois para isso teria que se tornar um fora da lei, no que os irmãos, sendo todos casados e com filhos se viam impossibilitados. Para preservar seus irmãos Sinhô Pereira chamou para si a responsabilidade de continuar a luta armada, passando a comandar grupo de cangaceiros enquanto que os irmãos tomariam parte no fornecimento de armas e munições e da administração das fazendas. Este fato ocorreu em torno de 1916, ano em que Sinhô completara 20 anos de idade e ano também em que Virgulino ensaiava sua entrada nas hostes do cangaço em lugar não muito longe daquele cenário. Nesta luta de famílias, juntou-se Luiz Padre, primo de Sebastião onde juntos passaram a comandar os grupos. Em torno de 1919, Sinhô chega a conhecer Virgulino Ferreira que já travava uma luta contra a família de Saturnino de Barros, os Nogueira que coincidentemente tinha um forte parentesco com a família Carvalho. Em 1920, Sinhô Pereira se achando adoentado resolve abandonar o cangaço, deixando o seu grupo sob o comando do seu mais novo soldado, Virgulino Ferreira, que já havia sido batizado de Lampião. Sinhô Pereira e Luiz Padre se refugiam então nas terras do Piauí, sob a proteção direta do Padre Cícero do Juazeiro, que lhes dá garantias para a viagem. Pereira deixa para Lampião uma ultima missão: aniquilar um inimigo que havia mandado surrar um parente seu. Lampião, após passar no teste, é aclamado o mais novo chefe cangaceiro. VIRGULINO FERREIRA (LAMPIÃO) Mais uma vez a questão da eterna briga entre famílias rivais vem trazer à tona mais uma das muitas estórias de injustiças sociais. É a velha estória do: “por causa de um...” Virgulino Ferreira é o nosso principal assunto nesta palestra, então, como vamos estender mais adiante os traços principais da sua vida e consequentemente, sua entrada no cangaço, daremos uma rápida pincelada no tema para que possamos colocá-lo no hall dos mais famosos cangaceiros. Querer afirmar que Virgulino Ferreira foi um injustiçado, um pobre coitado que não tinha para si a proteção do poder público, etc. seria reduzir a tão pouco os nobres sentimentos de honra e dignidade que as famílias sertanejas de um modo geral e com pouquíssimas exceções demonstram ter. Virgulino Ferreira foi, entre tantos outros, um produto do meio em que foi criado, viveu, sofreu e amou. Uma terra inóspita, atrasada, distante dos grandes centros comerciais, onde o trato com o animal era o único meio de manutenção da vida e da família, deu à luz e viu crescer aquele que foi o maior gênio militar e o mais valente dos sertanejos que, a despeito de ter se envolvido na vida criminosa do cangaço, poderia ter sido um grande combatente da legalidade, dada a sua destreza nas armas, ao seu grandioso espírito de liderança e ao seu fervoroso patriotismo e amor à terra em que nasceu. Falar de Lampião significa repensar o que seria o sertão de hoje sem o cangaço de ontem, tido como a maior forma de insurreição ocorrida no nordeste do país. Lampião forçou, embora que involuntariamente, o sertão a mudar. Estradas tiveram que ser construídas, pois o “homem” tinha que ser alcançado. Escolas foram erguidas a fim de conter e educar os futuros lampiõezinhos que nasciam a cada momento no sertão. Lampião, com suas ações trouxe involuntariamente para o sertão alguma forma de progresso. Acabou quase que completamente com o poder centralizador do coronel. Com sua bravura e destemor desmoralizou muito poderoso e mandão naquelas terras. Tirando deles os seus maiores trunfos: dinheiro e poder. Após a sua morte, muito coronel foi perseguido e intimado a prestar contas à policia. Muitos tiveram suas fazendas invadidas pela policia em busca de armamentos e munições. Para quem conhece algo de história nordestina, em tempos outros a polícia jamais conseguira entrar na casa de um coronel, pois duas coisas a impediriam: os seus jagunços e a sua moral.



5. OS MAIORES COMBATES DE LAMPIÃO Em quase 20 anos de atuação nas caatingas sertanejas Lampião travou muitos combates, tanto contra a polícia, contratados, civis, etc. Porém existiram alguns destes que tiveram grande repercussão devido à brutalidade da ação ou até mesmo à ousadia de como isto se deu. Lampião era um estrategista. Segundo Frederico Pernambucano, uma das grandes autoridades do tema, Lampião foi um homem à frente do seu tempo. Noutras épocas, segundo o pesquisador, ele teria tido grande valia como guerreiro dado a sua destreza no manuseio das armas e sua coragem sem par frente aos mais terríveis obstáculos. Sem contar que, em seu tempo no comando de grupos e subgrupos, comandou verdadeiras feras humanas, homens rebeldes e destemidos que frente ao chefe pareciam simples cordeiros. AGUA BRANCA (AL) 28/06/1922 Após a morte dos pais, Virgulino, juntamente com os dois irmãos mais velhos resolvem abraçar a vida de crimes de uma vez, formando, a principio grupo próprio e que vez por outra agiam com os Porcinos ou os Matilde. Usando o argumento de que não podia trabalhar, pois era um perseguido da justiça, se achando injustiçado, passou a fazer solicitações em dinheiro a fazendeiros e pessoas de melhor situação financeira do lugar. Era o que dizia: - A gente não rouba, a gente pede... agora, se a pessoa não quiser dar... nós toma! Foi o que fez com D. Joana Torres, Baronesa de Água Branca. Mandou pedir-lhe certa quantia em dinheiro para que pudesse manter seu grupo e, feita à colaboração, não iria mais incomodá-la. A anciã, sendo pessoa de prestígio e poder na cidade, mandou reforçar seu território com uma força policial e, ao invés de dinheiro, mandou ameaças de morte, desafiando-o. Talvez se ela soubesse em que Virgulino viria se transformar anos depois, teriam mandado o dinheiro mesmo e viveria em paz. Segundo se conta, o grupo de cangaceiros entrou na cidade carregando redes nas costas representando defuntos que seriam enterrados na cidade. acontece que dentro das redes estavam as armas e os acompanhantes do enterro eram os próprios cangaceiros. A cidade foi tomada de assalto e o alvo principal foi a cadeia, onde foram encarcerados todos os policiais que estavam a serviço e quem estava preso na cela, foi solto. Lampião humilhou a Baronesa, fazendo a mesma desfilar de braços dados com ele pelo centro da cidade. Levou grande soma em dinheiro, além de vários artigos valiosos (peças de ouro, prata, etc)... INVASÃO DE BELMONTE (PE) 20/10/1922 Após entregar o comando do grupo a Lampião, Sinhô Pereira fez-lhe um pedido: atacar a cidade de Belmonte para matar o prefeito Luiz Gonzaga. Este, dias atrás, mandou aplicar uma surra num parente de Pereira, o fazendeiro Ioiô Maroto, através de um oficial da polícia de nome Peregrino Montenegro. O fazendeiro foi surrado na frente da esposa e das filhas por causa de questões políticas. No dia determinado Lampião entrou na cidade. Ao seu lado, Ioio Maroto que queria presenciar a morte do inimigo. A ação foi imediata. Morto o prefeito, o grupo se retirou com alguns feridos e três mortos. Os assassinos do prefeito foram os cangaceiros Cajueiro e Livino, este último irmão de Lampião. O corpo do Prefeito foi totalmente perfurado a golpes de punhal. Após estes dois grandes ataques Lampião ganhou notoriedade. A força policial passou a teme-lo. O povo apavorado ao primeiro sinal de invasão de cangaceiros corria feito louco, se internando na caatinga. O SAQUE DE SOUZA (PB) 27/07/1924 Em março de 1924, Lampião sofre um ferimento no pé direito quando nas imediações da Lagoa dos Vieiras foi cercado por um grupo da volante do major Teofanes Torres Ferraz, onde teve o calcanhar esfacelado por um tiro de espingarda, quando estava indo negociar armas e munições. Ferido, conseguiu se evadir do local do tiroteio com a ajuda dos dois cangaceiros que o acompanhavam indo se esconder na Serra das Panelas, onde um coiteiro trataria do seu ferimento. Com a volante do sargento Quelé (Clementino Furtado), que antes era um cangaceiro do seu bando e por causa de uma discussão com o bandido Meia Noite havia abandonado o bando, no seu encalço, Lampião foi mais uma vez cercado e, tendo que fugir teve o ferimento mais uma vez aberto. Na fuga, se perde do resto do grupo e por um milagre não é pego pela volante, pois se escondera atrás de umas folhagens e por pouco não é encontrado. Quatro meses depois, ainda em tratamento e se recuperando do ferimento, Lampião idealiza um assalto a cidade de Souza, na Paraíba. Procurado pelo cangaceiro Chico Pereira, que queria se vingar de uns desafetos nesta cidade, Lampião manda o irmão Antonio Ferreira e Sabino realizarem o feito como se ele próprio estivesse no comando. O saque foi terrível. O alvo seria a família Mariz, pois Otávio Mariz havia dado uma surra em Chico Lopes que possuía uma bodega na cidade antes de entrar no cangaço. Chico Pereira também tinha acertos de contas com esta família que fora co-responsáveis pela morte do seu pai. Invadida a cidade, sem nenhuma resistência, pois só havia 10 policiais no destacamento local e que se evadiram aos primeiros tiros, a mesma foi tomada por vinte e quatro horas. Fios de telegrafo foram cortados, estabelecimentos incendiados e o saque tiveram um saldo de 200 contos, uma pequena fortuna na época. A importância desse saque foi a presença de espírito do cangaceiro chefe, mesmo distante do palco de luta, o que, aliás, pouca gente sabia, quando outros achavam até que o bandido estava morto ou inutilizado. O dinheiro do saque foi dado, em parte, ao coronel José Pereira, de Princesa, PB, que era uma espécie de banco de Lampião. Este coronel futuramente viria a traí-lo, devido à grande quantia de numerário que este já havia amealhado do cangaceiro. Lampião jamais perdoou esta traição. SERROTE PRETO (AL) 22/02/1925 Em janeiro de 1925, já recuperado do ferimento no calcanhar, Lampião dá combate em custódia. De lá, envia telegramas desaforados para o governador do Estado avisando que no sertão era ele quem mandava. Em fevereiro, destroça em Alagoas as forças policiais de Pernambuco e Paraíba, na batalha conhecida como “Serrote Preto”. Foi nessa batalha que seu gênio guerreiro mais se destacou. Numa estratégia fenomenal coloca as forças para correr embaixo da chuva de balas do seu bando que brigava sempre cantando o hino da “mulher rendeira”. Os três irmãos eram imbatíveis no guerrear. Antônio Ferreira, que tinha o vulgo de ”vassoura”, lutava na retaguarda atacando as volantes por trás. Os soldados ficavam apavorados e desnorteados com este ataque. Livino Ferreira, o “esperança”, costumava avançar pelos flancos direito ou esquerdo no intuito de dispersar a volante e Virgulino na linha de frente, nunca brigava desprotegido. Cinco meses depois a polícia pernambucana indignada com o ataque de Alagoas, após um cerrado tiroteio, mata Livino. Ainda ferido Livino é levado para casa de coiteiros a fim de receber tratamento adequado, porém, devido à gravidade do ferimento o jovem vem a falecer oito dias depois. O desespero de Lampião é registrado em versos: “No Tenório, Lampião Chorou de fazer horror, Com pena de seu Livino, Que Belo Morais matou. “ SERRA GRANDE (PE) 26/11/1926 Em novembro de 1926, Lampião numa incursão em terras de Serra Talhada, seqüestra dois funcionários da Standard Oil Company onde solicita vultuosa quantia para o resgate. Numa ação desastrosa a volante pernambucana do Major Teófanes Torres Ferraz, sob o comando do tenente Higino Belarmino, ataca o grupo de cangaceiros nos paredões da Serra Grande, em Serra Talhada. Este combate rendeu a Lampião a maior vitória de sua carreira, pois conseguiram emboscar uma força policial composta pôr 300 soldados com apenas 90 cangaceiros. O grupo, bem entrincheirado, cercou a volante pondo-a para correr sem condições sequer de revidarem ao ataque. Muitos soldados foram mortos e os demais fugiram pelo mato, apavorados, deixando para trás armas e apetrechos. Poucos dias depois, Lampião sofre um golpe fatal. Perde o segundo irmão, Antônio, num acidente com arma de fogo. Uma brincadeira inconseqüente com o amigo Luiz Pedro tira a vida do mestre de dar “retaguardas” nos combates. Antônio sabia como ninguém cercar as volantes “pôr detrás” como dizia o irmão. Lampião não esconde o ressentimento e manifestando luto não mais corta os cabelos, salvo quando iam além dos ombros, o que vira moda no meio cangaceiro. Antônio antes de morrer, pede ao irmão que não puna Luiz Pedro. Este, resignado, jura ao chefe acompanhá-lo enquanto vida tivesse e morrer junto com ele, quando este dia chegasse. E foi o que aconteceu, no dia da morte de Lampião, Luiz Pedro morreu ao seu lado. Em cova rasa manda enterrar o irmão na fazenda aonde este veio a falecer. Dias depois a volante de Mané Neto estaciona no lugar e descobre, depois de espancar alguns moradores, o local da cova. Prontamente, cavam e retiram o corpo do cangaceiro. Num gesto de barbárie arrancam a golpes de facão a cabeça do defunto e enfiam numa estaca na beira da estrada para que todo mundo visse que Antônio Ferreira tinha morrido. A população em geral desaprovou o gesto de “barbárie” praticado pelo oficial. Posteriormente soube Lampião que o ato fora praticado pela volante de Nazaré, seus mais ferrenhos perseguidores. O cangaceiro, em contrapartida, rumou para aquelas ribeiras a fim de enfrentar os inimigos. E a luta prosseguia, cada vez mais ferrenha. Afinal, não era uma luta entre bandidos e polícia, mas uma guerra de vinditas entre homens valentes e sanguinários. Era, enfim, uma guerra pessoal. MOSSORÓ (RN) 13/06/1927 No ano de 1927, Pernambuco e estados vizinhos formalizam uma parceria para conter o banditismo crescente na região, em especial o bando de Lampião. O pacto consistia em caçar não só os cangaceiros, mas os principais protetores destes, sejam eles coronéis, oficiais e funcionários do governo a pessoas de menor importância, como lavradores ou moradores das vilas. Dentro de poucos meses a polícia de Pernambuco já dava conta da morte de 40 cangaceiros e da prisão de outros 198, todos ligados direta ou indiretamente ao grupo de Lampião. Com a polícia de vários estados fuçando em seu calcanhar, Lampião empreende uma fuga para o norte, marchando 400km e invadindo a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Com a fama desgastada e temendo ser desmoralizado pela polícia, Lampião faz propagar a sua tática de terror durante sua marcha para o norte: · Em quatro dias de cavalgada invade cerca de 40 localidades arrecadando mais de 50 mil réis; · Faz oito seqüestros a resgate; · Mata quatro inimigos em combate e 3 em luta individual; · Deixa vários feridos por surras, desfeitas e maltrato; · Comete saques, depredações e incêndios; · Divide o grupo em subgrupos fazendo crer que estava em vários lugares ao mesmo tempo, deixando as volantes confusas. Sua entrada em Mossoró foi desastrosa. A cidade muito grande e desconhecida ofereceu-lhe resistência fazendo-o perder na luta dois valentes cangaceiros: Colchete e Jararaca. Este último, ferido e aprisionado foi enterrado vivo numa cova do cemitério de Mossoró. Hoje o túmulo de Jararaca é visitado por romeiros, que fazem promessas e colocam flores e velas em sua lápide. Os penitentes o têm com santo. Jararaca era um ex-soldado do exército. Ferido na revolta de São Paulo onde servia no III Regimento de Infantaria voltou para Buíque onde nascera. Entrando para o cangaço, virou chefe de grupo. A população mossoroense reprovou a atitude dos soldados que enterraram o cangaceiro vivo. Este ato prova mais uma vez que cangaceiro e soldado eram da mesma natureza e praticavam os mesmos delitos. ANGICO (SE) 28/07/1938 No dia 28 de julho de 1938, numa quinta-feira, marcou-se a derrocada do cangaço. Uma volante com 48 policiais, sob o comando do Tenente João Bezerra, de Alagoas cercou a gruta situada em Porto de Folha, denominada Angicos, na fronteira entre Sergipe e Alagoas. Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, tombou sem vida e sem chances de lutar, junto com sua mulher Maria Déia e mais nove comparsas. A partir desse dia o cangaço, sem o seu representante maior, perdera a força e a razão de existir. Dos chefes de grupo que resistiram apenas Corisco, o diabo louro, se recusou entregar-se, vindo a falecer em 1940, atacado pela volante do Tenente José Rufino, quando se escondia na fazenda de um amigo. Com os dois braços inutilizados devido a ferimentos de bala, foi Corisco covardemente trucidado pela volante quando não mais oferecia resistência. Dadá, sua mulher, levara um tiro na perna que depois teve de ser amputada. Corisco teria de ser morto. Levava 300 mil réis nos bornais. Muita dúvida paira ainda no ar a respeito da morte do invulnerável Lampião. 20 anos de lutas foi o bastante para as polícias de 7 estados nordestinos reconhecerem sua força e perspicácia. Lampião era mesmo invencível. Os mais valentes e conceituados oficiais reconheciam sua força, tanto que jamais conseguiram se aproximar do bandido a ponto de prendê-lo ou matá-lo. Só haveria de existir uma maneira prática de dar cabo do rei do cangaço: A Traição. E foi o que foi feito. Em Piranhas, alguém denunciou à polícia o nome de um fiel coiteiro de Lampião. Pedro de Cândida. Este, acossado pela volante, torturado, humilhado e depois... Subornado, resolveu levar a tropa à gruta onde o chefe repousava. Para completar a traição seria preciso a garantia de que, num esconderijo tão eficaz as condições de uma reação fossem reduzidas às menores possibilidades. Foi então que surgiu a idéia do envenenamento. Todos foram degolados e despojados dos seus bens. Os corpos das mulheres foram seviciados e os anéis eram retirados junto com as mãos


6. GUERRILHA, ARMAMENTO E MUNIÇÃO ORGANIZAÇÃO Lampião tinha para si um grupo em perfeita harmonia. Espirituoso com os seus. Cruel com os inimigos sabia impor suas decisões trazendo temor até para com os homens de sua convivência. Como manter um grupo de muitos homens ficava muito oneroso, Lampião resolveu que seria melhor dividir o grupo em sub grupos. Assim sendo, escolheu os homens mais valentes e de sua confiança e distribuiu com estes, os homens do contingente total. Assim, tinha sob seu comando geral vários grupos que eram distribuídos em Diversos locais, dando a entender, por vezes, que o mesmo estava em vários locais ao mesmo tempo, pois os grupos quando praticavam alguma invasão ou saque, usavam do mesmo artifício que os demais, gritando descomposturas, saudando Lampião e cantando a Mulher Rendeira. TÁTICAS DE GUERRILHA Sua tática de guerrilha surpreendia até os mais experimentados comandantes de volante, a exemplo de Optato Gueiros, da polícia pernambucana e até o próprio Lucena, algoz do seu pai, de Alagoas, que chegou a elogiar para terceiros a valentia e experiência guerreira do opositor. Nos seus combates, usava táticas de: 1. DESPISTAMENTO: Quando tinha de se evadir usava alpercatas confeccionadas com o solado ao contrário para dar a impressão que, quando estava indo, parecer estar voltando; 2. CONTRA ATAQUE: Seu grupo principal sustentava o tiroteio na linha de frente enquanto a outra parte do grupo rodeava em circunferência o palco da luta para cercar a volante por trás. O que deixava os soldados aterrorizados e sem rumo. Outra parte do grupo cuidaria dos flancos direitos e esquerdos e a volante era assim cercada por inteiro causando grande prejuízo e uma fatal debandada. O mestre nos cercos por trás era Antônio Ferreira, seu irmão. 3. TERROR: A maioria dos crimes que Virgulino praticou foi sem dúvida alguma por vingança e quando os praticava fazia da maneira mais cruel possível. Isso caracterizava seu modo de ação e aterrorizava o povo de modo geral, pois a simples menção do seu nome, causava correrias e gritos em todo lugar. Os soldados temiam serem sangrados pelo punhal dos cangaceiros. É valido salientar que muitas dessas técnicas de terror foram aperfeiçoadas da maioria das forças volantes que de maneira quase unânime tinha fama de violentas ao extremo. O povo, em certas ocasiões, temia mais a presença da volante a de um grupo de cangaceiros. ARMAMENTOS E MUNIÇÃO As armas e munições que Lampião utilizava tinha de sair de algum lugar, e em grande quantidade. Para isso ele contou com a colaboração de vários coronéis e, pasmem muito oficiais de força volante. As armas e munições eram compradas por um preço muito acima do seu valor real. O material bélico que Lampião arrecadava nos saques era em quantidade bem inferior ao que necessitava, por isso, tendo que obter armamento moderno e de qualidade passou a comprá-las com o dinheiro tomado de outros coronéis e fazendeiros da região. Daí então se vê que o cangaço virava uma industria que enriqueceu ainda mais as pessoas de poder que faziam pactos com Lampião na calada da noite, à revelia do poder legal ou até mesmo com a ciência destes, que certamente também ganharia uma fatia desse bolo enorme. As armas mais comuns usadas pelos cangaceiros eram os rifles papo amarelo cruzeta, o winchester 44 e a pistola Comblain. Com a sua entrada no batalhão patriótico através do Pe.. Cícero ganhou do governo o fuzil mosquetão mauser 1908, arma privativa do exército e mais moderna que a da volante. TRUQUES Os cangaceiros se divertiam quando conseguiam ludibriar as volantes que tinham na sua maioria soldados do litoral que pouco conheciam de caatinga. Os tiroteios podiam ter duração de horas ou até de minutos. Quando se sentia em desvantagem Lampião fazia o grupo se retirar estrategicamente, se afastando do palco da luta lentamente, andando para trás. Muitas vezes o grupo, após andar léguas com a polícia no encalço, retornava para o lugar inicial fazendo a vez de perseguidor onde antes era perseguido. Um silvo de apito, um tiro seco de pistola ou até mesmo um olhar do chefe era o sinal da debandada estratégica.. ocorreram vários episódios em que, após a fuga, a polícia continuou atirando a esmo por horas a fio, quando o grupo já estava a léguas do palco da luta. 7. FARMACOPÉIA, CRENDICES E HÁBITOS Os cangaceiros, os soldados e o povo em geral acreditavam que Lampião tinha o corpo fechado. Sua maneira mística no agir, no falar e até no comportamento acrescentado com seu espírito de liderança fazia com que todos o respeitassem. Existem estórias que Lampião estando na casa de algum coiteiro preparando para sentar à mesa para almoçar, levantava-se subitamente e mandava o grupo se preparar para deixar o local. Minutos após o grupo se evadir eis que chegava uma força volante em seu encalço. Lampião tinha um sexto sentido muito aguçado. SONHOS Lampião acreditava em sonhos e premonições. Era um homem supersticioso, sabia interpretar com perfeição seus sonhos e o dos companheiros. CRENDICES Existia naquele tempo, como ainda hoje, várias crenças em coisas sobrenaturais. As sextas feiras eram sagradas pelo chefe, que jejuava e fazia orações junto com o bando. Ao meio dia e à meia noite, considerada pelo sertanejo como horas mortas, o cangaceiro, às vezes até no meio de um tiroteio, parava de atirar, se ajoelhava e fazia sinais e orações deixando o grupo e até os soldados admirados com suas ações. Andava com saquinhos de orações pendurados no pescoço. Jamais matou ou torturou um padre e nunca tirou dinheiro de igrejas. Não admitia tiroteio contra os templos. No combate de Mossoró, chegou a afirmar que o insucesso se deu porque a igreja principal da cidade tinha duas bundas (duas torres). O cangaceiro tinha muita fé. pedia de joelhos a Nossa Senhora que lhe desse pontaria certa, benzia-se na hora exata do assassinato e encomendava a alma da vítima. RELIGIOSIDADE (AS ORAÇÕES) Toda manhã ao acordar Lampião rezava com o grupo ao seu redor o ofício de Nossa Senhora. O grupo, contrito, o acompanhava nas orações. É sabido que, no dia de sua morte, aos primeiros sinais do amanhecer, Lampião rezou o oficio com alguns companheiros antes de ser trucidado pela força volante. Tinha em seus embornais diversas orações como a Pedra Cristalina, as treze palavras, ditas e retomadas, a oração do justo juiz. Em grandes aflições recitava o rosário apressado de N. Sra. Da Conceição, fazendo cruzes na cabeça. Porém Lampião não gostava de Candomblé e sim de rezas fortes. Era do catolicismo antigo: horas marianas, lunário perpétuo, novenas, missões abreviadas, etc. FARMACOPÉIA O homem sertanejo desconhece quase por completo os remédios de farmácia. Usam, portanto uma extensa farmacopéia homeopática que, segundo eles, cura todos os males. Cada planta tem o seu valor e sua importância. Abaixo, uma lista estranha de algumas meizinhas que serviam para curar males diversos (é importante advertir os presentes que não façam isso em casa, visto que no sertão não se podia recorrer à outra coisa senão a homeopatia): · Espinhas no rosto: esterco de galinha, de preferencia choca. · Amidalite: chá de formiga e cozimento de angico com sal. · Resfriado: Umbu verde cozido no leite. · Asma (puxado): Lambedor de cebola xexéu; banha de ema. · Boqueira: espuma de pau. · Verrugas: leite de avelós e sangue de menstruação (sem que o doente saiba). · Cólicas: água serenada. · Quedas: purgante de cabacinha. · Ferimento de bala: mata pasto pisado com água; colocar pimenta dentro do ferimento (dói muito, mas sara). · Mau hálito: mastigar olhos de goiabeira branca. ALIMENTAÇÃO Quando o grupo estava arranchado em alguma fazenda ou sitio de coiteiros, a comida era farta: carne assada, buchada, galinha cozida, bode assado, etc. Quando estavam acampados e tinham nos embornais algum mantimento, faziam a comida em trempes improvisadas, queimando gravetos e pedaços de madeira, que existia em grande quantidade. Quando não podiam fazer fumaça para não denunciar seus esconderijos cozinhavam dentro da terra, abafando a comida, fechando-a num buraco, utilizando o chapéu para abafar o fogo. Porém, em tempos difíceis, de correrias e sobressaltos, comiam o que tinham em mãos, desde frutos silvestres a rapadura misturada com farinha, alimento este indispensável nos bornais dos cangaceiros e volante. ndavam sempre com cuias, canecas, latas de doce vazias e cabaças penduradas pelo corpo para se servirem de alguma comida. AMBIENTES, HÁBITOS E COSTUMES AMBIENTE O ambiente dos cangaceiros era a própria natureza. Lampião passou vinte anos de sua vida morando em coitos, furnas, cavernas e acampamentos no meio da mata seca e bravia que é a caatinga. Forravam um pano de xita para deitar e com outro pedaço de pano faziam a coberta, enganchado em galhos de árvores. HIGIENE Não existia. A água era pouca e necessária para beber, não lavavam as mãos ao se alimentar nem os utensílios que usavam para comer. Era raro o banho e usavam várias peças de roupa de uma só vez. À medida em que essa roupa ia se sujando ou rasgando tiravam-na e se desfaziam da mesma, usando a seguinte. Abusavam do perfume para inibir o odor do suor. Perfumavam também suas montarias. A chegada dos cangaceiros era logo notada devido ao forte cheiro que exalavam. HÁBITOS Nos coitos, quando estavam à vontade, fumavam, jogavam e bebiam a valer. Jogavam sueca, trinta e um e sete e meio. Lampião perdia grandes quantias em dinheiro.. DANÇAS E CANTIGAS Gostavam de festas e sempre que podiam davam bailes com direito a sanfoneiro e mulheres. Dançavam com as moças e respeitando-as quando queriam. Em casa de gente conhecida a ordem era respeitar o estabelecimento e pagar o que se era consumido. Nos combates, cantavam versos da mulher rendeira, saltando e urrando como loucos, gritando impropérios para a polícia. COSTUMES O grupo sempre que podia andava montado, para encurtar os caminhos. Lampião, quando arrebanhava animais de algum fazendeiro, mandava entregá-los em seguida e pagava pelo favor prestado. Os cangaceiros, a exemplo do chefe gostavam de óculos, usando o escuro para protegerem-se do sol e até mesmo por vaidade. Adoravam tirar fotografias. Os cangaceiros chefes de bando eram tratados pelo chefe como compadre e não pelo vulgo. O cangaceiro que recebia o nome de compadre ficava vaidoso, pois isso significava prestígio. Todos usavam vários anéis em cada dedo. Quando um cangaceiro morria, outro recebia o seu vulgo. Isso era usado para confundir as pessoas, dando a entender que o bandido não morrera. CASTIGOS Praticavam horrores com suas vítimas. O traidor que caísse em suas mãos estava desgraçado: enforcavam, apunhalavam e cortavam sua língua. Lampião odiava delatores e polícia. Permitia que o cangaceiro Zé Baiano ferrasse as mulheres dos seus inimigos ou aquela que usasse maquiagem ou cabelo curto. Contasse que certa vez Lampião fez um bandido do seu grupo comer uma porção de sal porque este reclamou da comida insossa na casa de uma conhecida. Porém esta estória aconteceu realmente no bando de Antonio Silvino com o bandido Tempestade em 1914. AMOR E SEXO NO CANGAÇO AMOR A partir da entrada de Maria Bonita, em 1929, alguns cangaceiros também resolveram levar suas mulheres consigo. O bando entrava nas cidades e, quando se apaixonava por alguma moça levavam-na consigo. Se a moça se recusasse seguir com o mesmo, este a seqüestrava. A princípio a jovem resistia ao amor do bandido, porém com o tempo se acostumava e virava uma nova cangaceira. Embora se comente o contrário, muitas mulheres entraram para o cangaço por livre e espontânea vontade, a exemplo de Maria Bonita, Cila, Adília, etc. SEXO O sexo era praticado ali mesmo, no mato, embaixo dos lençóis aos sussurros e gemidos e perto do restante do grupo. Os demais, respeitosos, se entretiam com outras coisas e nem sequer olhavam para o que estava acontecendo. Existia antes de tudo respeito entre si e, claro, medo de se tornar inconveniente da parte de quem estava próximo. TRAIÇÕES Apesar de haver entre os integrantes do grupo um certo respeito para com a mulher do companheiro, houve apenas um relato de traição no bando de Lampião. Odília, mulher de Zé Baiano, o traiu com outro cangaceiro de nome Besouro. Descoberta a ação o rapaz se evadiu tomando rumo ignorado. A mulher foi morta a pauladas pelo marido traído, na frente de todo grupo e às vistas do chefe, que não se intrometeu nem deixou a esposa opinar. Quando um cangaceiro casado era morto a esposa teria que ser desposada por outro cangaceiro, caso contrário seria morta também, pois constituía um arquivo vivo. Cristina, mulher de Português, após a morte do marido se recusou casar-se com outro, pois queria ir embora para casa. Corisco mandou dois homens do seu grupo levá-la em segurança. No caminho, Luiz Pedro com seu grupo conseguiu matá-la. Pois se a mesma voltasse para casa poderia ser capturada pela polícia e, sabendo de todos os esconderijos do bando, poderia levar todos à morte.



LITERATURA DE CORDEL <> Dois ilustres folcloristas brasileiros, Luis da Câmara Cascudo e Manuel Diéges Júnior, trouxeram, contribuição ao problema da origem da nossa literatura de cordel. Cascudo em vários ensaios e livros, sobretudo no seu "Vaqueiros e Cantadores" e "Cinco Livros do Povo", e Manuel Diéges Júnior especialmente no ensaio "Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel". Eles nos mostraram a vinculação dos folhetos de feira, a partir do século XVII, com as "folhas volantes" ou "folhas soltas", em Portugal, cuja venda era privilégio de cegos, conforme informava Téofilo Braga. Na Espanha, o mesmo tipo de literatura popular era chamado de "pliegos suletos", denominação que passou também à América Latina, ao lado de "hojas" e "corridos". Tal denominação, como se sabe, é corrente na Argentina, México, Nicarágua e Peru. Segundo a folclorista Argentina Olga Fenandéz Lautor de Botas, citada por Diéges Júnior, estas "hojas" ou "pliegos sueltos", divulgados através de “corridos”, envolvem narrativas tradicionais e fatos circunstanciais - exatamente como a literatura de cordel brasileira. Na França, o mesmo fenômeno correspondia à "littèratue de colportage" - literatura volante, mais dirigida ao meio rural, através do "occasionnels", enquanto nas cidades prevalecia o "canard". Na Inglaterra - é informação de Jean Pierre Seguin, através de Roberto Benjamin -, folhetos semelhantes aos nossos eram correntes e denominados "cocks" ou "catchpennies", em relação aos romances e estórias imaginárias; e "broadsiddes", relativamente às folhas volantes sobre fatos históricos, que equivaliam aos nossos folhetos de motivações circunstanciais. Os chamados folhetos de época ou "acontecidos". Num ensaio intitulado "Origens da Literatura de Cordel", nós alongamos as notícias dessas origens do folheto de cordel não só no século XVII, na Holanda, como aos séculos XV e XVI na Alemanha. Foi através do ensaio da pesquisadora Marion Ehrhardt, intitulado "Notícias Alemãs do Século XVI sobre Portugal", publicado na revista "Humboldt" (nº 14, Hamburgo, 1966), que chegamos a essa evidência. Examinando folhetos sobre assuntos portugueses do século XVI, que resistiram ao tempo, - através de enfoque exclusivamente histórico - Marion Ehrhardt nos fornece informações suficiente para cortejo entre velhos folhetos germânicos e a literatura de cordel. Na Alemanha, os folhetos tinham formato tipográfico em quarto e oitavo de quatro e a dezesseis folhas. Editados em tipografias avulsas, destinava-se ao grande público, sendo vendidos em mercados, feiras, tabernas, diante de igrejas e universidades. Suas capas (exatamente como ainda hoje, no Nordeste brasileiro), traziam xilogravuras, fixando aspectos do tema tratado. Embora a maioria dos folhetos germânicos fosse em prosa, outros apareciam em versos, inclusive indicação, no frontispício, para ser cantado com melodia conhecida na época. Já a respeito dos panfletos holandeses, tivemos as primeiras notícias através do prof. José Antônio Gonçalves de Mello, nossa maior autoridade em história do domínio holandês no Nordeste brasileiro. Ele examinou panfletos ("pamflet", em holandês) do século XVII, concluindo sobre o seu conteúdo: "Os temas tratados, pelo menos em relação ao Brasil, que são os que unicamente conheço, são políticos, econômicos, militares, quando não são terrivelmente pessoais. Um relativo à Guiana então holandesa, relata um crime, no qual estão envolvidos personagens que vieram em Pernambuco. Há os em versos, mais a maioria em prosa, sendo freqüente a forma de diálogos ou em conversas entre várias pessoas. Uns só de uma folha; a maioria contém entre 10 a 20 páginas, em tipo gótico". Tudo isso mostra à evidência que, embora tenhamos recebido a nossa literatura de cordel via Portugal e Espanha, as fontes mais remotas dessa manifestação estão bem mais recuadas no tempo e no espaço. Elas estão na Alemanha, nos séculos XV e XVI, como estiveram na Holanda, Espanha, França e Inglaterra do século XVII em diante. No Brasil - não mais se discute -, a literatura de cordel nos chegou através dos colonizadores lusos, em "folhas soltas" ou mesmo em manuscritos. Só muito mais tarde, com o aparecimento das pequenas tipografias - fins do século passado -, a literatura de cordel surgiu e se fixou no Nordeste como uma das peculiaridades da cultura regional. <> Embora o tema (nomes e datas fundamentais em torno dos poetas populares do Nordeste) já tenha sido rasteado por numerosos autores, vamos resumir o que Átila de Almeida condensou, a propósito, em recente ensaio intitulado "Réquiem para a Literatura Popular em Verso, Também dita de Cordel", in "Correio das Artes" João Pessoa, 01.08.1982. O ano de 1830 é considerado historicamente, o ponto de partida da poesia popular nordestina. Em torno dessa data nasceram Uglino de Sabugi - o primeiro cantador que se conhece - e seu irmão Nicandro, ambos filhos de Agostinho Nunes da Costa, o pai da poesia popular. Nascidos na Serra do Teixeira (PB), entre 1840 e 1850, foram seus contemporâneos os poetas Germano da Lagoa, Romano de Mãe D´Água e Silvino Pirauá. E já contemporâneo destes, Manoel Caetano e Manoel Cabeleira. São os mais antigos cantadores conhecidos, todos chegando à década que se iniciou em 1890. A década que começou em 1860 viu nascer grandes nomes, como João Benedito, José Duda e Leandro Gomes de Barros. Mais adiante, na década de 1880, nasceram Firmino Teixeira do Amaral, João Martins de Ataíde, Francisco das Chagas Batista e Antônio Batista Guedes. Depois dessa época até 1920 - afirma o escritor paraibano -, "a poesia escrita e oral se tornaram coqueluche e os poetas se multiplicam como moscas, principalmente nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará". Só nesse período foram registrados 2.500 poetas populares! O movimento editorial do cordel, como se sabe, inicia-se com Leandro Gomes de Barros, Chagas Batista e Pirauá. Embora se acredite que Leandro e Pirauá começaram a publicar folhetos antes de 1900, não existem provas materiais desse fato. Em 1902 Chagas Batista publicou um folheto, em Campina Grande, que existe ainda hoje na Casa "Rui Barbosa", no Rio de Janeiro. Há um outro de Leandro, publicado no Recife, em 1904. A partir dessas datas, Leandro e Pirauá dominam o mercado de folhetos de cordel. Depois de 1910, surgem outros nomes de autores de folhetos, como Antônio da Cruz, Joaquim Sem Fim, Cordeiro Manso, Manuel Vieira do Paraíso, Antônio Guedes, Joaquim Silveira, João Melchíades, João Martins de Athayde. Na década de 20, emerge outra leva de poetas de bancada, como Romano Elias da Paz, José Camelo de Melo Rezende, Manoel Tomás de Assis, José Adão Filho, Lindolfo Mesquita, Moisés Matias de Moura, Arinos de Belém, Antônio Apolinário de Souza e Laurindo Gomes Maciel. Nas alturas de 1945, Átila de Almeida vislumbra o que chama de "germe destruidor no comércio de folhetos". Uma fase de decadência em conseqüência de novos fatos determinantes das transformações sociais, como o rádio, o cinema, a aceleração do processo de industrialização do País, a construção de Brasília, a facilidade de novos meios de transporte, estimulando as migrações internas no Brasil. Esses fatores alteram a mentalidade do homem rural nordestino, o grande consumidor da poesia popular escrita oral, ou cordel. <> Num ciclo de estudos sobre literatura de cordel, realizado em 1976, em Fortaleza, sob o patrocínio da Universidade Federal do Ceará, indagaram ao prof. Raymond Cantel, da Sorbonne, grande estudioso do assunto, qual seria a definição mais compacta que se poderia dar do cordel. Seria apenas - perguntamos - poesia narrativa, impressa? Imediatamente, ele complementou: Popular. Então, aqui está a mais reduzida, a mais simples definição sobre cordel: Poesia narrativa, popular, impressa. Todo o acervo da literatura de cordel - cerca de quatorze mil folhetos publicados, para Átila de Almeida, embora outros estudiosos ampliem esse número - não tem sido outra coisa sequer isto: poesia narrativa, popular impressa. De maneira que, qualquer outra manifestação semelhante ao cordel, cujo conteúdo divirja deste trinômio, deve ser apreciada com reserva. Não é poesia de cordel autêntica. Só existe uma maneira de identificar o cordel legítimo: é através da analise da ideologia que ele reflete. O poeta popular nordestino é conservador, por excelência. Há que examinar detidamente cada conteúdo dos folhetos, através da linguagem e das idéias que ali transparecem com espontaneidade. Em geral, o poeta popular nordestino é católico ortodoxo. É amigo do vigário, defendendo-o em todo o sentido. Por sua vez, os padres prestigiam a tarefa dos poetas populares, quando não a exploram. O poeta popular é sempre a favor do governo. Há mesmo um célebre ditado que diz: "Contra o governo, rio cheio e pomba dura, etc..." Como igualmente o poeta popular repudia ou ironiza as inovações da tecnologia moderna. O que não quer dizer que não haja exceções, um bom exemplo é o nosso conhecido conterrâneo, Patativa do Assaré. <> Aspecto de grande importância do Cordel é, sem dúvida, a xilogravura de suas capas. Sabe-se que o cordel antigo não trazia xilogravuras. Suas capas eram ilustradas apenas com vinhetas - pobres arabescos usados nas pequenas tipografias do interior nordestino. A partir da década de trinta, surgiram folhetos trazendo nas capas clichês de artistas de cinema, fotos de postais, retratos de Padre Cícero e Lampião. As xilogravuras ou "tacos" como ainda hoje preferem chamar os artistas populares, usando madeiras leves, como umburana, pinho, cedro, cajá. O gravador Dila foi o primeiro a usar matrizes de borracha vulcanizada, inaugurando assim a linogravura do cordel. O que significam, em verdade, essas rudes criações dos artistas populares dentro do contexto mais amplo das artes plásticas brasileira? Um dos mais ilustres críticos de arte do País, Antônio Banto, declarou-nos que as xilogravuras dos artistas do cordel constituem a maior contribuição que o Nordeste já ofereceu ao Brasil no campo das artes plásticas. A xilogravura - arte de gravar em madeira - é de provável origem chinesa, sendo conhecida desde o século VI. No Ocidente, ela já se afirma durante a Idade Média, através das iluminuras e confecções de baralhos. Mas até ai, a xilogravura era apenas técnica de reprodução de cópias. Só mais tarde é que ela começa a ser valorizada como manifestação artística em si. No século XVIII, chega à Europa uma nova concepção revolucionária da xilografia: as gravuras japonesas a cores. Processo que só se desenvolveu no Ocidente a partir do século XX. Hoje, já se usam até 92 cores e nuanças em uma só gravura. No Brasil, a gravura erudita começa em 1912, com a exposição do artista alemão Lasar Sagall, em São Paulo. Posteriormente, outro artista importante desse gênero de arte foi Oswaldo Coledi, carioca, filho de suíços, professor da Escola de Belas Artes, que deixou discípulos distintos, como Lívio Abramo, Yolanda Mohaliy, Carlos Scliar, todos também xilógrafos reputados, ao lado de nomes mais modernos como Marcelo Grassmann, Fayga Ostrower, Maria Bonomi, Gilvan Samico e outros. Samico interessou-se vivamente pelas xilogravuras dos artistas populares do Nordeste. Nelas, admirou a genuína expressão da criatividade do nosso artista primitivo: as soluções plásticas sintéticas, o traço forte, incisivo, a rude e bela expressividade dos desenhos, o mundo fantástico dos seres míticos e mágicos das concepções ingênuas. Ao lado de sua literatura, essas xilogravuras do cordel refletiam ideais, anseios e sonhos do homem nordestino. Nos dias atuais vários são os xilógrafos de cordel que se destacam. O pesquisador Joseph M. Luyten, no ensaio "A Xilogravura Popular Brasileira e suas Evoluções", enumera os seguintes xilógrafos: Abraão Batista (Juazeiro); Ciro Fernandes (Rio de Janeiro); José Costa Leite (Condado); Marcelo Alves Soares (São Paulo); Minervino Francisco Silva (Itabuna); Severino Gonçalves de Oliveira (Recife) e J. Borges (Bezerros). Há no País, em nossos dias, endeusado interesse pelas obras dos nossos xilógrafos populares. Também nos EUA e na Europa. Há uns 15 anos atrás, a Universidade Federal do Ceará promoveu exposição de xilogravuras de cordel em Paris, com grande sucesso. EM 1978, em São Paulo, na Bienal Latino-americana, o colecionador Luis Ernesto Kawall expôs e sendo a mostra premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Na década de setenta, apareceram no Nordeste vários álbuns de xilogravuras de cordel. Destacamos os publicados pela: Divisão de Cultura da Prefeitura da Cidade de Salvador, Bahia, intitulado "Xilogravura Popular - Cordel", reunidos xilos de Minelvino Francisco para folhetos de Rodolfo Coelho Cavalcante, com apresentação de Rosita Salgado; o da coleção Théo Brandão, "Xilogravuras Populares Alagoanas" (Alagoas, 1973), inserindo tacos de José Martins dos Santos, Manoel Apolinário, Antônio Almeida e Antônio Baixa-funda, com apresentações de Pierre Chalita e Théo Brandão; e "Transportes na Zona Canavieira", divulgando 21 xilogravuras de José Costa Leite (Instituto do Açucar e do Álcool, Serviço de Documentação, Recife, 1972), com apresentação de Mário Souto Maior.





8. CORONÉIS, COITEIROS E VOLANTES CORONÉIS Um registro feito pelo pesquisador Frederico Pernambucano de Melo, em seu livro “guerreiros do Sol” mostra bem que em tempos de antanho, política e banditismo eram galhos de uma mesma árvore e pôr conseguinte praticavam os mesmos abusos, com apenas uma agravante: enquanto o bandido lutava para se manter o político lutava pelo poder. Abaixo, algumas ocorrências praticadas pôr alguns coronéis que, em sua maioria, tinham vida política acentuada: 1901- O Coronel Antônio Joaquim depõe violentamente seu correligionário político Antônio Róseo Jamacaru, assumindo o comando da situação em Missão Velha; 1904- Após um tiroteio que se inicia no dia 27 de junho e se prolonga até as 15:00 horas do dia 29, é deposto o chefe político do Crato, coronel José Belém de Figueiredo, pelo coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, que recrutara um verdadeiro exercito privado em municípios vizinhos e no sertão pernambucano; 1905- Após oito horas de fogo, cai o chefe político de Barbalha, coronel Manuel Ribeiro da Costa, deposto pôr um correligionário seu; 1906- Chefiando 400 homens, o “major” José Inácio de Souza, do Barro, depõe o chefe situacionista de Aurora, coronel Leite Teixeira Neto, pondo em seu lugar o coronel Cândido Ribeiro Campos. O deposto tem seus bens saqueados e incendiados e é expulso do município; 1907- Os chefes políticos de Milagres, Missão Velha, Barbalha e outros municípios reúnem cerca de mil homens em armas para atacar o coronel Antônio Alves Pequeno, do Crato, que levanta um exército equivalente em sua defesa; 1908- O coronel Gustavo Lima depõe à bala o próprio irmão, coronel Honório Lima, assumindo o comando político em Lavras; 1909- A vila de Campos Sales é atacada pelo coronel Raimundo Bento de Souza Baleco, que depõe o chefe político José Maia; 1910- O coronel Raimundo Cardoso dos Santos, é deposto à bala, a 13 de junho, por líderes políticos de Brejo Santo; 1911- É assassinado em Fortaleza, por motivos políticos, o coronel e então deputado estadual Gustavo Lima, chefe de Lavras; Eis aí o panorama político e social do sertão nordestino dos tempos de Lampião. A lei do corre ou morre. A valentia não era dom, mas atributo para se viver naquela terra cinzenta, de injustiças sociais e chefes políticos insolentes que não eram taxados de bandidos, mas era tão ou mais bandido do que o tabaréu que para ele trabalhava e dos cangaceiros que viviam das armas, cobrando tributos e saqueando propriedades. COITEIROS Um homem virava coiteiro, naquela época, por cinco razões básicas: · Medo de morrer · Vingança (usando o cangaceiro para realizar um crime de morte) · Gratidão (por receber favores e dinheiro, retribuindo-lhe os favores) · Interesse comercial (o dinheiro) · Política (no caso, os coronéis coiteiros) VOLANTES As volantes eram formadas por indivíduos nascidos e educados no mesmo ambiente dos cangaceiros. O que os diferenciavam dos grupos de bandoleiros era apenas o fato de fazerem parte da força legal, ou seja, eram homens da lei. Existiam grupos oficiais, que faziam parte do contingente normal da força policial, e os contratados que eram voluntários ou convidados a ingressar na força policial. Um dos grupos mais importantes da época, que davam caça a cangaceiros e não faziam parte da policia como força oficial eram os nazarenos, onde hoje se situa Carqueja/PE. Estes homens dedicaram suas vidas no combate aos bandos de cangaceiros. Seus métodos, seus interesses, sua forma de ação em muito se igualava à dos cangaceiros agirem pois eram às vezes até mais violentos que os próprios bandidos pois se diziam “autoridades”. Muito crime praticado pela força volante foi atribuído ao cangaceiro.





BIBLIOGRAFIA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO - SBECC.N.P.J. 07.220.746/0001-50Foi fundada em 13 de junho de 1993, data aniversário que lembra a entrada de Lampião e seu bando na cidade de Mossoró-RN. É uma entidade sem fins lucrativos que coordena um maior entrosamento entre os pesquisadores, escritores e artistas brasileiros que estudam edivulgam o Nordeste. Assuntos como Cangaço, Coluna Prestes, Canudos, revoltas: Praieira, Balaiada, Cabanagem, Quebra-Quilos, Juazeiro, Padre Cícero. Quilombos, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e a Música Popular Nordestina; a Cultura e a Arte nordestinas são prioridades nos estatutos da SBEC para debatermos e divulgá-los em eventos, no Brasil e no exterior.Quem e quantos são os integrantes?Escritores, Pesquisadores, Poetas, intelectuais e alunos que se interessam pela pesquisa hitórico-sociológica do Nordeste e do Brasil.Qual a abrangência dessa entidade?Inúmeros segmentos da sociedade cultural, no âmbito das pesquisas em vários Estados do Brasil, com sócios espalhados por este Pais continental.
A nova diretoria tomou posse em 19/03/2004, para o biênio 2004/2006:Presidente: Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira - PBVice-Pte: Gutemberg Medeiros Costa - Natal - RN1º Secretário: Geraldo Maia do Nascimento - RN2º Secretário: Alcino Costa - SE1º Tesoureiro: Manoel Nascimento - RN2º Tesoureiro: João Pegado de Oliveira Ramalho - RNAssessor de Comunicação: Paulo Medeiros Gastão - Triunfo - PE.Conselho Consultivo:Clotilde Tavares - Campina Grande - PBRaimundo Soares de Brito - Mossoró - RNMúcio Araújo - Natal - RNAderbal Nogueira - Fortaleza - CEÂngelo Osmirio - Fortaleza - CEPaulo Moura - Recife - PECarlos Eduardo Gomes - Rio de Janeiro - RJ

Nesta página o leitor saberá quais foram os livros consultados por mim e quais as fontes e lugares visitados para que esta pesquisa tivesse êxito. Enquanto este material esta sendo selecionado leia abaixo a Biografia de Paulo Moura (o Dunga).

NOME: José Paulo Ferreira de Moura (Paulo Moura)
Poeta, pesquisador, estudante de Historia pela FUNESO e membro do conselho consultivo da SBEC. Profere PALESTRAS sobre os temas CANGAÇO e Literatura de CORDEL. Veja abaixo um breve histórico de minhas atividades.
email: paulu@globo.com / site: www.paulodunga.hpg.com.br/
Fone: 081 8864 8384

Histórico profissional;

Funcionário da CBTU-METROREC desde 1986. Bacharel em Relações Públicas e Professor de História (cursando na FUNESO). Poeta, Escritor e Pesquisador do Cangaço. Membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC). Já Proferiu palestras sobre o tema LAMPIÃO e o CANGAÇO nos seguintes lugares:

1. METROREC (Homenagem ao dia do Ferroviário no ano de 2002 e 2003),
2. SENAC (para alunos do Centro de Moda e Beleza),
3. COLÉGIO CENECISTA DE TIMBAÚBA/PE (a convite do secretário de Finanças da cidade de Ferreiros, Dr. Édipo Monteiro).

Publicações:

1. Palestra “Lampião e o Cangaço do Nordeste”; proferida quando da realização do evento Semana do Ferroviário no Museu do Trem (Recife) entre 24 e 28/09/01; entre 23 e 26/09/02 (no auditório da CBTU) e em 28/11/02 no SENAC. No dia 01/08/2003, proferiu palestra no Colégio Cenecista, em Timbaúba/PE. Na FUNESO, em 05/03/2005 para estudantes do Curso de História e Letras.



LIVROS :

1. Livro “Causos e Poesias do Metrorec” (Editado pelo METROREC/CBTU, onde constam as melhores poesias do concurso no qual foi contemplado com o 1 e 3 lugares);
2. Livro: “Alguma Poesia” (aguardando publicação);
3. Livro “LAMPIÃO e sua história contada em Verso e Prosa” (lançado em 28/08/2002, pela edit. Coqueiro);
4. Livro: “Minervino Cangaceiro” - Ficção (em fase de acabamento);

CORDEIS :

1. Cordel “LAMPIÃO” ; Edit. Fundação Vingt Un Rosado (Coleção Mossoroense)
série “D” ; n. 31 da Coleção Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, 2000;
2. Cordel: A peleja Virtual de Paulo Dunga e Mauro Machado (Edit. Coqueiro, 2003);
3. Cordel: A chegada de Lampião no Deserto Iraquiano (Edição independente)
Participação em Eventos:

1. Seminário Cultural “500 Anos do Rio São Francisco” , realizado na cidade de Piranhas/ Al entre os dias 01 e 03/10/2001, na qualidade de pesquisador da SBEC;
2. Evento: O Julgamento de Lampião , realizado na fazenda Passagem das Pedras, Serra Talhada/PE em 14/04/2002 a convite da Fundação Cultural Cabras de Lampião;
3. Evento: O julgamento de Lampião , realizado em Mossoró/RN, em Junho/2002, a convite do Pres. da SBEC, Dr. Paulo Medeiros Gastão;
4. Seminário Cultural : A importância do Cangaço na Cultura Nordestina , realizado em Mossoró, junho/2002;
5. Seminário Cultural: Modernidade e Arcaismo nos Sertões do São Francisco , realizado em Piranhas/AL entre 13, 14 e 15 de Novembro de 2002, compondo a comitiva da SBEC, a convite da Prefeitura Municipal de Piranhas/AL;
6. Missa do Cangaço no sitio Passagem das Pedras, Serra Talhada/PE de 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002 a 2003;
7. Participação de Recital de Poesias em Garanhuns/PE, Circuito do Frio - 2003, a convite do site RASCUNHOS e FUNDARPE.
8. Participação de Recital de Poesias no Espaço Pasárgada, casa de Manoel Bandeira, como participante do site RASCUNHOS a convite do jornalista Valdir Coutinho.

Publicações na Internet

1. Site próprio: www.paulodunga.hpg.com.br (Lampião e o Cangaço);
2. Poesias Publicadas no site: www.rascunhos.com.br;
3. Cordel Publicado no site: www.cabrasdapeste.hpg.com.br;
4. Artigos Publicados no site: www.historiatual.com.br;
5. Poesias Publicadas no site: www.povaoecia.hpg.com.br