história e democracia

Friday, April 21, 2006

O FENÔMENO CANGAÇO: Saiba Mais.....

2. O FENÔMENO CANGAÇO CANGAÇO A SAGA DO CANGAÇO NO NORDESTE A origem do cangaço ou banditismo social, como era denominado, se fez presente no Brasil nos meados do século XVIII, com o aparecimento de pequenos grupos de salteadores armados que andavam pelas regiões sertanejas (e algumas vezes no agreste) praticando assaltos, extorsões e crimes de assassinato. CANGAÇO seria uma palavra derivada de CANGA que é uma peça de madeira que prende um conjunto de bois ao carro ou arado, exprimindo, portanto, o fato de a pessoa estar submetida a um senhor. A um jugo. O termo CANGAÇO define todo aparato que ornamenta a vestimenta do cangaceiro (bornais, armamentos, munição, comidas, roupas, dinheiro, etc.) que o mesmo levava consigo e jamais se desfazia deles nem nos momentos mais tranqüilos, salvo na hora do banho, quando tinha essa oportunidade. Era comum ao cangaceiro, dormir e até mesmo “namorar” totalmente paramentado com aqueles apetrechos, pois, sabia, a qualquer hora poderia estar sendo atacado pela policia volante e não teria tempo de se equipar para fugir ou reagir. A ORIGEM DO CANGAÇO Existem várias vertentes para definir a origem do cangaço, porém os principais motivos, causas e efeitos da existência desta criminalidade tão persistente, teriam sido entre outras coisas o culto a valentia e a violência no sertão como efeito dessa reação enérgica aos problemas que o levava a abraçar esta vida. Contudo, a causa do surgimento do cangaço está na crescente e visível falta de justiça social no sertão perpetuado pelos grandes latifundiários cognominados coronéis que tudo podiam e em tudo mandavam. O tabaréu ou matuto, vivia sob o jugo do coronel. Este, com seus jagunços armados tinha à sua disposição verdadeiras milícias para protege-lo de quem quer que viesse incomodar ou ameaçar seus domínios. A fome, a seca, a falta de assistência social, juntamente com a brutalidade do coronel e a violência da policia, que existia apenas para defender os interesses da classe dominante, forjou uma ala de excluídos sociais. Desse grupo surgiu o fanático religioso na figura do beato que vivia se penitenciando e esmolando nas portas das igrejas ou andando em grupos, numa procissão de famintos. E o bandido salteador que, valente e embrutecido reagiu com violência às investidas das classes mais favorecidas que só visavam explorar o povo em geral, em detrimento de sua riqueza e poder, cada vez mais crescentes. Não aceitando viver sob o jugo do coronel, na qualidade de jagunço ou alugado, passou a formar grupo próprio, vivendo sem lei nem rei, como diziam, a tomar “pelas armas” e extorquir poderosos na promessa indireta de proteger sua propriedade ou simplesmente de deixa-lo em paz, o que já era muita coisa. OS TRÊS TIPOS DE CANGAÇO É bem verdade que existiam situações e casos diferenciados de o sujeito abraçar a vida criminosa do cangaço. Para isso, os pesquisadores do tema ousaram distinguir o cangaço em três subtipos que, ao meu ver, sempre terminam se unindo em uma só modalidade. O CANGAÇO DE VINGANÇA era o tipo mais comum. O sujeito se achando desfeiteado por alguém seja por causa de uma surra dada em si ou num parente seu, seja numa disputa por terras ou uma briga entre famílias, o que era muito comum, seja no assassinato praticado por alguém a um ente querido seu ou por muitos outros fatores o indivíduo abraçava a vida de crimes com a intenção direta de vingar-se do inimigo. Normalmente, após cumprir o seu objetivo de vingança o sujeito abandonaria a vida da espingarda e voltava aos afazeres de outrora, porem, isso era de certo modo difícil em razão do mesmo, após virar um criminoso passar a ser também um foragido da justiça. É daí que surge O CANGAÇO DE REFÚGIO onde o indivíduo após cometer um crime, seja de vingança ou outra motivação qualquer o forçou a pedir refúgio nas hostes do cangaço (o grupo de Lampião era cheio deles) quando não entrava num desses grupos de bandoleiros o indivíduo se apadrinhava com um coronel e se refugiava em seus domínios, mas mesmo assim iria virar jagunço ou pistoleiro pela simples gratidão ao acolhimento do seu, agora, novo patrão. O CANGAÇO MEIO DE VIDA é o derradeiro subtipo. Este seria a forma de o indivíduo que praticou certo crime, não mais podendo retomar a sua vida de outrora, devido às perseguições que sofreria e não querendo se sujeitar à proteção de um coronel continuava na vida do cangaço e fazia dela o seu meio de manutenção, esta uma sina que levaria consigo até o dia de sua morte, matando sempre que podia, os seus perseguidores e vingando quase sempre os inimigos dos seus companheiros de trabalho. Na maioria das vezes o cangaço era um caminho sem volta. Raros foram os casos de cangaceiros que entraram nessa vida e, após acharem-se vingados, conseguiram sair ilesos, retornando à vida de outrora. Um dos poucos exemplos desse caso é o cangaceiro Sinhô Pereira que conseguiu se refugiar no Piauí, com a proteção do Padre Cícero, após se vingar de grande parte dos seus inimigos. Sinhô Pereira, ao deixar o cangaço, entregou a coroa de rei ao não menos famoso Lampião, que herdou deste seu primeiro chefe o comando de numeroso grupo e a responsabilidade de matar posteriormente mais um desafeto de Sinhô Pereira, Luiz Gonzaga Ferraz, prefeito de Belmonte, que dias atrás mandara aplicar uma surra num parente de Pereira. Sinhô Pereira era neto do barão do Pajeú, e vivia numa guerra secular contra a família Carvalho. Dizem inclusive que estes desentendimentos datam de época anterior à colonização do nosso nordeste sertanejo.





3. VIRGULINO FERREIRA (LAMPIÃO) VIRGULINO FERREIRA DA SILVA A ORIGEM No ano de 1897, a 7 de julho, nasce o menino Virgulino Ferreira da Silva, no sitio Passagem das Pedras, na antiga Vila Bela, hoje Serra Talhada. A controvérsia da data existe, mas se torna irrelevante frente às dificuldades encontradas na época – como ainda hoje em dia – de se registrar uma criança no sertão nordestino, pois os cartórios ficam normalmente nos grandes centros comerciais, distante da maioria da população que, pobre e sem instrução tardam em recorrer a estes órgãos para registrar suas proles. Alguns historiadores teimam em dizer que Virgulino nasceu em 1898 por causa de um batistério expedido no município de Tauapiranga pela diocese local. Acontece que, tanto quanto o registro de nascimento, o batismo também era feito em um considerável espaço de tempo, a partir do nascimento do bebê. Daí a confusão com os números. A FAMÍLIA Virgulino foi o segundo filho de José Ferreira da Silva e Maria Lopes dos Santos. O casal teve, ao todo, nove filhos, sendo cinco homens e quatro mulheres, a saber: Antonio, Virgulino, Livino, Virtuosa, João, Angélica, Maria, Ezequiel e Anália. O velho José Ferreira trabalha de Almocreve, que na linguagem de hoje seria um tipo de vendedor ambulante que andava com uma tropa de burros levando toda sorte de apetrechos que fazem parte do dia a dia das comunidades sertanejas, desde cereal, carne seca, mantas, tecidos, artigos de couro, etc. A maioria dos filhos homens ajudava o pai neste afazer enquanto que as mulheres se ocupavam da casa e da confecção de rendas. Tinham também alguns animais, caprinos e bovinos, que criavam no regime de solta, ou seja, os animais viviam soltos dentro da caatinga e, na necessidade de capturar alguns destes os filhos penetravam na mata em busca dos mesmos. Nesta atividade Virgulino se aperfeiçoou com destreza, ganhando o elogio e a admiração de todos. Outra atividade que fazia com tamanha perfeição era a de amansador de animais de montaria. Tanto êxito teve nessa profissão que era requisitado pelos fazendeiros vizinhos para tratar dos animais das fazendas. A vida daquela gente humilde transcorria normalmente e o trabalho era a essência de todo progresso da família. O estudo, que devido ao acúmulo de trabalho e à falta de escolas, estaria relegado a segundo plano. Porem, quando alcançou a idade entre 7 e 10 anos o menino Virgulino aprendeu algumas letras na escolinha do professor Domingos Soriano e Justino Nenéu, educadores residentes em Nazaré, povoado próximo da fazenda Passagem das Pedras. Este aprendizado não teria durado sequer 3 meses, o bastante para que Virgulino aprendesse a ler e escrever. Diz-se que ele havia dito ao tio Mané Lopes, responsável pela sua entrada na escola que o que aprendera “pra vaqueiro já bastava”, pois era o que queria ser. O PRINCIPIO DE TUDO Próxima à fazenda Passagem das Pedras existia uma propriedade de nome Pedreira, de Saturnino Alves de Barros. Este fazendeiro tinha dois filhos, um deles, José Alves de Barros ou Saturnino das Pedreiras seria o móvel de toda intriga que eclodiria com a entrada de membros dos Ferreiras no cangaço, a saber: Virgulino, Antonio e Livino. Inveja, discordância política, ignorância e um suposto roubo de animal foram o estopim para que as duas famílias, que antes até filhos apadrinhados tinham, enveredassem numa guerra de vinganças que transformou o sertão do inicio da década de 20 num pandemônio. OCORRÊNCIAS FATAIS Por volta de 1915, quando uma das maiores secas assolou o sertão, ocorreu o sumiço de alguns caprinos de propriedade dos Ferreira. Na investigação, feita pelo tio de Virgulino, Mané Lopes, que era inspetor de quarteirão na época, foram descobertos peles dos caprinos no sitio de um morador de José Saturnino. Este morador, de nome João Caboclo, foi preso e levado à presença do delegado. Saturnino, se sentindo ofendido com o que fora feito com um empregado seu reagiu com má política. Usando do prestigio do pai e do agora sogro, José Nogueira, fazendeiro remediado daquelas ribeiras, conseguiu a soltura do suposto ladrão e posteriormente a destituição da função de inspetor de Mané Lopes, assumindo em seu lugar. A partir daí, sob o signo da autoridade (?) que agora nutria, passou a cometer desmandos e tropelias sempre visando ofender e provocar os membros da família Ferreira. Certa feita parte Saturnino para o sitio do velho José Ferreira onde encontra todos reunidos e reclama o sumiço de alguns chocalhos de suas vacas que, disse, foram tirados por Virgulino e os irmãos. Desaforos e trocas de impropérios se verifica num ambiente onde, por muito menos, a morte já estaria à espreita. ACORDOS DE PAZ Diante de tantos problemas verificados com aquelas famílias algumas autoridades na época acharam por bem intervir e firmar um acordo de paz entre as partes. Pessoas de destaque como coronéis, juizes, fazendeiros, padres, tomaram parte do acordo. Sendo assim ficou decidido que as famílias iriam evitar cruzar a ribeira da outra. Saturnino das Pedreiras estaria impedido de freqüentar o povoado de Nazaré, que era mais próximo à terra dos Ferreira e estes por sua vez não poderiam passar pelas terras dos Saturninos/Nogueiras. O acordo de paz teve pouca duração. Saturnino junto com alguns empregados seus entra na feira de Nazaré, todos armados, para fazerem uma cobrança a um homem que lhe devia algum dinheiro. O homem é agredido na frente de todos, inclusive dos irmãos Ferreiras que estavam na cidade. Revoltados, estes se dirigem à casa do professor Domingos S. e pegam suas armas (parte do acordo era deixar as armas na primeira casa da vila e não entrar armado na cidade) partindo para fora da cidade onde preparam uma emboscada contra Saturnino. Este consegue, após rápido tiroteio, se evadir. Tempos depois outro acordo é firmado e, desta vez, o próprio Virgulino o quebra, pois tinha uma tia enferma para o lado de Triunfo e precisou cruzar as terras do inimigo. Novo tiroteio se verifica, pois, mais uma vez com o acordo fora desfeito. Estava decidido. A questão não tinha volta. AS PRIMEIRAS MUDANÇAS Diante de todos estes problemas. Emboscadas, perseguições, tiroteios, o velho José Ferreira achou melhor se mudar da sua terrinha para o sitio da sogra D. Jacosa, o Poço do Negro, que ficava a poucas léguas do seu. O velho vendeu o sitio por um preço irrisório, apenas para se ver livre das confusões de Saturnino. Ainda assim as perseguições continuaram, então o velho resolveu se mudar novamente. Agora iria deixar o estado de Pernambuco e tentaria nova vida em Alagoas. Mudou-se para Matinha de Água Branca onde ficou trabalhando alugado em terras que não eram suas. Virgulino arranjou um emprego que consistia em transportar peles de animais da fazenda do coronel Delmiro Gouveia para as cidades vizinhas. Porem, os Ferreira, à revelia do pai tramavam uma desforra contra o inimigo. Saturnino, que não perdia tempo em difama-los, agora, mandava cartas para um coronel de Alagoas informando que lá chegara uma gente que não era de confiança. A MORTE DOS PAIS : Dona Maria Lopes, perturbada com tantos problemas passou a sofrer vertigens devido a problemas cardíacos, vindo a falecer a 14 de Abril de 1920, ainda em Matinha. A família enlutada sepultou a mãe. Seu José, desenganado, almejou mais uma vez se mudar. Iria desta vez para Água Branca. Quando chegou numa localidade chamado Engenho se deixou ficar por algum tempo numa casa cedida pelo Senhor Antônio Fragoso. Lá, devido às perseguições que os Ferreira vinham enfrentando, a casa foi cercada por uma volante policial que procurava pelos irmãos Ferreira, através de uma denúncia de que eles haviam se juntado a um grupo de salteadores chamados Porcinos. Cercada a casa, o velho que se encontrava debulhando milho dentro de um cesto, no terraço da casa, com um “quicë” nas mãos, foi interpelado por um sargento de nome José Lucena, que futuramente veio a ser o segundo maior inimigo de Lampião. Na discussão o sargento, que estava acompanhado por um delegado de nome Amarílio, sem mais nem menos, desfere um tiro à queima roupa no ancião sem que este esboçasse qualquer reação, matando-o. Em 22 de Abril de 1920. A revolta foi geral. Virgulino fora avisado da tragédia e, junto com os outros dois irmãos partiram para sepultar mais um ente querido. Após o sepultamento do pai, Virgulino reúne todos os irmãos e, retirando a roupa preta que representava o luto da mãe, designou o irmão João para que cuidasse da tutela dos menores e, junto com Antonio e Livino jurou vingar todos aqueles que, de uma forma ou de outra, levaram a sua família um fim tão trágico. E bradou: - Eu só descanso quando pegar e sujeitar todos aqueles que fizeram isso com nós. E o estado de Alagoas a Deus querer eu queima! DE VIRGULINO A LAMPIÃO Agora, envolvido de vez no grupo dos Porcinos, Virgulino e os irmãos preparam um ataque contra a volante de Lucena. Procurou manter seu nome em segredo para não criar maiores expectativas aos comandantes que o perseguiam. O PRIMEIRO COMBATE Partindo como uma fera raivosa Virgulino, no dia 20 de junho de 1921 consegue cercar a volante de Lucena, matando na refrega, um cabo e um soldado. Deste dia em diante Lucena passa a temer o inimigo, que julgou muito astuto no combate, chegando até a exaltar sua coragem em conversa com alguns subordinados. Em contrapartida Virgulino passa a respeitar o poderio bélico do inimigo, evitando maiores combates com este. Neste começo de carreira, Lampião alcançou notoriedade por causa da violência com que atuava, pois passou a mover um ódio indescritível contra a polícia. LAMPIÃO: CHEFE DE BANDO A partir daí, com a dispersão do grupo dos Porcinos e do tio Antônio Matilde, que resolvera abandonar o grupo, Lampião passa a fazer parte do bando de Sinhô Pereira. Em 1922, a pedido do Padre Cícero, Sinhô Pereira abandona o campo de luta a foge com o primo Luiz Padre para o estado de Goiás. Lampião recebe então o comando do grupo de Pereira, ganhando neste mesmo tempo o apelido de Lampião, por causa da rapidez com que manuseava o rifle, fazendo um clarão “parecendo um Lampião” segundo diziam. A PATENTE DE CAPITÃO No ano de 1926, Lampião foi convidado pelo Padre Cícero do Juazeiro a dar combate à Coluna Prestes, que se internava no sertão numa fileira de mais de 1000 homens. O pedido foi endossado pelo presidente Artur Bernardes que, contando com o apoio do então Deputado Floro Bartolomeu pôs o plano em ação: ou Lampião liquidava com a coluna Prestes ou vice versa. Formalizado o pedido, Lampião ganhou de imediato galões de Capitão das forças legais. Para selar o acordo, recebeu também grande quantidade em armamento, fardas e mantimentos militares. Lampião, como se era de esperar, não foi bem recebido pelos oficiais de outros estados, que não reconheciam sua patente. Revoltado com a falta de acolhimento Virgulino se esquiva de combater a Coluna, pois inclusive, nada tinha contra ela. Com sarcasmo e inteligência deu meia volta da empreitada e afirmou: - já que ninguém reconhece minha patente por aqui, a viola vai cantar na cantiga velha!






4. OS PRINCIPAIS CANGACEIROS Muitos foram os valentões que enveredaram na vida criminosa do cangaço. Aqui veremos os que mais se destacaram entre tantos outros que alcançaram fama e prestígio. O CABELEIRA Embora tido como um dos primeiros cangaceiros, José Gomes, o Cabeleira, era apenas um bandido cruel e sanguinário que entrou na vida do crime instigado pelo seu pai, o não menos perverso Joaquim Gomes, um homem mal e cruel que cedo ensinou o filho a arte violenta de matar e sangrar as pessoas indefesas apenas por puro sadismo. Juntamente com seu pai e um negro de nome Teodósio, Cabeleira aterrorizou toda a zona da mata pernambucana desde Vitória de Sto Antão até o centro do Recife em meados de 1775. Cabeleira foi um herói do mal. À revelia de sua mãe, a doce Joana, conheceu a trilha do crime através do pai que cedo o ensinou a usar o clavinote, deixando um rastro de morte e destruição por onde passava. Cabeleira não escolhia suas vítimas. Era um herói sem causa social, e não tinha para si um código de ética e de conduta. Matava por matar e roubava por roubar. José Gomes foi aprisionado num canavial em Paudalho, zona da mata de Recife e levado à forca no Forte das Cinco Pontas em 1776. Das estórias de Cabeleira, só contadas pelo romancista Franklin Távora fica os versos que imortalizou a figura desse bandoleiro na alma do nordestino: “Fecha a porta, gente Cabeleira aí vem Matando mulheres Meninos também....” “Minha mãe me deu Contas pra rezar Meu pai me deu faca Para eu matar” “Meu pai me pediu Por sua benção Que eu não fosse mole Fosse valentão.” LUCAS DA FEIRA Foi como ficou conhecido o mulato Lucas Evangelista, por ter nascido em Feira de Santana, Bahia. Filho de negros cativos, Inácio e Maria, Lucas nasceu em 18 de outubro de 1807. Era vesgo e canhoto e cresceu vendo o terrível drama a que eram submetidos os escravos (surras, castigos, condições sub humanas de vida, estupros, maus tratos, etc.) Estas cenas viriam marcar para sempre a sua vida de criança e posterior adolescência. Lucas era um negro forte e taludo e, ainda com 15 anos de idade, resolveu vingar-se, a seu modo, das crueldades praticadas pelos feitores para com seu povo. Lucas da Feira juntou uns grupos compostos por mais de trinta homens, entre negros e mulatos fugitivos, e passou a aterrorizar grandes trechos da Bahia, assaltando propriedades, surrando e matando fazendeiros brancos, deixando as estradas vazias sendo evitadas sempre que possível. Uma peculiaridade sua era a de achar que tinha, sobre as moças brancas, o mesmo direito que os senhores brancos tinham para com as mulheres negras, que eram estupradas e seviciadas pelos seus “donos”. Lucas não se fazia de rogado. Ao invadir uma propriedade, estuprava igualmente as moças brancas daquela casa, juntamente com seu grupo. Com o passar do tempo seu grupo foi diminuindo. Lucas foi então traído por um compadre e ferido, foi levado à forca. Diante do mito em que se tornou, o Imperador D. Pedro II manifestou desejo de conhece-lo. Lucas foi levado da Bahia ao Rio de Janeiro e ao retornar foi então enforcado no dia 26 de setembro de 1849, no Campo do Gado, aos 42 anos de idade. JESUINO BRILHANTE Este, um cangaceiro no melhor sentido da palavra, nasceu por volta de 1844, em Patú, RN. Seu nome completo era Jesuíno Alves de Melo Calado. Jesuino era um lavrador e vaqueiro que levava vida pacata e sossegada. Era casado e tinha quatro filhas e um filho caçula. Perto de Jesuino moravam os Limões, pretos famosos pela valentia e atrevimento. Certa feita um caprino é roubado da propriedade de Jesuíno, no que ele desconfia de um dos Limões, o Honorato. Não bastasse o sumiço, dias depois um irmão de Jesuíno é agredido por Honorato Limão na vila de Patú, chegando o negro a vangloriar-se dos dois atos: o roubo do caprino e a surra no irmão de Jesuíno. Armando-se de punhal, Jesuino mata, após uma luta corporal, o Honorato Limão, o que inicia uma guerra entre as duas famílias. Jesuino parte para a vida do crime por ter virado um foragido da justiça, porém, leva consigo a família para o mesmo caminho de fora-da-lei. Jesuino era um cangaceiro bom. Vivia de ajudar os pobres, resolver contendas entre famílias e, na grande seca de 1877, passou a saquear comboios que transportavam alimentos para distribuir com os pobres. Jesuino não gostava de injustiças. Era respeitador com as mulheres e moças donzelas e não matava ninguém que não fosse da raça dos Limões ou da força policial, que o tivesse perseguindo. Jesuino é tido pelos estudiosos do tema como um cangaceiro romântico. Um verdadeiro Robin Hood. Vivia na Serra do Cajueiro, RN, junto com sua mulher e filhos, estes que, aliás, nunca o abandonaram. Jesuino Brilhante morreu no campo de batalha em dezembro de 1879, em Brejo da Cruz, PB, aos 35 anos. ADOLFO MEIA NOITE Este outro cangaceiro tido como manso ou romântico. Nascido em data indeterminada, em Afogados da Ingazeira, sertão do Pajeú, PE. O grande pecado do negro Adolfo Meia noite foi ter se apaixonado pela prima, filha de um rico e poderoso fazendeiro daquelas ribeiras que, não achando ser o negro merecedor da donzela mandou prendê-lo e açoitá-lo ao tronco colonial. Quando foi liberado do castigo, seu pai, sabendo do ocorrido, recusou-lhe a bênção porque ele não havia lavado sua honra com o sangue do tio. Na mesma noite, Adolfo esgueirou-se para dentro da casa do tio e o matou, fugindo em seguida para o vale do Rio Pinheiro. Como havia matado pessoa influente na região, virou foragido da justiça tendo que passar o resto de sua vida a fugir da policia, levando consigo os irmãos Manuel e Sinobileiro. Apesar de ter se tornado cangaceiro, Meia Noite era tido como homem justo e pacífico. Isto ficou evidenciado num episódio em que ele e seu bando prenderam o negro Periquito que levara consigo alguns bens do seu amo. O bando pressionava Periquito, querendo o dinheiro que este levava, quando Adolfo colocou-se contra aquela situação, dizendo aos companheiros: - Vocês não vêem que se ele leva dinheiro, este não lhe pertence? E dirigindo-se ao escravo pergunta: - Levas dinheiro contigo? - Sim, senhor - respondeu periquito - Levo 500 mil réis do Sr. Paulo Barbosa. Ao ouvir esta resposta o bando se excita, mas o cangaceiro os repele: - Vá embora. Se precisar de alguma quantia irei tomá-la do seu senhor, e não de você, que não é dono. Pois se eu o fizer, certamente seu amo não irá acreditar na sua estória, e irá castigá-lo. Adolfo Meia Noite morreu baleado durante um tiroteio. ANTONIO SILVINO Nascido na Serra da Colônia, PE, no dia 2 de novembro de 1875, foi batizado como Manoel Batista de Moraes e era o caçula de uma família de cinco irmãos. No convívio familiar era carinhosamente tratado como Nezinho. Sua sina de cangaceiro surgiu, como em tantos outros casos, em circunstâncias alheias a sua vontade, quando seu pai, Pedro Batista de Moraes, o Batistão, um valentão afamado, foi morto por um grupo de capangas do Cel. Luiz Antonio Chaves Campos, chefiado pelo delegado, que era irmão do coronel. Morto seu pai e sedento de vingança, Nezinho passou a integrar o grupo de cangaceiros comandado por seu primo Silvino Aires, em 1896. Ali passou pouco tempo até formar grupo próprio, adotando o nome de Antonio Silvino em homenagem ao primo. Silvino era dado a resolver questões de quem o solicitasse. Não era um mero malfeitor e procurava fazer sua justiça no lugar onde a justiça comum era algo desconhecido. Silvino não permitia que ninguém do seu bando mexesse com mulheres e nem pessoas inocentes. Seus crimes eram de vingança ou contra a policia, que o perseguia. Preso em 1914, após ter sido baleado pelo alferes Teofanes Torres Ferraz, ficou encarcerado na Casa de Detenção do Recife, onde hoje é a Casa da Cultura até 1937, não voltando mais à vida cangaceira. Morreu em Campina Grande, PB, em 1944, aos 69 anos. Ainda na detenção aceitou o evangelho, vivendo em paz até o dia de sua morte. SINHÔ PEREIRA Sebastião Pereira da Silva nasceu em 20 de janeiro de 1896, em Serra Talhada, PE. De família abastada era neto do Barão do Pajeú, o coronel Andrelino Pereira da Silva. Algumas desavenças políticas que segundo alguns historiadores datam ainda do tempo da colonização, duas famílias nordestinas, Pereiras e Carvalhos, viviam em pé de guerra. Com o esfriamento dessas questões através do passar dos anos em 1907 uma discussão esporádica culminou com o assassinato de Manoel Pereira Jacobina, líder da família Pereira. Este, conhecido como Padre Pereira, por ter estudado num seminário em Olinda. Após esse assassinato, outros mais se verificaram entre ambas as partes. Sebastião, sendo o mais novo da família, foi encarregado de tomar a frente nas vinganças, pois para isso teria que se tornar um fora da lei, no que os irmãos, sendo todos casados e com filhos se viam impossibilitados. Para preservar seus irmãos Sinhô Pereira chamou para si a responsabilidade de continuar a luta armada, passando a comandar grupo de cangaceiros enquanto que os irmãos tomariam parte no fornecimento de armas e munições e da administração das fazendas. Este fato ocorreu em torno de 1916, ano em que Sinhô completara 20 anos de idade e ano também em que Virgulino ensaiava sua entrada nas hostes do cangaço em lugar não muito longe daquele cenário. Nesta luta de famílias, juntou-se Luiz Padre, primo de Sebastião onde juntos passaram a comandar os grupos. Em torno de 1919, Sinhô chega a conhecer Virgulino Ferreira que já travava uma luta contra a família de Saturnino de Barros, os Nogueira que coincidentemente tinha um forte parentesco com a família Carvalho. Em 1920, Sinhô Pereira se achando adoentado resolve abandonar o cangaço, deixando o seu grupo sob o comando do seu mais novo soldado, Virgulino Ferreira, que já havia sido batizado de Lampião. Sinhô Pereira e Luiz Padre se refugiam então nas terras do Piauí, sob a proteção direta do Padre Cícero do Juazeiro, que lhes dá garantias para a viagem. Pereira deixa para Lampião uma ultima missão: aniquilar um inimigo que havia mandado surrar um parente seu. Lampião, após passar no teste, é aclamado o mais novo chefe cangaceiro. VIRGULINO FERREIRA (LAMPIÃO) Mais uma vez a questão da eterna briga entre famílias rivais vem trazer à tona mais uma das muitas estórias de injustiças sociais. É a velha estória do: “por causa de um...” Virgulino Ferreira é o nosso principal assunto nesta palestra, então, como vamos estender mais adiante os traços principais da sua vida e consequentemente, sua entrada no cangaço, daremos uma rápida pincelada no tema para que possamos colocá-lo no hall dos mais famosos cangaceiros. Querer afirmar que Virgulino Ferreira foi um injustiçado, um pobre coitado que não tinha para si a proteção do poder público, etc. seria reduzir a tão pouco os nobres sentimentos de honra e dignidade que as famílias sertanejas de um modo geral e com pouquíssimas exceções demonstram ter. Virgulino Ferreira foi, entre tantos outros, um produto do meio em que foi criado, viveu, sofreu e amou. Uma terra inóspita, atrasada, distante dos grandes centros comerciais, onde o trato com o animal era o único meio de manutenção da vida e da família, deu à luz e viu crescer aquele que foi o maior gênio militar e o mais valente dos sertanejos que, a despeito de ter se envolvido na vida criminosa do cangaço, poderia ter sido um grande combatente da legalidade, dada a sua destreza nas armas, ao seu grandioso espírito de liderança e ao seu fervoroso patriotismo e amor à terra em que nasceu. Falar de Lampião significa repensar o que seria o sertão de hoje sem o cangaço de ontem, tido como a maior forma de insurreição ocorrida no nordeste do país. Lampião forçou, embora que involuntariamente, o sertão a mudar. Estradas tiveram que ser construídas, pois o “homem” tinha que ser alcançado. Escolas foram erguidas a fim de conter e educar os futuros lampiõezinhos que nasciam a cada momento no sertão. Lampião, com suas ações trouxe involuntariamente para o sertão alguma forma de progresso. Acabou quase que completamente com o poder centralizador do coronel. Com sua bravura e destemor desmoralizou muito poderoso e mandão naquelas terras. Tirando deles os seus maiores trunfos: dinheiro e poder. Após a sua morte, muito coronel foi perseguido e intimado a prestar contas à policia. Muitos tiveram suas fazendas invadidas pela policia em busca de armamentos e munições. Para quem conhece algo de história nordestina, em tempos outros a polícia jamais conseguira entrar na casa de um coronel, pois duas coisas a impediriam: os seus jagunços e a sua moral.



5. OS MAIORES COMBATES DE LAMPIÃO Em quase 20 anos de atuação nas caatingas sertanejas Lampião travou muitos combates, tanto contra a polícia, contratados, civis, etc. Porém existiram alguns destes que tiveram grande repercussão devido à brutalidade da ação ou até mesmo à ousadia de como isto se deu. Lampião era um estrategista. Segundo Frederico Pernambucano, uma das grandes autoridades do tema, Lampião foi um homem à frente do seu tempo. Noutras épocas, segundo o pesquisador, ele teria tido grande valia como guerreiro dado a sua destreza no manuseio das armas e sua coragem sem par frente aos mais terríveis obstáculos. Sem contar que, em seu tempo no comando de grupos e subgrupos, comandou verdadeiras feras humanas, homens rebeldes e destemidos que frente ao chefe pareciam simples cordeiros. AGUA BRANCA (AL) 28/06/1922 Após a morte dos pais, Virgulino, juntamente com os dois irmãos mais velhos resolvem abraçar a vida de crimes de uma vez, formando, a principio grupo próprio e que vez por outra agiam com os Porcinos ou os Matilde. Usando o argumento de que não podia trabalhar, pois era um perseguido da justiça, se achando injustiçado, passou a fazer solicitações em dinheiro a fazendeiros e pessoas de melhor situação financeira do lugar. Era o que dizia: - A gente não rouba, a gente pede... agora, se a pessoa não quiser dar... nós toma! Foi o que fez com D. Joana Torres, Baronesa de Água Branca. Mandou pedir-lhe certa quantia em dinheiro para que pudesse manter seu grupo e, feita à colaboração, não iria mais incomodá-la. A anciã, sendo pessoa de prestígio e poder na cidade, mandou reforçar seu território com uma força policial e, ao invés de dinheiro, mandou ameaças de morte, desafiando-o. Talvez se ela soubesse em que Virgulino viria se transformar anos depois, teriam mandado o dinheiro mesmo e viveria em paz. Segundo se conta, o grupo de cangaceiros entrou na cidade carregando redes nas costas representando defuntos que seriam enterrados na cidade. acontece que dentro das redes estavam as armas e os acompanhantes do enterro eram os próprios cangaceiros. A cidade foi tomada de assalto e o alvo principal foi a cadeia, onde foram encarcerados todos os policiais que estavam a serviço e quem estava preso na cela, foi solto. Lampião humilhou a Baronesa, fazendo a mesma desfilar de braços dados com ele pelo centro da cidade. Levou grande soma em dinheiro, além de vários artigos valiosos (peças de ouro, prata, etc)... INVASÃO DE BELMONTE (PE) 20/10/1922 Após entregar o comando do grupo a Lampião, Sinhô Pereira fez-lhe um pedido: atacar a cidade de Belmonte para matar o prefeito Luiz Gonzaga. Este, dias atrás, mandou aplicar uma surra num parente de Pereira, o fazendeiro Ioiô Maroto, através de um oficial da polícia de nome Peregrino Montenegro. O fazendeiro foi surrado na frente da esposa e das filhas por causa de questões políticas. No dia determinado Lampião entrou na cidade. Ao seu lado, Ioio Maroto que queria presenciar a morte do inimigo. A ação foi imediata. Morto o prefeito, o grupo se retirou com alguns feridos e três mortos. Os assassinos do prefeito foram os cangaceiros Cajueiro e Livino, este último irmão de Lampião. O corpo do Prefeito foi totalmente perfurado a golpes de punhal. Após estes dois grandes ataques Lampião ganhou notoriedade. A força policial passou a teme-lo. O povo apavorado ao primeiro sinal de invasão de cangaceiros corria feito louco, se internando na caatinga. O SAQUE DE SOUZA (PB) 27/07/1924 Em março de 1924, Lampião sofre um ferimento no pé direito quando nas imediações da Lagoa dos Vieiras foi cercado por um grupo da volante do major Teofanes Torres Ferraz, onde teve o calcanhar esfacelado por um tiro de espingarda, quando estava indo negociar armas e munições. Ferido, conseguiu se evadir do local do tiroteio com a ajuda dos dois cangaceiros que o acompanhavam indo se esconder na Serra das Panelas, onde um coiteiro trataria do seu ferimento. Com a volante do sargento Quelé (Clementino Furtado), que antes era um cangaceiro do seu bando e por causa de uma discussão com o bandido Meia Noite havia abandonado o bando, no seu encalço, Lampião foi mais uma vez cercado e, tendo que fugir teve o ferimento mais uma vez aberto. Na fuga, se perde do resto do grupo e por um milagre não é pego pela volante, pois se escondera atrás de umas folhagens e por pouco não é encontrado. Quatro meses depois, ainda em tratamento e se recuperando do ferimento, Lampião idealiza um assalto a cidade de Souza, na Paraíba. Procurado pelo cangaceiro Chico Pereira, que queria se vingar de uns desafetos nesta cidade, Lampião manda o irmão Antonio Ferreira e Sabino realizarem o feito como se ele próprio estivesse no comando. O saque foi terrível. O alvo seria a família Mariz, pois Otávio Mariz havia dado uma surra em Chico Lopes que possuía uma bodega na cidade antes de entrar no cangaço. Chico Pereira também tinha acertos de contas com esta família que fora co-responsáveis pela morte do seu pai. Invadida a cidade, sem nenhuma resistência, pois só havia 10 policiais no destacamento local e que se evadiram aos primeiros tiros, a mesma foi tomada por vinte e quatro horas. Fios de telegrafo foram cortados, estabelecimentos incendiados e o saque tiveram um saldo de 200 contos, uma pequena fortuna na época. A importância desse saque foi a presença de espírito do cangaceiro chefe, mesmo distante do palco de luta, o que, aliás, pouca gente sabia, quando outros achavam até que o bandido estava morto ou inutilizado. O dinheiro do saque foi dado, em parte, ao coronel José Pereira, de Princesa, PB, que era uma espécie de banco de Lampião. Este coronel futuramente viria a traí-lo, devido à grande quantia de numerário que este já havia amealhado do cangaceiro. Lampião jamais perdoou esta traição. SERROTE PRETO (AL) 22/02/1925 Em janeiro de 1925, já recuperado do ferimento no calcanhar, Lampião dá combate em custódia. De lá, envia telegramas desaforados para o governador do Estado avisando que no sertão era ele quem mandava. Em fevereiro, destroça em Alagoas as forças policiais de Pernambuco e Paraíba, na batalha conhecida como “Serrote Preto”. Foi nessa batalha que seu gênio guerreiro mais se destacou. Numa estratégia fenomenal coloca as forças para correr embaixo da chuva de balas do seu bando que brigava sempre cantando o hino da “mulher rendeira”. Os três irmãos eram imbatíveis no guerrear. Antônio Ferreira, que tinha o vulgo de ”vassoura”, lutava na retaguarda atacando as volantes por trás. Os soldados ficavam apavorados e desnorteados com este ataque. Livino Ferreira, o “esperança”, costumava avançar pelos flancos direito ou esquerdo no intuito de dispersar a volante e Virgulino na linha de frente, nunca brigava desprotegido. Cinco meses depois a polícia pernambucana indignada com o ataque de Alagoas, após um cerrado tiroteio, mata Livino. Ainda ferido Livino é levado para casa de coiteiros a fim de receber tratamento adequado, porém, devido à gravidade do ferimento o jovem vem a falecer oito dias depois. O desespero de Lampião é registrado em versos: “No Tenório, Lampião Chorou de fazer horror, Com pena de seu Livino, Que Belo Morais matou. “ SERRA GRANDE (PE) 26/11/1926 Em novembro de 1926, Lampião numa incursão em terras de Serra Talhada, seqüestra dois funcionários da Standard Oil Company onde solicita vultuosa quantia para o resgate. Numa ação desastrosa a volante pernambucana do Major Teófanes Torres Ferraz, sob o comando do tenente Higino Belarmino, ataca o grupo de cangaceiros nos paredões da Serra Grande, em Serra Talhada. Este combate rendeu a Lampião a maior vitória de sua carreira, pois conseguiram emboscar uma força policial composta pôr 300 soldados com apenas 90 cangaceiros. O grupo, bem entrincheirado, cercou a volante pondo-a para correr sem condições sequer de revidarem ao ataque. Muitos soldados foram mortos e os demais fugiram pelo mato, apavorados, deixando para trás armas e apetrechos. Poucos dias depois, Lampião sofre um golpe fatal. Perde o segundo irmão, Antônio, num acidente com arma de fogo. Uma brincadeira inconseqüente com o amigo Luiz Pedro tira a vida do mestre de dar “retaguardas” nos combates. Antônio sabia como ninguém cercar as volantes “pôr detrás” como dizia o irmão. Lampião não esconde o ressentimento e manifestando luto não mais corta os cabelos, salvo quando iam além dos ombros, o que vira moda no meio cangaceiro. Antônio antes de morrer, pede ao irmão que não puna Luiz Pedro. Este, resignado, jura ao chefe acompanhá-lo enquanto vida tivesse e morrer junto com ele, quando este dia chegasse. E foi o que aconteceu, no dia da morte de Lampião, Luiz Pedro morreu ao seu lado. Em cova rasa manda enterrar o irmão na fazenda aonde este veio a falecer. Dias depois a volante de Mané Neto estaciona no lugar e descobre, depois de espancar alguns moradores, o local da cova. Prontamente, cavam e retiram o corpo do cangaceiro. Num gesto de barbárie arrancam a golpes de facão a cabeça do defunto e enfiam numa estaca na beira da estrada para que todo mundo visse que Antônio Ferreira tinha morrido. A população em geral desaprovou o gesto de “barbárie” praticado pelo oficial. Posteriormente soube Lampião que o ato fora praticado pela volante de Nazaré, seus mais ferrenhos perseguidores. O cangaceiro, em contrapartida, rumou para aquelas ribeiras a fim de enfrentar os inimigos. E a luta prosseguia, cada vez mais ferrenha. Afinal, não era uma luta entre bandidos e polícia, mas uma guerra de vinditas entre homens valentes e sanguinários. Era, enfim, uma guerra pessoal. MOSSORÓ (RN) 13/06/1927 No ano de 1927, Pernambuco e estados vizinhos formalizam uma parceria para conter o banditismo crescente na região, em especial o bando de Lampião. O pacto consistia em caçar não só os cangaceiros, mas os principais protetores destes, sejam eles coronéis, oficiais e funcionários do governo a pessoas de menor importância, como lavradores ou moradores das vilas. Dentro de poucos meses a polícia de Pernambuco já dava conta da morte de 40 cangaceiros e da prisão de outros 198, todos ligados direta ou indiretamente ao grupo de Lampião. Com a polícia de vários estados fuçando em seu calcanhar, Lampião empreende uma fuga para o norte, marchando 400km e invadindo a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Com a fama desgastada e temendo ser desmoralizado pela polícia, Lampião faz propagar a sua tática de terror durante sua marcha para o norte: · Em quatro dias de cavalgada invade cerca de 40 localidades arrecadando mais de 50 mil réis; · Faz oito seqüestros a resgate; · Mata quatro inimigos em combate e 3 em luta individual; · Deixa vários feridos por surras, desfeitas e maltrato; · Comete saques, depredações e incêndios; · Divide o grupo em subgrupos fazendo crer que estava em vários lugares ao mesmo tempo, deixando as volantes confusas. Sua entrada em Mossoró foi desastrosa. A cidade muito grande e desconhecida ofereceu-lhe resistência fazendo-o perder na luta dois valentes cangaceiros: Colchete e Jararaca. Este último, ferido e aprisionado foi enterrado vivo numa cova do cemitério de Mossoró. Hoje o túmulo de Jararaca é visitado por romeiros, que fazem promessas e colocam flores e velas em sua lápide. Os penitentes o têm com santo. Jararaca era um ex-soldado do exército. Ferido na revolta de São Paulo onde servia no III Regimento de Infantaria voltou para Buíque onde nascera. Entrando para o cangaço, virou chefe de grupo. A população mossoroense reprovou a atitude dos soldados que enterraram o cangaceiro vivo. Este ato prova mais uma vez que cangaceiro e soldado eram da mesma natureza e praticavam os mesmos delitos. ANGICO (SE) 28/07/1938 No dia 28 de julho de 1938, numa quinta-feira, marcou-se a derrocada do cangaço. Uma volante com 48 policiais, sob o comando do Tenente João Bezerra, de Alagoas cercou a gruta situada em Porto de Folha, denominada Angicos, na fronteira entre Sergipe e Alagoas. Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, tombou sem vida e sem chances de lutar, junto com sua mulher Maria Déia e mais nove comparsas. A partir desse dia o cangaço, sem o seu representante maior, perdera a força e a razão de existir. Dos chefes de grupo que resistiram apenas Corisco, o diabo louro, se recusou entregar-se, vindo a falecer em 1940, atacado pela volante do Tenente José Rufino, quando se escondia na fazenda de um amigo. Com os dois braços inutilizados devido a ferimentos de bala, foi Corisco covardemente trucidado pela volante quando não mais oferecia resistência. Dadá, sua mulher, levara um tiro na perna que depois teve de ser amputada. Corisco teria de ser morto. Levava 300 mil réis nos bornais. Muita dúvida paira ainda no ar a respeito da morte do invulnerável Lampião. 20 anos de lutas foi o bastante para as polícias de 7 estados nordestinos reconhecerem sua força e perspicácia. Lampião era mesmo invencível. Os mais valentes e conceituados oficiais reconheciam sua força, tanto que jamais conseguiram se aproximar do bandido a ponto de prendê-lo ou matá-lo. Só haveria de existir uma maneira prática de dar cabo do rei do cangaço: A Traição. E foi o que foi feito. Em Piranhas, alguém denunciou à polícia o nome de um fiel coiteiro de Lampião. Pedro de Cândida. Este, acossado pela volante, torturado, humilhado e depois... Subornado, resolveu levar a tropa à gruta onde o chefe repousava. Para completar a traição seria preciso a garantia de que, num esconderijo tão eficaz as condições de uma reação fossem reduzidas às menores possibilidades. Foi então que surgiu a idéia do envenenamento. Todos foram degolados e despojados dos seus bens. Os corpos das mulheres foram seviciados e os anéis eram retirados junto com as mãos


6. GUERRILHA, ARMAMENTO E MUNIÇÃO ORGANIZAÇÃO Lampião tinha para si um grupo em perfeita harmonia. Espirituoso com os seus. Cruel com os inimigos sabia impor suas decisões trazendo temor até para com os homens de sua convivência. Como manter um grupo de muitos homens ficava muito oneroso, Lampião resolveu que seria melhor dividir o grupo em sub grupos. Assim sendo, escolheu os homens mais valentes e de sua confiança e distribuiu com estes, os homens do contingente total. Assim, tinha sob seu comando geral vários grupos que eram distribuídos em Diversos locais, dando a entender, por vezes, que o mesmo estava em vários locais ao mesmo tempo, pois os grupos quando praticavam alguma invasão ou saque, usavam do mesmo artifício que os demais, gritando descomposturas, saudando Lampião e cantando a Mulher Rendeira. TÁTICAS DE GUERRILHA Sua tática de guerrilha surpreendia até os mais experimentados comandantes de volante, a exemplo de Optato Gueiros, da polícia pernambucana e até o próprio Lucena, algoz do seu pai, de Alagoas, que chegou a elogiar para terceiros a valentia e experiência guerreira do opositor. Nos seus combates, usava táticas de: 1. DESPISTAMENTO: Quando tinha de se evadir usava alpercatas confeccionadas com o solado ao contrário para dar a impressão que, quando estava indo, parecer estar voltando; 2. CONTRA ATAQUE: Seu grupo principal sustentava o tiroteio na linha de frente enquanto a outra parte do grupo rodeava em circunferência o palco da luta para cercar a volante por trás. O que deixava os soldados aterrorizados e sem rumo. Outra parte do grupo cuidaria dos flancos direitos e esquerdos e a volante era assim cercada por inteiro causando grande prejuízo e uma fatal debandada. O mestre nos cercos por trás era Antônio Ferreira, seu irmão. 3. TERROR: A maioria dos crimes que Virgulino praticou foi sem dúvida alguma por vingança e quando os praticava fazia da maneira mais cruel possível. Isso caracterizava seu modo de ação e aterrorizava o povo de modo geral, pois a simples menção do seu nome, causava correrias e gritos em todo lugar. Os soldados temiam serem sangrados pelo punhal dos cangaceiros. É valido salientar que muitas dessas técnicas de terror foram aperfeiçoadas da maioria das forças volantes que de maneira quase unânime tinha fama de violentas ao extremo. O povo, em certas ocasiões, temia mais a presença da volante a de um grupo de cangaceiros. ARMAMENTOS E MUNIÇÃO As armas e munições que Lampião utilizava tinha de sair de algum lugar, e em grande quantidade. Para isso ele contou com a colaboração de vários coronéis e, pasmem muito oficiais de força volante. As armas e munições eram compradas por um preço muito acima do seu valor real. O material bélico que Lampião arrecadava nos saques era em quantidade bem inferior ao que necessitava, por isso, tendo que obter armamento moderno e de qualidade passou a comprá-las com o dinheiro tomado de outros coronéis e fazendeiros da região. Daí então se vê que o cangaço virava uma industria que enriqueceu ainda mais as pessoas de poder que faziam pactos com Lampião na calada da noite, à revelia do poder legal ou até mesmo com a ciência destes, que certamente também ganharia uma fatia desse bolo enorme. As armas mais comuns usadas pelos cangaceiros eram os rifles papo amarelo cruzeta, o winchester 44 e a pistola Comblain. Com a sua entrada no batalhão patriótico através do Pe.. Cícero ganhou do governo o fuzil mosquetão mauser 1908, arma privativa do exército e mais moderna que a da volante. TRUQUES Os cangaceiros se divertiam quando conseguiam ludibriar as volantes que tinham na sua maioria soldados do litoral que pouco conheciam de caatinga. Os tiroteios podiam ter duração de horas ou até de minutos. Quando se sentia em desvantagem Lampião fazia o grupo se retirar estrategicamente, se afastando do palco da luta lentamente, andando para trás. Muitas vezes o grupo, após andar léguas com a polícia no encalço, retornava para o lugar inicial fazendo a vez de perseguidor onde antes era perseguido. Um silvo de apito, um tiro seco de pistola ou até mesmo um olhar do chefe era o sinal da debandada estratégica.. ocorreram vários episódios em que, após a fuga, a polícia continuou atirando a esmo por horas a fio, quando o grupo já estava a léguas do palco da luta. 7. FARMACOPÉIA, CRENDICES E HÁBITOS Os cangaceiros, os soldados e o povo em geral acreditavam que Lampião tinha o corpo fechado. Sua maneira mística no agir, no falar e até no comportamento acrescentado com seu espírito de liderança fazia com que todos o respeitassem. Existem estórias que Lampião estando na casa de algum coiteiro preparando para sentar à mesa para almoçar, levantava-se subitamente e mandava o grupo se preparar para deixar o local. Minutos após o grupo se evadir eis que chegava uma força volante em seu encalço. Lampião tinha um sexto sentido muito aguçado. SONHOS Lampião acreditava em sonhos e premonições. Era um homem supersticioso, sabia interpretar com perfeição seus sonhos e o dos companheiros. CRENDICES Existia naquele tempo, como ainda hoje, várias crenças em coisas sobrenaturais. As sextas feiras eram sagradas pelo chefe, que jejuava e fazia orações junto com o bando. Ao meio dia e à meia noite, considerada pelo sertanejo como horas mortas, o cangaceiro, às vezes até no meio de um tiroteio, parava de atirar, se ajoelhava e fazia sinais e orações deixando o grupo e até os soldados admirados com suas ações. Andava com saquinhos de orações pendurados no pescoço. Jamais matou ou torturou um padre e nunca tirou dinheiro de igrejas. Não admitia tiroteio contra os templos. No combate de Mossoró, chegou a afirmar que o insucesso se deu porque a igreja principal da cidade tinha duas bundas (duas torres). O cangaceiro tinha muita fé. pedia de joelhos a Nossa Senhora que lhe desse pontaria certa, benzia-se na hora exata do assassinato e encomendava a alma da vítima. RELIGIOSIDADE (AS ORAÇÕES) Toda manhã ao acordar Lampião rezava com o grupo ao seu redor o ofício de Nossa Senhora. O grupo, contrito, o acompanhava nas orações. É sabido que, no dia de sua morte, aos primeiros sinais do amanhecer, Lampião rezou o oficio com alguns companheiros antes de ser trucidado pela força volante. Tinha em seus embornais diversas orações como a Pedra Cristalina, as treze palavras, ditas e retomadas, a oração do justo juiz. Em grandes aflições recitava o rosário apressado de N. Sra. Da Conceição, fazendo cruzes na cabeça. Porém Lampião não gostava de Candomblé e sim de rezas fortes. Era do catolicismo antigo: horas marianas, lunário perpétuo, novenas, missões abreviadas, etc. FARMACOPÉIA O homem sertanejo desconhece quase por completo os remédios de farmácia. Usam, portanto uma extensa farmacopéia homeopática que, segundo eles, cura todos os males. Cada planta tem o seu valor e sua importância. Abaixo, uma lista estranha de algumas meizinhas que serviam para curar males diversos (é importante advertir os presentes que não façam isso em casa, visto que no sertão não se podia recorrer à outra coisa senão a homeopatia): · Espinhas no rosto: esterco de galinha, de preferencia choca. · Amidalite: chá de formiga e cozimento de angico com sal. · Resfriado: Umbu verde cozido no leite. · Asma (puxado): Lambedor de cebola xexéu; banha de ema. · Boqueira: espuma de pau. · Verrugas: leite de avelós e sangue de menstruação (sem que o doente saiba). · Cólicas: água serenada. · Quedas: purgante de cabacinha. · Ferimento de bala: mata pasto pisado com água; colocar pimenta dentro do ferimento (dói muito, mas sara). · Mau hálito: mastigar olhos de goiabeira branca. ALIMENTAÇÃO Quando o grupo estava arranchado em alguma fazenda ou sitio de coiteiros, a comida era farta: carne assada, buchada, galinha cozida, bode assado, etc. Quando estavam acampados e tinham nos embornais algum mantimento, faziam a comida em trempes improvisadas, queimando gravetos e pedaços de madeira, que existia em grande quantidade. Quando não podiam fazer fumaça para não denunciar seus esconderijos cozinhavam dentro da terra, abafando a comida, fechando-a num buraco, utilizando o chapéu para abafar o fogo. Porém, em tempos difíceis, de correrias e sobressaltos, comiam o que tinham em mãos, desde frutos silvestres a rapadura misturada com farinha, alimento este indispensável nos bornais dos cangaceiros e volante. ndavam sempre com cuias, canecas, latas de doce vazias e cabaças penduradas pelo corpo para se servirem de alguma comida. AMBIENTES, HÁBITOS E COSTUMES AMBIENTE O ambiente dos cangaceiros era a própria natureza. Lampião passou vinte anos de sua vida morando em coitos, furnas, cavernas e acampamentos no meio da mata seca e bravia que é a caatinga. Forravam um pano de xita para deitar e com outro pedaço de pano faziam a coberta, enganchado em galhos de árvores. HIGIENE Não existia. A água era pouca e necessária para beber, não lavavam as mãos ao se alimentar nem os utensílios que usavam para comer. Era raro o banho e usavam várias peças de roupa de uma só vez. À medida em que essa roupa ia se sujando ou rasgando tiravam-na e se desfaziam da mesma, usando a seguinte. Abusavam do perfume para inibir o odor do suor. Perfumavam também suas montarias. A chegada dos cangaceiros era logo notada devido ao forte cheiro que exalavam. HÁBITOS Nos coitos, quando estavam à vontade, fumavam, jogavam e bebiam a valer. Jogavam sueca, trinta e um e sete e meio. Lampião perdia grandes quantias em dinheiro.. DANÇAS E CANTIGAS Gostavam de festas e sempre que podiam davam bailes com direito a sanfoneiro e mulheres. Dançavam com as moças e respeitando-as quando queriam. Em casa de gente conhecida a ordem era respeitar o estabelecimento e pagar o que se era consumido. Nos combates, cantavam versos da mulher rendeira, saltando e urrando como loucos, gritando impropérios para a polícia. COSTUMES O grupo sempre que podia andava montado, para encurtar os caminhos. Lampião, quando arrebanhava animais de algum fazendeiro, mandava entregá-los em seguida e pagava pelo favor prestado. Os cangaceiros, a exemplo do chefe gostavam de óculos, usando o escuro para protegerem-se do sol e até mesmo por vaidade. Adoravam tirar fotografias. Os cangaceiros chefes de bando eram tratados pelo chefe como compadre e não pelo vulgo. O cangaceiro que recebia o nome de compadre ficava vaidoso, pois isso significava prestígio. Todos usavam vários anéis em cada dedo. Quando um cangaceiro morria, outro recebia o seu vulgo. Isso era usado para confundir as pessoas, dando a entender que o bandido não morrera. CASTIGOS Praticavam horrores com suas vítimas. O traidor que caísse em suas mãos estava desgraçado: enforcavam, apunhalavam e cortavam sua língua. Lampião odiava delatores e polícia. Permitia que o cangaceiro Zé Baiano ferrasse as mulheres dos seus inimigos ou aquela que usasse maquiagem ou cabelo curto. Contasse que certa vez Lampião fez um bandido do seu grupo comer uma porção de sal porque este reclamou da comida insossa na casa de uma conhecida. Porém esta estória aconteceu realmente no bando de Antonio Silvino com o bandido Tempestade em 1914. AMOR E SEXO NO CANGAÇO AMOR A partir da entrada de Maria Bonita, em 1929, alguns cangaceiros também resolveram levar suas mulheres consigo. O bando entrava nas cidades e, quando se apaixonava por alguma moça levavam-na consigo. Se a moça se recusasse seguir com o mesmo, este a seqüestrava. A princípio a jovem resistia ao amor do bandido, porém com o tempo se acostumava e virava uma nova cangaceira. Embora se comente o contrário, muitas mulheres entraram para o cangaço por livre e espontânea vontade, a exemplo de Maria Bonita, Cila, Adília, etc. SEXO O sexo era praticado ali mesmo, no mato, embaixo dos lençóis aos sussurros e gemidos e perto do restante do grupo. Os demais, respeitosos, se entretiam com outras coisas e nem sequer olhavam para o que estava acontecendo. Existia antes de tudo respeito entre si e, claro, medo de se tornar inconveniente da parte de quem estava próximo. TRAIÇÕES Apesar de haver entre os integrantes do grupo um certo respeito para com a mulher do companheiro, houve apenas um relato de traição no bando de Lampião. Odília, mulher de Zé Baiano, o traiu com outro cangaceiro de nome Besouro. Descoberta a ação o rapaz se evadiu tomando rumo ignorado. A mulher foi morta a pauladas pelo marido traído, na frente de todo grupo e às vistas do chefe, que não se intrometeu nem deixou a esposa opinar. Quando um cangaceiro casado era morto a esposa teria que ser desposada por outro cangaceiro, caso contrário seria morta também, pois constituía um arquivo vivo. Cristina, mulher de Português, após a morte do marido se recusou casar-se com outro, pois queria ir embora para casa. Corisco mandou dois homens do seu grupo levá-la em segurança. No caminho, Luiz Pedro com seu grupo conseguiu matá-la. Pois se a mesma voltasse para casa poderia ser capturada pela polícia e, sabendo de todos os esconderijos do bando, poderia levar todos à morte.



LITERATURA DE CORDEL <> Dois ilustres folcloristas brasileiros, Luis da Câmara Cascudo e Manuel Diéges Júnior, trouxeram, contribuição ao problema da origem da nossa literatura de cordel. Cascudo em vários ensaios e livros, sobretudo no seu "Vaqueiros e Cantadores" e "Cinco Livros do Povo", e Manuel Diéges Júnior especialmente no ensaio "Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel". Eles nos mostraram a vinculação dos folhetos de feira, a partir do século XVII, com as "folhas volantes" ou "folhas soltas", em Portugal, cuja venda era privilégio de cegos, conforme informava Téofilo Braga. Na Espanha, o mesmo tipo de literatura popular era chamado de "pliegos suletos", denominação que passou também à América Latina, ao lado de "hojas" e "corridos". Tal denominação, como se sabe, é corrente na Argentina, México, Nicarágua e Peru. Segundo a folclorista Argentina Olga Fenandéz Lautor de Botas, citada por Diéges Júnior, estas "hojas" ou "pliegos sueltos", divulgados através de “corridos”, envolvem narrativas tradicionais e fatos circunstanciais - exatamente como a literatura de cordel brasileira. Na França, o mesmo fenômeno correspondia à "littèratue de colportage" - literatura volante, mais dirigida ao meio rural, através do "occasionnels", enquanto nas cidades prevalecia o "canard". Na Inglaterra - é informação de Jean Pierre Seguin, através de Roberto Benjamin -, folhetos semelhantes aos nossos eram correntes e denominados "cocks" ou "catchpennies", em relação aos romances e estórias imaginárias; e "broadsiddes", relativamente às folhas volantes sobre fatos históricos, que equivaliam aos nossos folhetos de motivações circunstanciais. Os chamados folhetos de época ou "acontecidos". Num ensaio intitulado "Origens da Literatura de Cordel", nós alongamos as notícias dessas origens do folheto de cordel não só no século XVII, na Holanda, como aos séculos XV e XVI na Alemanha. Foi através do ensaio da pesquisadora Marion Ehrhardt, intitulado "Notícias Alemãs do Século XVI sobre Portugal", publicado na revista "Humboldt" (nº 14, Hamburgo, 1966), que chegamos a essa evidência. Examinando folhetos sobre assuntos portugueses do século XVI, que resistiram ao tempo, - através de enfoque exclusivamente histórico - Marion Ehrhardt nos fornece informações suficiente para cortejo entre velhos folhetos germânicos e a literatura de cordel. Na Alemanha, os folhetos tinham formato tipográfico em quarto e oitavo de quatro e a dezesseis folhas. Editados em tipografias avulsas, destinava-se ao grande público, sendo vendidos em mercados, feiras, tabernas, diante de igrejas e universidades. Suas capas (exatamente como ainda hoje, no Nordeste brasileiro), traziam xilogravuras, fixando aspectos do tema tratado. Embora a maioria dos folhetos germânicos fosse em prosa, outros apareciam em versos, inclusive indicação, no frontispício, para ser cantado com melodia conhecida na época. Já a respeito dos panfletos holandeses, tivemos as primeiras notícias através do prof. José Antônio Gonçalves de Mello, nossa maior autoridade em história do domínio holandês no Nordeste brasileiro. Ele examinou panfletos ("pamflet", em holandês) do século XVII, concluindo sobre o seu conteúdo: "Os temas tratados, pelo menos em relação ao Brasil, que são os que unicamente conheço, são políticos, econômicos, militares, quando não são terrivelmente pessoais. Um relativo à Guiana então holandesa, relata um crime, no qual estão envolvidos personagens que vieram em Pernambuco. Há os em versos, mais a maioria em prosa, sendo freqüente a forma de diálogos ou em conversas entre várias pessoas. Uns só de uma folha; a maioria contém entre 10 a 20 páginas, em tipo gótico". Tudo isso mostra à evidência que, embora tenhamos recebido a nossa literatura de cordel via Portugal e Espanha, as fontes mais remotas dessa manifestação estão bem mais recuadas no tempo e no espaço. Elas estão na Alemanha, nos séculos XV e XVI, como estiveram na Holanda, Espanha, França e Inglaterra do século XVII em diante. No Brasil - não mais se discute -, a literatura de cordel nos chegou através dos colonizadores lusos, em "folhas soltas" ou mesmo em manuscritos. Só muito mais tarde, com o aparecimento das pequenas tipografias - fins do século passado -, a literatura de cordel surgiu e se fixou no Nordeste como uma das peculiaridades da cultura regional. <> Embora o tema (nomes e datas fundamentais em torno dos poetas populares do Nordeste) já tenha sido rasteado por numerosos autores, vamos resumir o que Átila de Almeida condensou, a propósito, em recente ensaio intitulado "Réquiem para a Literatura Popular em Verso, Também dita de Cordel", in "Correio das Artes" João Pessoa, 01.08.1982. O ano de 1830 é considerado historicamente, o ponto de partida da poesia popular nordestina. Em torno dessa data nasceram Uglino de Sabugi - o primeiro cantador que se conhece - e seu irmão Nicandro, ambos filhos de Agostinho Nunes da Costa, o pai da poesia popular. Nascidos na Serra do Teixeira (PB), entre 1840 e 1850, foram seus contemporâneos os poetas Germano da Lagoa, Romano de Mãe D´Água e Silvino Pirauá. E já contemporâneo destes, Manoel Caetano e Manoel Cabeleira. São os mais antigos cantadores conhecidos, todos chegando à década que se iniciou em 1890. A década que começou em 1860 viu nascer grandes nomes, como João Benedito, José Duda e Leandro Gomes de Barros. Mais adiante, na década de 1880, nasceram Firmino Teixeira do Amaral, João Martins de Ataíde, Francisco das Chagas Batista e Antônio Batista Guedes. Depois dessa época até 1920 - afirma o escritor paraibano -, "a poesia escrita e oral se tornaram coqueluche e os poetas se multiplicam como moscas, principalmente nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará". Só nesse período foram registrados 2.500 poetas populares! O movimento editorial do cordel, como se sabe, inicia-se com Leandro Gomes de Barros, Chagas Batista e Pirauá. Embora se acredite que Leandro e Pirauá começaram a publicar folhetos antes de 1900, não existem provas materiais desse fato. Em 1902 Chagas Batista publicou um folheto, em Campina Grande, que existe ainda hoje na Casa "Rui Barbosa", no Rio de Janeiro. Há um outro de Leandro, publicado no Recife, em 1904. A partir dessas datas, Leandro e Pirauá dominam o mercado de folhetos de cordel. Depois de 1910, surgem outros nomes de autores de folhetos, como Antônio da Cruz, Joaquim Sem Fim, Cordeiro Manso, Manuel Vieira do Paraíso, Antônio Guedes, Joaquim Silveira, João Melchíades, João Martins de Athayde. Na década de 20, emerge outra leva de poetas de bancada, como Romano Elias da Paz, José Camelo de Melo Rezende, Manoel Tomás de Assis, José Adão Filho, Lindolfo Mesquita, Moisés Matias de Moura, Arinos de Belém, Antônio Apolinário de Souza e Laurindo Gomes Maciel. Nas alturas de 1945, Átila de Almeida vislumbra o que chama de "germe destruidor no comércio de folhetos". Uma fase de decadência em conseqüência de novos fatos determinantes das transformações sociais, como o rádio, o cinema, a aceleração do processo de industrialização do País, a construção de Brasília, a facilidade de novos meios de transporte, estimulando as migrações internas no Brasil. Esses fatores alteram a mentalidade do homem rural nordestino, o grande consumidor da poesia popular escrita oral, ou cordel. <> Num ciclo de estudos sobre literatura de cordel, realizado em 1976, em Fortaleza, sob o patrocínio da Universidade Federal do Ceará, indagaram ao prof. Raymond Cantel, da Sorbonne, grande estudioso do assunto, qual seria a definição mais compacta que se poderia dar do cordel. Seria apenas - perguntamos - poesia narrativa, impressa? Imediatamente, ele complementou: Popular. Então, aqui está a mais reduzida, a mais simples definição sobre cordel: Poesia narrativa, popular, impressa. Todo o acervo da literatura de cordel - cerca de quatorze mil folhetos publicados, para Átila de Almeida, embora outros estudiosos ampliem esse número - não tem sido outra coisa sequer isto: poesia narrativa, popular impressa. De maneira que, qualquer outra manifestação semelhante ao cordel, cujo conteúdo divirja deste trinômio, deve ser apreciada com reserva. Não é poesia de cordel autêntica. Só existe uma maneira de identificar o cordel legítimo: é através da analise da ideologia que ele reflete. O poeta popular nordestino é conservador, por excelência. Há que examinar detidamente cada conteúdo dos folhetos, através da linguagem e das idéias que ali transparecem com espontaneidade. Em geral, o poeta popular nordestino é católico ortodoxo. É amigo do vigário, defendendo-o em todo o sentido. Por sua vez, os padres prestigiam a tarefa dos poetas populares, quando não a exploram. O poeta popular é sempre a favor do governo. Há mesmo um célebre ditado que diz: "Contra o governo, rio cheio e pomba dura, etc..." Como igualmente o poeta popular repudia ou ironiza as inovações da tecnologia moderna. O que não quer dizer que não haja exceções, um bom exemplo é o nosso conhecido conterrâneo, Patativa do Assaré. <> Aspecto de grande importância do Cordel é, sem dúvida, a xilogravura de suas capas. Sabe-se que o cordel antigo não trazia xilogravuras. Suas capas eram ilustradas apenas com vinhetas - pobres arabescos usados nas pequenas tipografias do interior nordestino. A partir da década de trinta, surgiram folhetos trazendo nas capas clichês de artistas de cinema, fotos de postais, retratos de Padre Cícero e Lampião. As xilogravuras ou "tacos" como ainda hoje preferem chamar os artistas populares, usando madeiras leves, como umburana, pinho, cedro, cajá. O gravador Dila foi o primeiro a usar matrizes de borracha vulcanizada, inaugurando assim a linogravura do cordel. O que significam, em verdade, essas rudes criações dos artistas populares dentro do contexto mais amplo das artes plásticas brasileira? Um dos mais ilustres críticos de arte do País, Antônio Banto, declarou-nos que as xilogravuras dos artistas do cordel constituem a maior contribuição que o Nordeste já ofereceu ao Brasil no campo das artes plásticas. A xilogravura - arte de gravar em madeira - é de provável origem chinesa, sendo conhecida desde o século VI. No Ocidente, ela já se afirma durante a Idade Média, através das iluminuras e confecções de baralhos. Mas até ai, a xilogravura era apenas técnica de reprodução de cópias. Só mais tarde é que ela começa a ser valorizada como manifestação artística em si. No século XVIII, chega à Europa uma nova concepção revolucionária da xilografia: as gravuras japonesas a cores. Processo que só se desenvolveu no Ocidente a partir do século XX. Hoje, já se usam até 92 cores e nuanças em uma só gravura. No Brasil, a gravura erudita começa em 1912, com a exposição do artista alemão Lasar Sagall, em São Paulo. Posteriormente, outro artista importante desse gênero de arte foi Oswaldo Coledi, carioca, filho de suíços, professor da Escola de Belas Artes, que deixou discípulos distintos, como Lívio Abramo, Yolanda Mohaliy, Carlos Scliar, todos também xilógrafos reputados, ao lado de nomes mais modernos como Marcelo Grassmann, Fayga Ostrower, Maria Bonomi, Gilvan Samico e outros. Samico interessou-se vivamente pelas xilogravuras dos artistas populares do Nordeste. Nelas, admirou a genuína expressão da criatividade do nosso artista primitivo: as soluções plásticas sintéticas, o traço forte, incisivo, a rude e bela expressividade dos desenhos, o mundo fantástico dos seres míticos e mágicos das concepções ingênuas. Ao lado de sua literatura, essas xilogravuras do cordel refletiam ideais, anseios e sonhos do homem nordestino. Nos dias atuais vários são os xilógrafos de cordel que se destacam. O pesquisador Joseph M. Luyten, no ensaio "A Xilogravura Popular Brasileira e suas Evoluções", enumera os seguintes xilógrafos: Abraão Batista (Juazeiro); Ciro Fernandes (Rio de Janeiro); José Costa Leite (Condado); Marcelo Alves Soares (São Paulo); Minervino Francisco Silva (Itabuna); Severino Gonçalves de Oliveira (Recife) e J. Borges (Bezerros). Há no País, em nossos dias, endeusado interesse pelas obras dos nossos xilógrafos populares. Também nos EUA e na Europa. Há uns 15 anos atrás, a Universidade Federal do Ceará promoveu exposição de xilogravuras de cordel em Paris, com grande sucesso. EM 1978, em São Paulo, na Bienal Latino-americana, o colecionador Luis Ernesto Kawall expôs e sendo a mostra premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Na década de setenta, apareceram no Nordeste vários álbuns de xilogravuras de cordel. Destacamos os publicados pela: Divisão de Cultura da Prefeitura da Cidade de Salvador, Bahia, intitulado "Xilogravura Popular - Cordel", reunidos xilos de Minelvino Francisco para folhetos de Rodolfo Coelho Cavalcante, com apresentação de Rosita Salgado; o da coleção Théo Brandão, "Xilogravuras Populares Alagoanas" (Alagoas, 1973), inserindo tacos de José Martins dos Santos, Manoel Apolinário, Antônio Almeida e Antônio Baixa-funda, com apresentações de Pierre Chalita e Théo Brandão; e "Transportes na Zona Canavieira", divulgando 21 xilogravuras de José Costa Leite (Instituto do Açucar e do Álcool, Serviço de Documentação, Recife, 1972), com apresentação de Mário Souto Maior.





8. CORONÉIS, COITEIROS E VOLANTES CORONÉIS Um registro feito pelo pesquisador Frederico Pernambucano de Melo, em seu livro “guerreiros do Sol” mostra bem que em tempos de antanho, política e banditismo eram galhos de uma mesma árvore e pôr conseguinte praticavam os mesmos abusos, com apenas uma agravante: enquanto o bandido lutava para se manter o político lutava pelo poder. Abaixo, algumas ocorrências praticadas pôr alguns coronéis que, em sua maioria, tinham vida política acentuada: 1901- O Coronel Antônio Joaquim depõe violentamente seu correligionário político Antônio Róseo Jamacaru, assumindo o comando da situação em Missão Velha; 1904- Após um tiroteio que se inicia no dia 27 de junho e se prolonga até as 15:00 horas do dia 29, é deposto o chefe político do Crato, coronel José Belém de Figueiredo, pelo coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, que recrutara um verdadeiro exercito privado em municípios vizinhos e no sertão pernambucano; 1905- Após oito horas de fogo, cai o chefe político de Barbalha, coronel Manuel Ribeiro da Costa, deposto pôr um correligionário seu; 1906- Chefiando 400 homens, o “major” José Inácio de Souza, do Barro, depõe o chefe situacionista de Aurora, coronel Leite Teixeira Neto, pondo em seu lugar o coronel Cândido Ribeiro Campos. O deposto tem seus bens saqueados e incendiados e é expulso do município; 1907- Os chefes políticos de Milagres, Missão Velha, Barbalha e outros municípios reúnem cerca de mil homens em armas para atacar o coronel Antônio Alves Pequeno, do Crato, que levanta um exército equivalente em sua defesa; 1908- O coronel Gustavo Lima depõe à bala o próprio irmão, coronel Honório Lima, assumindo o comando político em Lavras; 1909- A vila de Campos Sales é atacada pelo coronel Raimundo Bento de Souza Baleco, que depõe o chefe político José Maia; 1910- O coronel Raimundo Cardoso dos Santos, é deposto à bala, a 13 de junho, por líderes políticos de Brejo Santo; 1911- É assassinado em Fortaleza, por motivos políticos, o coronel e então deputado estadual Gustavo Lima, chefe de Lavras; Eis aí o panorama político e social do sertão nordestino dos tempos de Lampião. A lei do corre ou morre. A valentia não era dom, mas atributo para se viver naquela terra cinzenta, de injustiças sociais e chefes políticos insolentes que não eram taxados de bandidos, mas era tão ou mais bandido do que o tabaréu que para ele trabalhava e dos cangaceiros que viviam das armas, cobrando tributos e saqueando propriedades. COITEIROS Um homem virava coiteiro, naquela época, por cinco razões básicas: · Medo de morrer · Vingança (usando o cangaceiro para realizar um crime de morte) · Gratidão (por receber favores e dinheiro, retribuindo-lhe os favores) · Interesse comercial (o dinheiro) · Política (no caso, os coronéis coiteiros) VOLANTES As volantes eram formadas por indivíduos nascidos e educados no mesmo ambiente dos cangaceiros. O que os diferenciavam dos grupos de bandoleiros era apenas o fato de fazerem parte da força legal, ou seja, eram homens da lei. Existiam grupos oficiais, que faziam parte do contingente normal da força policial, e os contratados que eram voluntários ou convidados a ingressar na força policial. Um dos grupos mais importantes da época, que davam caça a cangaceiros e não faziam parte da policia como força oficial eram os nazarenos, onde hoje se situa Carqueja/PE. Estes homens dedicaram suas vidas no combate aos bandos de cangaceiros. Seus métodos, seus interesses, sua forma de ação em muito se igualava à dos cangaceiros agirem pois eram às vezes até mais violentos que os próprios bandidos pois se diziam “autoridades”. Muito crime praticado pela força volante foi atribuído ao cangaceiro.





BIBLIOGRAFIA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO - SBECC.N.P.J. 07.220.746/0001-50Foi fundada em 13 de junho de 1993, data aniversário que lembra a entrada de Lampião e seu bando na cidade de Mossoró-RN. É uma entidade sem fins lucrativos que coordena um maior entrosamento entre os pesquisadores, escritores e artistas brasileiros que estudam edivulgam o Nordeste. Assuntos como Cangaço, Coluna Prestes, Canudos, revoltas: Praieira, Balaiada, Cabanagem, Quebra-Quilos, Juazeiro, Padre Cícero. Quilombos, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e a Música Popular Nordestina; a Cultura e a Arte nordestinas são prioridades nos estatutos da SBEC para debatermos e divulgá-los em eventos, no Brasil e no exterior.Quem e quantos são os integrantes?Escritores, Pesquisadores, Poetas, intelectuais e alunos que se interessam pela pesquisa hitórico-sociológica do Nordeste e do Brasil.Qual a abrangência dessa entidade?Inúmeros segmentos da sociedade cultural, no âmbito das pesquisas em vários Estados do Brasil, com sócios espalhados por este Pais continental.
A nova diretoria tomou posse em 19/03/2004, para o biênio 2004/2006:Presidente: Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira - PBVice-Pte: Gutemberg Medeiros Costa - Natal - RN1º Secretário: Geraldo Maia do Nascimento - RN2º Secretário: Alcino Costa - SE1º Tesoureiro: Manoel Nascimento - RN2º Tesoureiro: João Pegado de Oliveira Ramalho - RNAssessor de Comunicação: Paulo Medeiros Gastão - Triunfo - PE.Conselho Consultivo:Clotilde Tavares - Campina Grande - PBRaimundo Soares de Brito - Mossoró - RNMúcio Araújo - Natal - RNAderbal Nogueira - Fortaleza - CEÂngelo Osmirio - Fortaleza - CEPaulo Moura - Recife - PECarlos Eduardo Gomes - Rio de Janeiro - RJ

Nesta página o leitor saberá quais foram os livros consultados por mim e quais as fontes e lugares visitados para que esta pesquisa tivesse êxito. Enquanto este material esta sendo selecionado leia abaixo a Biografia de Paulo Moura (o Dunga).

NOME: José Paulo Ferreira de Moura (Paulo Moura)
Poeta, pesquisador, estudante de Historia pela FUNESO e membro do conselho consultivo da SBEC. Profere PALESTRAS sobre os temas CANGAÇO e Literatura de CORDEL. Veja abaixo um breve histórico de minhas atividades.
email: paulu@globo.com / site: www.paulodunga.hpg.com.br/
Fone: 081 8864 8384

Histórico profissional;

Funcionário da CBTU-METROREC desde 1986. Bacharel em Relações Públicas e Professor de História (cursando na FUNESO). Poeta, Escritor e Pesquisador do Cangaço. Membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC). Já Proferiu palestras sobre o tema LAMPIÃO e o CANGAÇO nos seguintes lugares:

1. METROREC (Homenagem ao dia do Ferroviário no ano de 2002 e 2003),
2. SENAC (para alunos do Centro de Moda e Beleza),
3. COLÉGIO CENECISTA DE TIMBAÚBA/PE (a convite do secretário de Finanças da cidade de Ferreiros, Dr. Édipo Monteiro).

Publicações:

1. Palestra “Lampião e o Cangaço do Nordeste”; proferida quando da realização do evento Semana do Ferroviário no Museu do Trem (Recife) entre 24 e 28/09/01; entre 23 e 26/09/02 (no auditório da CBTU) e em 28/11/02 no SENAC. No dia 01/08/2003, proferiu palestra no Colégio Cenecista, em Timbaúba/PE. Na FUNESO, em 05/03/2005 para estudantes do Curso de História e Letras.



LIVROS :

1. Livro “Causos e Poesias do Metrorec” (Editado pelo METROREC/CBTU, onde constam as melhores poesias do concurso no qual foi contemplado com o 1 e 3 lugares);
2. Livro: “Alguma Poesia” (aguardando publicação);
3. Livro “LAMPIÃO e sua história contada em Verso e Prosa” (lançado em 28/08/2002, pela edit. Coqueiro);
4. Livro: “Minervino Cangaceiro” - Ficção (em fase de acabamento);

CORDEIS :

1. Cordel “LAMPIÃO” ; Edit. Fundação Vingt Un Rosado (Coleção Mossoroense)
série “D” ; n. 31 da Coleção Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, 2000;
2. Cordel: A peleja Virtual de Paulo Dunga e Mauro Machado (Edit. Coqueiro, 2003);
3. Cordel: A chegada de Lampião no Deserto Iraquiano (Edição independente)
Participação em Eventos:

1. Seminário Cultural “500 Anos do Rio São Francisco” , realizado na cidade de Piranhas/ Al entre os dias 01 e 03/10/2001, na qualidade de pesquisador da SBEC;
2. Evento: O Julgamento de Lampião , realizado na fazenda Passagem das Pedras, Serra Talhada/PE em 14/04/2002 a convite da Fundação Cultural Cabras de Lampião;
3. Evento: O julgamento de Lampião , realizado em Mossoró/RN, em Junho/2002, a convite do Pres. da SBEC, Dr. Paulo Medeiros Gastão;
4. Seminário Cultural : A importância do Cangaço na Cultura Nordestina , realizado em Mossoró, junho/2002;
5. Seminário Cultural: Modernidade e Arcaismo nos Sertões do São Francisco , realizado em Piranhas/AL entre 13, 14 e 15 de Novembro de 2002, compondo a comitiva da SBEC, a convite da Prefeitura Municipal de Piranhas/AL;
6. Missa do Cangaço no sitio Passagem das Pedras, Serra Talhada/PE de 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002 a 2003;
7. Participação de Recital de Poesias em Garanhuns/PE, Circuito do Frio - 2003, a convite do site RASCUNHOS e FUNDARPE.
8. Participação de Recital de Poesias no Espaço Pasárgada, casa de Manoel Bandeira, como participante do site RASCUNHOS a convite do jornalista Valdir Coutinho.

Publicações na Internet

1. Site próprio: www.paulodunga.hpg.com.br (Lampião e o Cangaço);
2. Poesias Publicadas no site: www.rascunhos.com.br;
3. Cordel Publicado no site: www.cabrasdapeste.hpg.com.br;
4. Artigos Publicados no site: www.historiatual.com.br;
5. Poesias Publicadas no site: www.povaoecia.hpg.com.br

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Olá, Sou bisneta de Luiz Gonzaga Ferraz, morto pelo bando de lampião na cidade de Belmonte. Gostaria muito de saber mais informações da história da minha familia. Meu e-mail para contato é daisy_a_santos@hotmail.com

8:56 AM  

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